O que é o amor?

Marilia Botton Lins
3 min readJun 18, 2018

--

Foto de Tati Wexsler

O que é o amor? Querer que os outros sejam felizes. O que é compaixão? Querer ajudar de alguma forma para aliviar o sofrimento dos outros.

Estas foram as respostas mais simples, claras e precisas que já recebi ao longo desta caminhada por esta vida humana. Num final de semana pós dia de Santo Antônio, muitas chaves chegam para abrir lugares apertados dentro de minha consciência limitada, ferida e doída.

Vivemos num mundo onde se relacionar afetivamente e verdadeiramente chegar nas profundezas em que olhamos a sombra do outro e a nossa própria de forma cada vez mais nua, cada vez mais escura, cada vez mais desafiadora. Nos encontramos com a “fera” do outro, com aqueles lugares onde o próprio parceiro ou parceira nunca chegariam se não fosse (in)conveniente presença da outra parte, de quem pouco conseguimos esconder. Até mesmo quando queremos esconder, e acreditamos que conseguimos, as consequências para esta corajosa arte do relacionar são desastrosas. Impedimos o fluxo da energia da verdade. Impedimos que a consciência viva do relacionamento seja tão clara quanto a soma das consciências individuais. E isso faz com que o sistema comece a ficar disfuncional. Recebendo menos energia do que precisa, para que flua forte, vibrante, vivo. Assim que algum riozinho de verdade volta a fluir, e um novo veio de comunicação sincera se re-estabelece, é notável a força de vida, de amor e de entrega que volta a pulsar no sistema.

Para isso acontecer, é necessário que interrompamos com nossa necessidade de sermos sempre as “vítimas” dos acontecimentos do dia a dia na convivência. “É claro que eu sou a vítima aqui! É claro que eu é quem estou ferida aqui, olha o que você fez e falou (ou não fez e não falou). É claro que o outro é quem está na posição daquele que não consegue ver a minha dor.” Só que o outro é um espelho. Ele também sente que sua própria dor não é percebida. E como é difícil verdadeiramente ver a dor do outro, quando nossa mente e nossas emoções estão tão absorvidas em nossa própria dor! Quando olho pra você e consigo abandonar as minhas roupas e os meus olhos e entrar na sua sensação, consigo sentir como dói a sua dor. Consigo por um instante respirar além das prisões do meu eu vitimizado, e sem me culpabilizar ou me tornar o carrasco, sentir como é o seu sofrer.

Neste momento quero fazer o que de melhor consiga fazer para te fazer feliz. Isso não significa te dar algo que não quero te dar, mas talvez o faça porque sei que é isso que você quer receber. Isso não significa que tentarei mais uma vez te agradar na desesperada tentativa de receber amor. Entendi que amor é doação incondicional na direção da alegria do outro, e isso eu apenas posso oferecer e não esperar receber. Então te ofereço o meu melhor. Às vezes pode ser o silêncio, às vezes uma palavra de corajosa verdade. Às vezes o simples desejo de que sejas verdadeiramente feliz.

Escolho abandonar o papel da vítima que tem tantas expectativas e medos, e assim desintegro também o papel do carrasco em minha vida. Deste lugar, te vejo além deste véu ilusório. Te vejo um ser humano irmão, que sofre, que deseja ardentemente ser feliz. Vamos juntos. Sem amarras ou polaridades, apenas fluxos individualizados da mesma corrente do amor evolucionário em manifestação rumo à melhor possibilidade Iluminada, Sagrada e Una.

Em gratidão à Santo Antônio, Exu, Gay Hendriks e à Lama Tsering e Odsal Ling.

--

--