Desilusão em Gotham: A Queda de Coringa: Delírio a Dois
Escrever uma crítica de Coringa: Delírio a Dois é uma tarefa delicada para mim, especialmente porque o primeiro longa foi o tema central do meu TCC, uma obra que trouxe uma profundidade brutal e uma crueza singular sobre a psique humana. No entanto, ao assistir a essa sequência, a decepção foi inevitável.
Em Coringa: Delírio a Dois, a história continua após os eventos do primeiro filme, com Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) preso no Asilo Arkham, em consequência dos seus atos no primeiro longa. Lá conhece a misteriosa Lee, que se refugia no codinome de Harley Quinn (Lady Gaga), explorando o crescente vínculo entre os dois, Arthur a arrasta para sua caótica visão de mundo (ou seria o contrário?). Misturando delírio, musical e romance, o filme tenta explorar a loucura compartilhada, mas perde-se em sua tentativa de inovar.
Mas nem tudo é um desastre total, a começar por Joaquin Phoenix, que continua sendo o ponto alto da produção. Sua performance é, como sempre, perturbadora e visceral. Ele entrega uma atuação tão potente quanto no primeiro filme, consolidando ainda mais sua habilidade de mergulhar nos abismos emocionais do personagem. A fotografia também merece elogios: a paleta de cores sombria e os enquadramentos claustrofóbicos são marcantes e dão o tom adequado de uma Gotham sufocante, agora mais intimistas entre as paredes de um manicômio. A direção, embora competente, parece por vezes contida, como se tentasse forçar uma nova abordagem para algo que já estava bem resolvido no primeiro filme.
A introdução da personagem de Lady Gaga como uma versão de Harley Quinn trouxe uma expectativa que não foi correspondida. Gaga, talentosa em outras ocasiões, parece perdida aqui. Sua atuação, embora dedicada, não traz a profundidade emocional necessária para um papel tão simbólico. A personagem em si parece mal escrita, sem camadas ou motivação clara, tornando-se uma presença desajeitada ao lado de um Coringa tão complexo. É difícil sentir a química que deveria existir entre os dois personagens, algo que era essencial para a narrativa funcionar.
Outra questão que me incomodou foi a narrativa. Enquanto o primeiro filme era uma reflexão sombria sobre a alienação e a saúde mental, Delírio a Dois parece perdido em sua tentativa de ser musical e psicológico ao mesmo tempo. As cenas musicais, que poderiam ter sido um diferencial interessante, acabam desconectadas da narrativa central, sem impacto real na progressão da história.
No final, Coringa: Delírio a Dois é uma experiência irregular. Se por um lado, ele mantém certos elementos visuais e a atuação brilhante de Phoenix, por outro, se perde em uma tentativa de recriar a magia do primeiro filme com uma narrativa dispersa e personagens mal explorados. Saí do cinema com a sensação de que o impacto do primeiro filme foi diluído em uma continuação que não soube manter o equilíbrio entre inovação e coerência.