Apple Developer Academy — Uma experiencia para a vida

Mateus Pelanda
10 min readDec 14, 2018

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Me lembro bem de quando soube do resultado. Após uma prova, uma hackathon de 2 dias e uma entrevista, recebo o email de que fui selecionado para entrar no Bepid (nome da Apple Developer Academy na época). Fiquei de queixo aberto e fiquei muito contente com a notícia, não entendia bem o que era, o que eu iria fazer e nem como funcionava, mas ainda assim, pelo o que um amigo meu havia me contado, valia muito a pena fazer -Valeus de verdade Edut ❤.

Um tempo passa e chega o primeiro dia (Março de 2017), uma introdução ao que ocorreria ao decorrer dos próximos 2 anos (relatos de ex-alunos, alguns projetos que foram realizados, que teriamos palestrras com pessoas excepcionais, demonstraram a estrutura e vários outros etc). A forma de ensino e a de produção de conteúdos, podem ser comparados com a Bauhaus. Esta escola (um dos maiores marcos do design) funcionava como um ateliê, onde os alunos criavam projetos multidisciplinares unindo arte e tecnologia para a elaboração de novos produtos e construções arquitetônicas, a diferença é que dentro da Academy são elaborados softwares e aplicativos para IOs, com base no CBL (Challenge Based Learning).

Eu e alguns colegas/amigos saímos do prédio e ninguém conseguia acreditar, a sensação era de realidade plena e absoluta, nunca nada de tão incrível havia acontecido a nenhum de nós. Não parávamos de rir, sorrir, nos abraçar e o que mais dizíamos era: "ISSO SÓ PODE SER MENTIRA, NÃO É POSSÍVEL, F*D* DEMAIS!!!", "MEUUUUU DEUUSSSSS, ENTRAMOS EM HOGWARTS", "P*T* QUE PARIU, EU NÃO CONSIGO ACREDITARRRR" e mais uns 500 palavrões diferentes e descrença em quão absurdo termos conseguido tal oportunidade.

Seguindo esta primeira semana começamos a aprender e praticar o CBL (Challenge Based Learning), que consiste nas etapas de Engage (Big Idea, Essensial Question e Challenge), Investigate (Guilding Questions, Guilding Activities/Resources e Analysis) e por fim Act (Solution, Implementation e Evauation). Como exercício, elaboramos uma empresa fictícia qual realizava trabalhos sociais, através dos recursos "parados" de empresas, em troca de imagem e valor de responsabilidade social, além de redução de impostos (Prometheus Solutions).

Resultado de imagem para cbl challenge based learning
Processo Iterativo do Challenge Based Learning
Picth de vendo do Prometheus Solutions

Nas semanas seguintes começamos a realizar algumas atividades relacionadas a linguagem Swift, (algumas funções básicas, lógica e outros comandos), sendo estes seguidos de aulas relacionadas a codificação criativa (explorar códigos com recortes de outros códigos, fractais, arte generativa e etc) e em seguida fomos introduzidos ao Spritekit, UIkit, AVFoundation e algumas outras bibliotecas básicas de swift. Também tivemos uma palestra com a Rebecca Stockley, sobre criatividade e processos de criação co-criativa.

A partir disso, começamos o nosso primeiro miniChallenge -um aplicativo interativo, realizado em Swift Playgrounds para aplicar no concurso internacional para um Scholarship para a conferencia WWDC 2017. Dediquei várias horas e dias no meu projeto, fui o desenvolvendo aos poucos e não possuía um objetivo claro de o que ele seria no final das contas, fiz várias colagens de fragmentos de códigos, aprendi novas funções, utilizei física, particulas, tentei com imagens e sons, mas somente sei que somente a partir da metade descobri a forma dele. Como meu "primeiro filho", dei o nome de "JazzLame", um aplicativo de arte generativa que serve para fazer desenhos com aspecto tridimensional, com a criação de partículas direcionadas para lados opostos, com tons de preto e verde (dando aspectos de antigos monitores da IBM) e trazendo um som simulado de bateria feito com a boca, com introdução de uma voz sintetizada que diz: "Let's jazz a Little - vamos fazer um pouco de jazz." Quando terminado o desenho, o usuário aperta um botão (erase and play), qual faz correr uma barra na vertical, apagando o desenho e emitindo um som tosco, trazendo comédia, através da aparição do inesperado.

