Enterprise Architecture: Capacidades & Processos de Negócio

Marcelo M. Gonçalves
6 min readApr 24, 2024

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Enquanto disciplina de EA(“Enterprise Architecture”), as capacidades de negócio resumem-se em descrever o que o que negócio faz para gerar valor, estabelecendo os critérios para execução de uma estratégia. A definição de capacidade restringe-se em ser agnóstica aos detalhes de sua implementação, sendo compostas por pessoas, processos e ativos físicos / TI que quando combinados comprometem-se em garantir que as necessidades de negócio sejam atendidas. Em determinada dimensão, as capacidades diferem-se das habilidades estando a última contida em uma capacidade podendo ser caracterizada pela execução individual de determinada atividade. Durante sua execução, as capacidades de negócio podem agrupar diversas habilidades, necessárias para completarmos os processos de negócio (“business process”) pertencentes a uma transação de negócio (“business transaction”).

Enquanto as capacidades de negócio preocupam-se em estabelecer “o que” em termos gerais, os processos de negócio respondem o “como” concentrando-se nos detalhes sob a ótica de uma missão e visão organizacional.

Coletivamente, as capacidades de negócio devem entregar um mapeamento em alto nível respeitando um conjunto de abstrações relacionadas ao negócio, alinhando a estratégia da empresa ao considerar recursos de TI. Na prática, as capacidades são consideradas competências executadas pelo negócio definidas como visão abstrata do sistema com o propósito de ajudar a entender seus objetivos, as formas em como entregam valor e endereçam os principais desafios durante seu fluxo de execução.

As necessidades de negócio resumem-se em ideias genéricas endereçando problemas existentes sob a forma de requisitos. Em sua maioria, os requisitos de negócio nunca estão completos ou suficientemente claros durante sua implementação, implicando em débitos técnicos e não cumprimento dos prazos estabelecidos. Em todos os casos, necessitando em maior ou menor grau do envolvimento da TI para efetivamente adicionar melhorias de maneira a materializar as necessidades em uma sequência lógica de atividades funcionais concretas.

Uma capacidade de negócio representa um serviço conceitual/abstrato capaz de agrupar processos e pessoas, suportados pelas aplicações/tecnologia, durante a execução dos requisitos de negócio.

Capacidades de Negócio: Definição e Mapeamento

Soluções corporativas (“enterprise”) são desenhadas de forma a integrar as diversas faces de um negócio através da troca de informações entre processos, áreas e respectivas fontes de dados, habilitando o consumo e disseminação de informações operacionalmente úteis para as tomadas de decisão estratégicas. Uma capacidade de negócio possui níveis hierárquicos, pertencem ao mapeamento mais genérico e responsabiliza-se em guiar a execução dos processos de negócio de forma a assegurar que determinada estratégia encontra-se alinhada a algum direcionamento executivo.

Na prática, uma capacidade deve cumprir uma missão relacionada a alguma estratégia. Neste caso, o mapa das capacidades de negócio refere-se à maneira mais fácil de assegurarmos os entendimentos das prioridades da diretoria executiva, refletindo suas necessidades consistentemente e estruturando sua execução de forma fidedigna a determinado propósito.

Capacidades devem respeitar o princípio MECE, sendo mutuamente exclusivas (“no overlaps”) e coletivamente exaustivas (“no gaps”).

A definição e ciclo de vida das capacidades de negócio são de responsabilidade do negócio. Ao estabelecermos um design centrado na arquitetura corporativa (“EA”) sendo composta pela estrutura corporativa, a governança, processos de negócio e informações relevantes, estamos representando um elo entre a TI e a estratégia responsabilizando-se em estabelecer uma linguagem comum como forma de operacionalizar a estratégia de negócio e consequentemente prover um contexto para a execução da tecnologia.

Interativamente, como forma de adicionar maior qualidade ao mapeamento das capacidades de negócio (“business capability map”), durante o seu processo de criação, atualização ou evolução, o arquiteto corporativo deve ser envolvido desde as fases iniciais de descoberta juntamente com o negócio. A depender da importância do mapeamento das capacidades durante sua entrega de valor, existe a possibilidade pela organização horizontal dos times de produtos centrados nas capacidades de negócio. Adicionalmente, a criticidade destas capacidades refletem sua relevância no contexto de negócio, paralelamente alinhados aos objetivos e articuladas pela área de EA.

Business: Capacidade vs Processos

De maneira a esclarecer o relacionamento entre capacidade e processos de negócio: “processos habilitam capacidades”. Ao observarmos os resultados finais esperados e proposição de valor ao negócio, estamos nos referindo a uma capacidade. Processos são desenhados para suportar uma capacidade, podendo envolver pessoas, tecnologia, dados entre outros recursos. Enquanto isso, capacidades de negócio provêm habilidades necessárias para a execução dos processos.

Se comparadas aos processos de negócio, as capacidades são abrangentes e concentram-se no escopo conceitual referindo-se ao “que” deve ser feito em resposta a uma estratégia definida, gerando valor ao negócio sem explicar “como”. Capacidades podem ser agrupadas tanto por categorias quanto por níveis (tipicamente não maiores do que três).

