Qual a sua crença?

Mariana Staudt
O Centro
Published in
3 min readOct 16, 2017

Mais do que fé religiosa, crença pode ser uma convicção profunda, uma verdade. Crer que o céu é azul, que você vai conseguir chegar no horário ou que seu time será campeão.

Procurando os significados da palavra, encontrei: disposição subjetiva a considerar algo certo ou verdadeiro, por força do hábito ou das impressões sensíveis. E isso me fez refletir que talvez, por força do hábito, muitos apontam o dedo para julgar outros por pura mania.

Nós (leia-se como sociedade em geral, não que expresse a minha opinião ou a da maioria — espero — que está lendo este texto) cremos que mulher gostosa é burra, que homem que não gosta de futebol é gay, que se ela estava bêbada pediu para aquilo acontecer, que estar triste é frescura, que menina usa rosa, que menino brinca de bola. E que tudo diferente disso tá errado. Não merece o céu.

Crenças essas, muitas vezes justificadas por alguma religião, que estão muito longe do que acredito que o Ser Superior — seja ele quem/o que for — desejou para nós aqui na Terra.

Existem crenças mais fortes que Deus.

No Dia das Crianças, a Omo se envolveu em uma polêmica com a campanha que promove um “recall” de todas as brincadeiras que reforcem clichês sobre gêneros. Diferente do que normalmente acontece, não era uma produção preconceituosa com meninas vestidas de princesa e meninos sendo os chefes do lar. Pelo contrário, a mensagem dizia o seguinte: “Toda criança tem o direito de se sujar e se divertir livremente, sem cores, regras ou padrões”. E qual a minha surpresa? Uma enxurrada de comentários revoltadíssimos, sendo que o número de dislikes ultrapassou o de likes. No momento em que este texto era escrito, estava 238 mil contra 46 mil.

Além de vários comentários insultando a marca, de clientes que nunca mais comprariam o dito sabão em pó e que se sentiram ofendidos –oi?–, o que mais me incomoda são as mensagem que citam personagens religiosos.

“Vão perder muito em nome de Jesus que não gosta de ser contrariado na sua palavra”.

Que crença é essa em que o menino que brincar de cozinha vai para o inferno? Que ofensas são aceitas por Deus? Que promover o ódio é bonito? Que vingança e desejar o mal do inimigo são o caminho para a salvação? Onde estão esses ensinamentos sagrados?

Voltando ao conceito da palavra crença, ela pode significar fé em termos religiosos ou uma convicção. O problema começa quando essas coisas se confundem. Quando a crença popular se mistura com o que tal religião prega. Quando se usa a palavra de um deus para justificar um julgamento próprio.

“Mantenha a mão estendida diante de você e aponte para alguém. Perceba que tem um dedo apontando para a outra pessoa e três apontando para trás, na sua direção. Isso serve para nos lembrar de que, quando estivermos culpando alguém, estamos apenas negando um aspecto de nós mesmos”. Debbie Ford, O Lado Sombrio dos Buscadores de Luz

Apesar de tudo isso, a minha crença é em um mundo com pessoas menos intolerantes, que desejam o bem uns aos outros e que, antes de apontar o dedo por aí, param para refletir um pouco mais nas próprias vidas.

--

--

Mariana Staudt
O Centro

@mari_staudt | Jornalista que trabalha com marketing digital. Ariana que acredita em um mundo melhor.