Teste de usabilidade do aplicativo JazzLame

Enviei no dia 1 de abril, ultimo dia para aplicação no concurso e quando mostrei para minha mãe, ela me respondeu: "Esse negócio é horrível, não sei como teve corajem de enviar essa merda."

Após este challenge, trabalhamos com algumas ferramentas de design (diagrama sequencial, rede-de-valor, rabisco-frame, wire-frame, wire-flow, fluxograma de interação e com protótipos funcionais), além de sermos introduzidos a outras funcionalidades para o swift (TableView, MVC e entre outras), desenvolvendo alguns microprojetinhos para entendermos como utilizar tais ensinamentos, além de termos realizado várias dinâmicas, feito aprendizados em pares e vários etc (além de eu ter descoberto que havia entrado como devigner, não como designer, o que eu achava até então).

No dia 21 de Abril, um dia antes do meu aniversário, sai o tão aguardado resultado do concurso e… TAN TAN TAN TAN... PASSSEIIII. Como se já não estivesse sendo incrível participar do programa que eu estava, mais uma oportunidade incrível \o/. Então começou uma correria infinita atras do passaporte (Policia Federal aqui em Curitiba) e visto (preencher um monte de formulários e ter uma aventura em SP — Tive que acabar passando 3 dias por lá, aproveitei e fui em museus e conheci melhor a cidade), qual me fez perder algumas aulas, mas que da mesma forma valeu muito a pena.

Morar Longe- Foto tirada e editada em visita ao MASP

Enquanto fazia toda essa correria, começa o segundo mini-challenge, elaboração de um aplicativo iOS, sem nenhum tipo de limitação (além do tempo). Formamos várias equipes e na minha estávamos eu, Adonay, Stocco e Sales, qual elaboramos um jogo (composto de vários mini-jogos casuais) sobre exposição e segurança na internet, a fim de conscientizar as pessoas a respeito do tema, sendo este nomeado de "Exposed.inc". Enquanto isso, também tivemos uma palestras sobre como criar excelentes apresentações, com o Bill Rankin, tivemos dojos sobre Singleton e tableview, uma aula introdutória sobre SketchApp, workshops de constrains e autolayout, orientação a objetos, design crit do app e mais alguns conteúdos sobre Pode, Git e firebase.

Trailer demonstrativo do jogo Exposed.inc

Próximo ao final do challenge, eu e outros colegas que também passaram no concurso, fomos ao WWDC. Assisti MUITAS palestras (o máximo que consegui assistir), aprendi muito sobre os lançamentos das novas tecnologias para desenvolvimento de iOS da Apple na época, conheci várias pessoas (estudantes e trabalhadores) do mundo todo, pessoal de outras Apple Developer Academy, tivemos acesso a vários programadores e designers da Apple, Happy hours, enfim um mundo inteiro novo.

Sem contar a relação cultural (nunca havia nem pisado nos USA antes), pois tivemos contato com diversas pessoas e lugares, além do evento. Visitamos a Golden Gate, a Lombard street, algumas hamburguerias, fomos a alguns Shoppings e Malls, conhecemos alguns bares, algumas praças, visitei com o Fred a Mansão Winchester, a casa da Hillary, a praia (a água é menos salgada) e quando estávamos voltando para o Brasil, fizemos escala no aeroporto de New Jersey (por umas 8 horas), então conseguimos conhecer um pouco da ilha de Manhattan (SP com vários leds e placas luminosas).

Voltando para o Brasil, fizemos a entrega do nosso aplicativo (após algumas alterações feitas a partir dos testes de usabilidade que executamos) e seguimos para alguns estudos de processos de design, métodos de pesquisa etnográfica, observação expansiva e por fim nossas "férias", onde teriamos que fazer um estudo etnográfico de oportunidades inovação para a Apple TV.