Na prática, processos de negócio descrevem uma sequência de passos, envolvendo stakeholders, informações relevantes e tecnologia para cumprir um “comportamento” (função/funcionalidade/requisito) em determinado escopo. A excelência para a entrega de resultado nesse tipo de implementação dependerá da qualidade de padronização, integração/orquestração estabelecida na base de suporte às capacidades.

Processos são dinâmicos, continuamente evoluindo e sofrendo mudanças. Diferente das capacidades, sendo estáveis e raramente sofrendo alterações.

Processos são executados incluindo papéis, tarefas (manuais ou automáticas), gateways e eventos de início e fim, podendo tanto ser “short” quanto ”long-running” a partir das transações de negócio. Alguns processos são automatizados, de forma a facilitar as tomadas de decisão e eficiência no fluxo de entrega de valor. Acompanhado do mapeamento das capacidades, os processos entregam um entendimento maduro do negócio durante a execução dos objetivos.

Planejamento Baseado em Capacidades

Capacidades ajudarão a olharmos o negócio de maneira agnóstica, identificando os pontos fortes e fracos em relação a uma estratégia. A importância das capacidades de negócio são reforçadas através da sua participação no catálogo de elaboração das composable business applications, chamados PBCs (“packaged business capabilities”), os quais guiam a composição de aplicações combináveis. Capacidades de negocio contribuiem durante a identificação das necessidades dos clientes, em busca de melhorias, maturidade e progresso servindo como estrutura para composição de mapas de calor (“head mapping”).

Embora existam capacidades intangíveis, genericamente vagos e abertas a interpretação, as capacidades de negócio tangíveis devem ser adotadas, referindo-se ao que podemos ter maior visibilidade prática. Precisamos focar nas capacidades tangíveis, podendo seguramente afirmar que mesmo estando articuladas em torno de altos níveis de abstração, a depender das intenções e significados propostos pelo negócio, referem-se ao caminho mais curto para a obtenção de resultados em todas as direções.

Convencionalmente, para evitar conflito com outros objetos de negócio (“functions”, “process”), a nomenclatura das capacidades de negócio deve ser composta por <verbo>+<substantivo>, ex: Planejar Estratégia, Pagar Funcionário, Gerenciar Entregas.

Identificar capacidades e seus mapeamentos corretos nem sempre será fácil, as capacidades podem ser distribuídas em possíveis categorias como “strategic”, “core”, “support”, formando um modelo pertencente a um contexto de estrutura organizacional hierárquico sob a qual as capacidades de negócio estabelecem-se. Adicionalmente, os fluxos de valor (“value streams”) contextualizam capacidades de negócio em uma perspectiva mais focada em uma da cadeia de valor na visão do cliente. O conceito ajuda a entendermos sob a ótica da disciplina de EA, os estágios progressivamente combinados associados às capacidades de negócio, estabelecendo um conjunto estável de critérios estratégicos em torno das tomadas de decisão.

Considerações Finais

As empresas esforçam-se para responder os três questionamentos principais relacionados a sua razão de ser e formato ao qual operam: “porquê” — estratégia, “o que” — capacidades de negócio, “como” — processos de negócio. Em grandes organizações, como forma de evitar o “gap” entre o entendimento e execução estratégica, o papel do arquiteto corporativo (“enterprise architecture”) inclui exercitar a descoberta e mapeamento das capacidades de negócio, fazendo as perguntas certas de forma a adquirir visibilidade sobre o impacto das suas ações durante o desempacotamento da “business strategy” em artefatos de TI.

Algumas decisões aparentemente mais técnicas podem ser tomadas pelo negócio indiretamente quando explicadas da maneira adequada, deixando evidente os reflexos dos requisitos transacionais e não funcionais ao longo das capacidades de negócio. Em outras palavras, os impactos dos trade-offs referentes ao teorema CAP, onde optamos pela “consistência vs alta disponibilidade” em um e-commerce, pode ser facilmente percebido pelo negócio quando substituímos o termo técnico em favor daperda/indisponibilidade da capacidade de venda”, fornecendo-lhes visibilidade necessária para tomadas de decisão mais sólidas.

Estratégia e execução nem sempre estão alinhadas, neste contexto nos referimos a importância do mapeamento tanto das capacidades quanto processos de negócio, evitando colisões e armadilhas durante o percurso de execução.

Uma visão “holística” proporcionada pelo mapeamento das capacidades de negócio revelam os impactos e oportunidades de forma aparente, proporcionando percepções entre movimentos das áreas de Engenharia e times de produto. Adicionalmente, o alinhamento dos times as capacidades de negócio, a considerar times “stream aligned”, “complicated-subsystem” ou “enabling” a partir do Team Topologies poderá beneficiar-se do “fluxo de valor” durante as fases de design estratégico do software. Finalmente, capacidades de negócio bem estabelecidas podem reduzir custos, reduzir riscos operacionais e consequentemente habilitar o crescimento da organização em muitas direções.

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