A crise do sistema capitalista e uma solução colaborativa

Poderíamos viver sem os bancos?

Martin Draghi
5 min readApr 12, 2014

Pensando em qual seria o primeiro site de consumo colaborativo que apresentaria aos leitores, tive a preocupação de demonstrar de forma mais tangível como as plataformas digitais que viabilizam a colaboração entre indivíduos vai ter um impacto profundo na forma como o mercado é desenhado atualmente.

Não é novidade para ninguém que o sistema capitalista está em crise (sim, novamente!). Lemos, assistimos e escutamos notícias sobre o colapso do capitalismo todos os dias na internet, mídia corporativa e no rádio. Os problemas enfrentados pela União Europeia quanto a tentativa de manter o bloco unificado e auxiliar países -em especial Grécia, Espanha e Portugal — que se encontram com grandes problemas de deficit em seus orçamentos é uma preocupação exposta diariamente nos meios de comunicação.

Porém, quando estudamos melhor as causas que levam a determinadas crises capitalistas, notamos que sempre existe um intermediário de peso que vem “assaltando” os interesses da população e do bem estar comum em troca de milhões de doláres/euro para que sua posição de destaque e influência continue imperativa. Estou me referindo aos Bancos.

Muitas pessoas que sentiram na pele as falhas do sistema econômico atual também começaram a estudar o por que de tanto desemprego, e o por que enquanto milhares perdiam seus empregos, suas garantias de aposentadoria e acesso a planos de saúde pública, grandes bancos auferiam um crescimento exorbitante, como é o caso do Bank Of America. Não quero me estender nesse tema, mas creio que esses pontos foram o alicerce para o surgimento espontâneo de movimentos como Occupy Wall Street, os Indignados, que certamente nasceram influenciados pelas revoltas da Primavera Árabe.

É importante destacar que os problemas da Zona do Euro e dos EUA estão totalmente ligados com a dificuldade que os governos possuem atualmente de pagar suas dívidas com bancos privados, essa dificuldade nasce prioritariamente pela falta de fiscalização que o sistema financeiro possui , sendo facilmente controlado pelos acionistas e seus interesses. Em grande parte, os pacotes voltados a salvação das economias europeias e norte-americanas em si não trarão nenhum tipo de benefício a população, mas sim trarão um benefício direto e tangível aos bancos. Os governos estão mais preocupados em salvar os bancos, do que optar por uma nova forma de governo que não seja tão dependente dos bancos. Portanto, fica claro que em momentos de fragilidade, os governos são meros intermediários para cumprir as necessidades e interesses do setor privado bancário. É interessante notar que o “novo” primeiro ministro da Grécia Lucas Papademos era ex-vice presidente do Banco Central Europeu (BCE), alguém que certamente possui os conhecimentos para que o interesse dos bancos continue sendo mais importante do que os interesses da população em geral.

Mas, o que o consumo colaborativo tem haver com isso? TUDO!

Já imaginou se tivéssemos o poder de acabar com o banco como um intermediário ditatorial nas nossas relações e transações financeiras? Não seria sensacional? Essa plataforma digital já existe e se chama ZOPA.

O Zopa nasceu da surpreendente ideia de que usuários de internet poderiam através de suas interações minar os bancos como intermediários de disponibilização de crédito e empréstimos e criar entre eles mesmos transações financeiras que fossem viáveis e seguras. A equipe do Zopa através de pesquisas percebeu que a grande maioria dos usuários via os bancos como um “mal-necessário”. De acordo com James Alexander, um dos fundadores do Zopa

“As “pessoas normais” com bons empregos e históricos de créditos decentes estavam descrevendo o ato de entrar em um banco da mesma maneira que entrar em uma loja de sapatos, pedir um par de sapatos masculinos de couro preto, tamanho 42 e ser orientado a voltar em três semanas para lhe ser entregue um par de sapatos femininos de veludo vermelho, tamanho 40, pelo dobro do preço”

O ponto crucial no pensamento da criação do Zopa era que se as empresas não precisam tomar emprestado de bancos, mas podem ir a um mercado (o mercado de títulos), por que os consumidores não podem fazer o mesmo?

Para quem ainda está incrédulo quanto a essa possibilidade lá vão alguns dados interessantíssimos e o mecanismo de uso do site.

Os processos do ZOPA são semelhantes a um leilão no qual o credor que estiver disposto a fornecer a menor taxa de juros ganhará o empréstimo do devedor. Nas palavras dos fundadores “Percebemos que o apelo por trás dessa ideia era que, ao eliminar os bancos tradicionais e evitar os intermediários, poderíamos dar as pessoas um melhor retorno para seu dinheiro, mesmo que cobrassem uma comissão pequena, digamos 1% para promover o “encontro” do empréstimo.

Incrivelmente, com esse tipo de processo a taxa de inadimplência do Zopa é baixa, aproximadamente 0,65%. Esse percentual se torna interessantíssimo quando o comparamos com a taxa de inadimplência em relação aos cartões de crédito, em meados de 2009, foi mais de 10%.

O consumo colaborativo vai mudar todas as dinâmicas de mercado e trará de volta o poder ao consumidor. As mega corporações que agem atualmente com total descontrole e sem fiscalização terão que se acostumar com o apoderamento do usuário sobre as práticas de mercado e certamente iniciarão um mudança visando melhor adequar-se a essa nova economia de colaboração.

Para terminar este extenso post, deixa a vocês uma ideia de como pode ser o futuro daqui a alguns anos.

Pensem em como a Internet está nos libertando de certos mercados que abusam de sua autoridade e influência sobre nossas práticas de consumo.

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Até a próxima!

Por Martin Draghi

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