Quando voltamos, apresentamos os resultados das pesquisas e elaboramos/estudamos como criar aplicativos para a Apple TV, conteúdo do nosso terceiro miniChallenge, elaborar um aplicativo inovador para esta plataforma. As equipes foram escolhidas pelos professores, na qual reuniu a mim, Bruno, Fabiana e André como grupo. Após muita discussão, CLB e muita pesquisa, elaboramos o "LookApp", aplicativo de paquera, mobile e para Apple TV, que é uma modernização do correio elegante, onde se escreve uma mensagem anônima no celular e envia para a tv, disponibilizada de maneira pública, a fim de paquerar, fazer algum convite ou enunciar algo que todos no ambiênte possam ver.

LookApp (Versão Mobile)
LookApp (Versão Apple TV)

Após a entrega do miniChallenge, começamos a ter várias aulas, palestras e workshops sobre Game Design, com a elaboração de personagens, level design, balance, mecânicas, tilastes, pixel art, playtests, programação e entre outros assuntos relacionados a este âmbito. Então damos início ao quarto minichallenge, elaborar um jogo. Novamente a equipe foi escolhida pelos nossos professores e nesse caso, a minha equipe se constituia por mim, Rafael(Ursinho), Caio e Sávio. Escolhemos trabalhar como tema principal a dualidade de julgamentos entre o certo e o errado (questões éticas e morais), criando o jogo WuGu (Bem e mal em cantones), história de um filhote de panda que se perde da mãe e se aventura pelo mundo, libertando vários animais e ficando amigo deles. Já a mãe, sai desesperada atrás do filhote, matando e destruindo as coisas e criaturas a sua volta. O jogo é no estilo plataforma, sendo jogado com duas personagens que se revesam durante as fases, sendo baseado em puzzles e em "destruir" outras personagens e cenários do jogo. Com a entrega deste Challenge, se encerrou o ano de 2017 na academy.

Jogo Wu Gu

Começando 2018, entra também uma nova proposta, além das aulas, workshops e palestras, teriamos que entregar um aplicativo por semana, sempre explorando determinadas features de programação e de design, sendo realizados conforme determinado tema. Estes foram denominados de "nanoChallenges" e aqui estão os que eu desenvolvi:

NanoChallenge 1 — Apresente-se:

Elaborei um um aplicativo que contava um pouco da minha história, o que eu faço, meu currículo e meu portfólio, não foquei muito na parte de design, mas sim em "codar" um aplicativo funcional. Utilizei componentes básicos, reaproveitamento de views, constrains, princípios de MVC, OOP e ARkit.

Aplicativo Um pouco sobre mim

NanoChallenge 2 — Conte uma história:

Neste aplicativo, fiz uma história de relato pessoal, qual utilizei da linguagem poética do movimento concretista, com elementos de audiovisual para dar mais dramaticidade. Utilizei muito de UIAnimations com o UIkit, Pitchgestures, nav. controller, tabBar, UIViews, e transições.

Uma história verborrágica

NanoChallenge 3 — Ajude a realizar seus sonhos:

Como um dos meus sonhos é de viajar e conhecer o mundo, elaborei um aplicativo para que pessoas possam trabalhar, realizar qualquer tipo de serviço em qualquer lugar do mundo, agendando a ida ao lugar. O sistema de pagamento é através de moedas do próprio aplicativo. Não foquei nem um pouco na interface e nem na interação em sí, mas procurei fazer um fluxo que funcionasse bem, que fosse funcional a parte de programação (até no backending qual fiz em firebase), utilizando muito de tableView, scrollViews e collectionViews.

Aplicativo Viajando a trabalho

NanoChallenge 4 — Mude sua vizinhança:

Fiz um aplicativo que intitulei de "CoolSpoted", qual serve para trocar menssagens com pessoas pela localização, idealizado para dar opinião a respeito de determinado lugar, paquerar, dividir compras com pessoas no lugar e pedir ajuda. Utilizei para o backend o firebase, utilizei a API do Google Maps e barra de busca de lugares (também API da google), pensei muito na interação animação, escolha das cores, ícone e em interações dentro do app.

