AMIRI — Os 4 anos da Mixtape “Antes, Depois” e suas curiosidades

Marcílio Gabriel
6 min readJan 31, 2018

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Contra capa da Mixtape “Antes, Depois” — Foto/Arte: Marcos Eiras

Uma postagem no Instagram do DJ Ander Som me lembrou que hoje, 31 de janeiro, a mixtape Antes, Depois do Amiri completou 4 anos. Lançada em 2014, é o terceiro trampo fechado do Amiri e o último em que trabalhei como produtor executivo de sua carreira, antes participei da execução e concepção do Êta Porra e do TRINCA. Em termos de produção foi um dos trabalhos mais malucos e gratificantes que já participei em toda minha, até aqui, carreira na música. Vou escrever algumas curiosidades sobre essa mixtape…

— A ideia foi de reunir sons e remixes antigos e atuais do Amiri que não estavam em qualquer planejamento de lançamento.

— O nome Antes, Depois foi sugestão do Parteum após uma conversa informal sobre qual poderia ser o título da mixtape.

— O Primeiro single foi a Um Mic, lançada no dia do aniversário do Amiri, em Novembro de 2013. Na época eu quem administrava sua página oficial e perfil no Twitter, e recebemos algumas mensagens de uma galera falando que estávamos plagiando o Emicida, que tem um som nessa mesma base, que na na verdade já era de um som do Nas chamado One Mic, do disco Stillmatic.

— A princípio era pra mixtape ser lançada em Dezembro de 2013, mas quando o Amiri levou pro estúdio as musicas antigas — muitas que foram gravadas de forma muito amadora — a gente percebeu que não teriam condições de serem usadas pela diferença da qualidade comparadas com as outras e como seria um trampo todo mixado acabou ficando inviável incluí-las no processo final. Com isso tivemos que adiar o lançamento já anunciado em Dezembro de 2013 para janeiro de 2014 e o Amiri teve um pouco mais de um mês para escrever e produzir novas faixas para substituí-las. Espelho, Eu Saí e Janeiro estão entre elas.

— O remix da faixa A O Que? foi produzida pelo DJ Latif devido ao strike que a original poderia levar. Ela foi lançada no CD “Eta Porra” em cima de uma base do Black Milk e por mais que o trampo fosse independente sabíamos dos riscos que podiam surgir sob a alegação de direitos autorais, pois o CD foi disponibilizado digitalmente.

— O som Ce Lá Faz Ideia foi originalmente lançado na remixtape do DJ Nyack, onde vários MCs foram convidados para reescreverem musicas das duas primeiras mixtapes do Emicida.

— A faixa Dois Pé no Peito era pra ser uma das três faixas do EP TRINCA e tinha participação do Flow MC, mas no processo de fechamento do trampo ela acabou saindo, dando lugar para o som Ladrão Incubado. Mas tempos depois ela estaria presente na Antes, Depois.

Corta Pra Mim foi uma das tracks mais improváveis da mixtape, pois o Amiri e o Léo Supremacya eram viciados nos memes que bombavam na época, por conta disso saiu essa faixa.

— O Léo Supremacya além de ser primo de sangue meu e do Latif, era um dos produtores artísticos do Amiri, criou, tocou e arranjou praticamente todas as musicas do Amiri que continham cordas e nos surpreendeu revelando ser um ótimo MC.

— A faixa Cypher com os manos do Atentado Napalm, saiu sem pretensão alguma de ser uma faixa. Os caras estavam por SP (quando ainda residiam em Goiânia) divulgando seu primeiro trampo e combinaram de trombar o Amiri pra se conhecerem, trocar ideias… mas aí resenha vai, resenha vem e eles começaram a rimar e quando foi ver já estavam gravando aqueles versos. Há quem diga que foi um dos primeiros cyphers do rap nacional nesse formato abrasileirado que vemos em toneladas hoje em dia.

