Todos os dias, me apaixono platonicamente por pessoas que eu vejo na rua. Hoje já me apaixonei por um senhor, de óculos e bigode, que tinha um porta-óculos preso ao cinto, numa calça de cintura muito alta, como só se usava antigamente. Ontem me apaixonei pelo gringo que, entre as poucas palavras que sabe de português, aprendeu a dizer “serviço ótimo” para os atendentes do café. Agora estou apaixonada pelo rapaz de pele perfeitamente negra que leva uma aliança perfeitamente prateada na mão e que fala sobre uma foto que fará com um amigo. Provavelmente, não falarei com eles e nunca mais verei os objetos desse meu amor. Mas a presença dessas pessoas, o que de simplesmente humano tem em cada um, me alimenta e faz com que seja mais bonito o dia em que, em algum momento, cruzei por elas.