Aplicativo CoolSpoted

NanoChallenge 5 — Mudar a forma como enxergamos o mundo:

Este eu fui longe... Criei um player sinestésico, no qual a pessoa "entra" em um album de música. Comecei criando um aplicativo VR e AR, que funciona somente através de uma interface de voz, utilizando o ARkit, AVFoundation e entre outras funcionalidades, também criei alguns modelos 3d para estarem no ambiente e personalizei um filtro com aspecto de glitch.

Aplicativo SinestheticPlayer

NanoChallenge 6 — Mudança de hábitos utilizando o AppleWatch:

Este foi o único dos nanochallenge que não programei, mas criei um jogo, qual a pessoa recebe determinada tarefa (um desafio) que precisa executar em determinado tempo para "estar no topo" e assim poder vencer seus amigos.

Aplicativo FastChallenge

Após o termino dos nanochallenges, realizamos outro challenge, criar um aplicativo para o WWDC 2018. Recriei o aplicativo da história que havia criado no segundo nanoChallenge, mas o traduzi, elaborei a trilha sonora, dublei, apliquei cores e adicionei o estilo de filmes Noir, dei o nome de "concreteday" e o importei para PlaygroundBook. Não obtive sucesso desta vez, em conseguir o ingresso para o congresso, mas com certeza, tive muito orgulho do resultado :)

PlaygoundBook ConcreteDay

Então aqui começo o tão aguardado MainChallenge (o projeto final que durou meses). Formamos uma equipe: eu, Adonay, Daniel, Sávio, Zabotine e como nosso tutor o Fred. Depois de muito debate, brainstorm, pesquisa e reflexão, resolvemos elaborar um produto para realizar testes de usabilidade remotos e não moderados, com relatórios de especialistas na área. Fiquei responsável pela parte de negócios e pesquisas relacionadas a experiência do usuário. Fazíamos no mínimo reuniões semanais e toda a semana tínhamos cada vez mais problemas para resolvermos. Começamos a ir na Hotmilk (Aceleradora da PUCPR — Haviam fechado uma ajuda na parte de negócios para os nossos projetos). Nossa equipe foi a todas as reuniões, fizemos todas as entregas, para que tivéssemos um produto de valor para o mercado, começamos a fazer algumas validações e quando iriamos começar o processo de aceleração não assinamos o contrato (por diversos motivos e por decisão da equipe). A partir deste momento, ficamos por conta em relação a validação do nosso produto e de arrumarmos oportunidades por fora.

Continuando a construção do nosso produto, o Fred sugeriu que escrevêssemos 2 artigos e submetesse a dois congressos (um de IHC e o ILA2018). Começamos a escrever os tais artigos, mas o do IHC, escrito com muita pressa pelo prazo apertado, não obteve sucesso (apesar de termos um feedback positivo a respeito do nosso produto), mas o do ILA, nos dedicamos bastante e por muito tempo (vindo até nas duas semanas de férias para a Academy fazer). Conseguimos ser aprovados e eu e o Rafael fomos apresentar o artigo.

Apresentação no ILA 2018

Durante o congresso, conseguimos cerca de 30 leads para o nosso projeto, além de termos conseguido ter uma troca muito grande com diversas pessoas que trabalham na área (tanto em relação ao feedback do nossos produto, como de aprendizado sobre outros temas), além de termos acompanhado diversas palestras.

Durante todo o processo de desenvolvimento do aplicativo, fizemos várias mudanças e por fim criamos uma plataforma web e pluging para sketchapp para os desenvolvedores e um aplicativo mobile para os testadores. Tivemos imprevistos, atritos, limitações, não finalizamos com um produto inteiramente completo mas aprendemos muito (principalmente sobre iteração de produtos e usabilidade) com todo o processo e daremos continuidade no projeto.

Conclusões

Depois de tudo o que passei e aprendi durante todo o curso, posso dizer sem dúvida que foi um dos momentos mais marcantes da minha vida (pessoal e profissional). Não estou concluindo somente um curso aqui, mas sim uma grande etapa de aprendizado. Tentei aproveitar ao máximo tudo o que a Apple Developer Academy teve para me oferecer e saio daqui com novos amigos, um conhecimento extraordinário da área, um profissional melhor e uma pessoa muito melhor. Agora QUE VENHA O MUNDO!!!

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