Amiri e Atentado Napalm: Léo Supremacya, Buneco, Gigante, Eko, eu, Amiri e DJ Latif

— O som Rasteira Tradicional do Mussum tem o trecho da música I Love Rock ‘n Roll que ficou famosa e mundialmente conhecida na voz de Joan Jett e sua banda, o The Blackhearts, mas antes ela foi gravada e lançada pela The Arrows e escrita pelo Alan Merrill, vocalista da banda. Num dos rolês da Joan pela Inglaterra ela viu os caras tocando esse som e o regravou, aí o resto da história a gente conhece, sucesso no mundo todo, considerado um dos maiores hits de todos os tempos e por aí vai… A Joan se apresentou no Brasil em 2012, no Lollapalooza e, além de sua exibição, deu uma canja no show do Foo Fighters metendo seu grande hit no meio do show dos caras, eu estava lá e vi essa parada! Também no som da Mixtape rola um trecho dessa versão original no final que migra para faixa seguinte numa brincadeira com a mudança do dial de um rádio.

— Os remixes de Licença Aqui e Insônia foram presentes dos produtores DJ Ander Som, Scott Beats e Gedson Dias, respectivamente. Quando ouvimos esses sons ficamos malucos e decidimos incluir na mixtape.

— O som Rima do Angolano Pt. 2 era uma faixa que seria lançada num EP do Amiri com o Laudz (Tropkillaz), pois é! Eles tinham planos de lançar um trampo nominal juntos e já tinha algumas produções bem avançadas, mas naquele exato momento suas carreiras decolaram, tomaram proporções grandiosas, faltou tempo e o projeto acabou não saindo.

— A Cura foi a track que mais andou na mixtape, a produção é do D.A.C. Já no primeiro trampo que ele fez com o Amiri, no EP TRINCA, a gente já sabia que ele era um MONSTRO!

— A faixa que também leva o título da mixtape, Antes, Depois, é um poema gravado pelo poeta e MC Fabio Boca, campeão brasileiro de Slam em 2011. Fábio Boca já teve um grupo com o Amiri chamado DiQuintal.

— A Mixtape foi toda gravada, mixada e masterizada por mim e pelo DJ Latif no antigo estúdio Preços Populares, que construímos com o intuito de produzir e gerenciar exclusivamente a carreira do Amiri. Hoje ele não existe mais e virou um quarto na minha casa.

— Depois de todo o corre pra lançar a mixtape, ela quase não saiu! No dia em que os discos chegaram da fábrica e faltava muito pouco pra lançar oficialmente, o Amiri nos reuniu pedindo para não lançar e anunciou que iria encerrar sua carreira. No primeiro momento a notícia abalou toda a equipe, mas por outro lado já acompanhávamos algumas das questões pessoais no qual o Amiri passava e no fim acabou não sendo tão supresa a notícia. Mas depois de trocar muita ideia com a gente e principalmente com o Parteum, o Amiri voltou atrás em sua decisão e lançou a mixtape “Antes, Depois”.

Parteum, Amiri e DJ Latif

A mixtape Antes, Depois na nossa cabeça seria o carimbo que nos libertaria para enfim viver de Rap, afinal foi com ela que a operação Amiri começou a atingir parâmetros nacionais em escalas mais altas, levamos o show para muitas cidades do país como Salvador, Feira de Santana, Rio de Janeiro, Fortaleza e dezenas de cidades do Estado de São Paulo, fizemos também TV, rádio, revistas, jornais, sites e tudo quanto foi blog sobre música. Infelizmente a operação teve outro destino, mas nem por isso tirou o brilhantismo e a bela história do que produzimos até o término do trabalho dela a partir do momento em que o trampo era totalmente independente e baseado muito na ideia de que nós enquanto muito jovens tínhamos uma missão e o correr atrás de sonhos era essencial para concretizarmos tudo aquilo que planejamos desde quando nos reunimos para o início desse trabalho. Definitivamente essa mixtape foi bem importante pra mim em diversos caminhos, ela me deu uma casca e uma experiência que não tive nos meus mais de 10 anos trabalhando em rádio comercial e diretamente com diversos artistas do mainstream, essa mixtape me fez enxergar e viver o que realmente era um trabalho com um artista totalmente independente, além de ter me dado a credibilidade suficiente para trabalhar posteriormente com outros artistas do Rap como Parteum, Mzuri Sana e Marcello Gugu.

Como ouvinte não é o meu trampo predileto do Amiri, mas sem duvidas é o mais importante como profissional e eu sou muito grato por ter feito parte dessa história.

Capa da Mixtape “Antes, Depois”

Clique aqui para baixar e ouvir a Mixtape “Antes, Depois”

Entrevista que fiz recentemente com o Amiri no Programa Freestyle:

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Marcílio Gabriel

Jornalista musical, radialista, apresentador, produtor multimídia;