Os melhores filmes de 2013
… de acordo comigo.
Essa é a segunda vez que tento fazer uma lista de melhores filmes do ano de 2013. E espero que consiga. Tenho uma fascinação por listas desde muito tempo, chega a ser até uma compulsão às vezes. Tinha um programa na MTV chamado Top Top, no qual os apresentadores elegiam os dez mais em alguma categoria, como por exemplo, os melhores guitarristas da história do rock; lembro-me de um que era os dez músicos “mais estropiados”, os mais ricos, etc., eu sempre via o programa, e anotava tudo. Tudo. Apesar disso, sou um pouco relutante em fazer listas, porque primeiro eu nunca teria visto o suficiente pra poder eleger os melhores, sem contar que em Belém, e até mesmo no Brasil, a nível mais geral, os grandes filmes que foram eleitos não chegaram aqui ainda, como por exemplo, Inside Llwelyn Davis dos irmãos Coen (que estou doido pra ver); Her; American Hustle; Dallas Buyers Club; The Immigrant (do James Gray, que apareceu em poucas listas, mas que tive um interesse muito grande por esse diretor nos últimos tempos, sem contar que o filme estrela o então querido de Gray, Joaquin Phoenix, e a minha então amada, Marion Cotillard); tem também The Wolf of Wall Street, do Scorsese, que não me encheu muitos os olhos pelo trailer, mas que rendeu a nota 8,8 no IMDb, e isso sim me chamou a atenção; 12 Years a Slave, terceiro filme de outro grande novo diretor que é muito promissor ultimamente, Steve McQueen (diretor de Shame, um filme de arrebentar qualquer paradigma sobre impulso e desejo sexual); além de Blue Is the Warmest Color, que eu estou de olho há bastante tempo, desde que foi visto (ou indicado, não lembro bem) em Cannes e causou um furor e tanto, entre tantos outros.
Uma coisa certa que percebi na minha lista de filmes vistos em 2013 foi que vi muitos filmes, mas poucos de 2013, mas vou tentar ser coerente e explicativo durante minha listagem. Ei-los:
10) Los Amantes Pasajeros (Os Amantes Passageiros), de Pedro Almodóvar
Um dos últimos filmes de 2013 que vi em 2013. E o mais engraçado: fui ver com a minha mãe. Ela gostou bastante do filme, e já me alertou: quando eu for ver filme na Estação de novo, é pra eu convidá-la. Tá bom, mãe. Muito do que vejo de filme me baseio infelizmente por notas no IMDb, alguns presto muita atenção, alguns nem ligo, e outros fico curioso, ou porquê o filme levou uma nota tão baixa, ou tão alta. E, Os Amantes Passageiros é o tipo que se encaixa na primeira opção, foi um filme que levou uma nota baixa, abaixo de seis, diga-se de passagem. Mesmo com uma nota não muito boa, considerei esse último filme lançado do Almodóvar muito bom, embora não conheça a obra do diretor a fundo, tendo visto uns seis ou sete filmes, e conhecer a filmografia dele é algo que pretendo fazer nos próximos anos, pois é um diretor que realmente vale a pena. O primeiro filme que vi do Almodóvar foi A Pele Que Habito (no Cinépolis, por incrível que pareça), e fui desavisado ver o filme, só fui perceber e entender a estética, ambientação e preferências do autor depois que fui ver outros filmes dele. Saí do cinema extasiado, primeiro pelo roteiro em si e desenvolvimento da trama, e pela atuação do Antonio Banderas, como um pai apaixonado e vingativo. Enfim, voltando a’Os Amantes Passageiros, o filme foi um dos que pouco vi em listas de melhores do ano, e em uma delas o autor da lista dizia que o filme condensava muito do que Almodóvar já tinha feito até então, logo sintetizando um bom apanhado de sua obra. Confesso que estou mais acostumado aos dramas pesados de Almodóvar, e contrariamente a A Pele Que Habito, eu não fui ver o filme desavisado, sabia muito bem que era uma comédia, e que trazia o frequente ator Javier Cámara, como um dos protagonistas e sendo o comissário de bordo chefe do avião onde a estória se passa. Digo um dos protagonistas porque o filme é bem dividido, não tendo exatamente um protagonista, mas tecendo várias ações por entre os passageiros da primeira classe do avião, os comissários de bordo (todos gays), e os pilotos; o que, a meu ver, torna o filme mais difícil, e até mais cativante, ao contrário de nos focarmos em um herói ou heroína, temos um leque de personagens com as quais podemos nos identificar, ou, até mesmo, odiar. Cada um deles traz um background diferente e que se desenvolve no decorrer no filme, somos enganados no começo por uma breve aparição do Antonio Banderas junto com a Penélope Cruz, mas mesmo não tendo ambas as estrelas hispânicas, o resto do elenco não fica atrás. Filme coeso, engraçado, mas não apelativo, e muito bem sincronizado (e não me refiro somente à dança dos comissários de bordo), e que não fica apoiado apenas na comédia, mas levando cada personagem a um patamar diferente, ou religioso, ou de trabalho, ou familiar, ou sexual, etc. Parabéns, Almodóvar.
9) The Conjuring (A Invocação do Mal), de James Wan
Outro filme que vi com minha mãe e que, de acordo com ela, ficou assombrada por uma semana. Eficaz, não? A Invocação do Mal (não) é mais um filme de exorcismo, que traz uma família que se muda pra uma casa e lá acontece tudo, e então alguém precisa vir exorcizá-la. É basicamente isso. Quando soube que o filme era sobre exorcismo torci logo o nariz e não fiz questão de ver, mas passei o olho rapidamente numa matéria do Literatortura que dizia que o filme era o melhor filme de terror do século XXI, o que me fez mudar de atitude. Fui ver o filme e fiquei impressionado. Cinema pode trazer a mesma estória, mas o que importa é como é contada, e foi o que aconteceu, dentre outros filmes, com A Invocação do Mal. Ambientado na década de 70, e baseado em fatos reais, o filme exige um pouco mais da cinematografia, além de um figurino condizente também com o tempo, foi dirigido pelo James Wan, que também dirigiu Jogos Mortais (filme que eu nunca vi do começo ao fim). O filme tem vários picos de clímax e nunca deixa a desejar, mesmo tendo um final previsível, com tudo dando certo e tendo a família linda e feliz no final, mas o que realmente pesa são as nuanças de terror ao longo do filme, como a (já) clássica palma batida no escuro no ouvido da mãe.
8) Gravity (Gravidade), de Alfonso Cuarón / Prisoners (Os Suspeitos), de Denis Villeneuve
Gravidade e Os Suspeitos foram dois filmes em que eu saí do cinema sem ter gostado muito, e quando passaram os dias, eram duas coisas que eu não conseguia tirar da cabeça. Fiquei pensando em ambos os filmes por semanas. Gravidade, com a direção de Alfonso Cuarón, um dos mais proeminentes auteurs da atualidade, que me chamou bastante a atenção com Filhos da Esperança (Children of Men, de 2006), é um dos filmes mais cotados como melhor do ano. Traz George Clooney e Sandra Bullock como os principais personagens, tendo Bullock como a real protagonista do filme; e, mesmo considerando-a uma atriz deveras sem graça (a situação piora se você estiver vendo um filme dublado com ela), o Cuarón soube aproveitá-la, transformando a jornada dela ao longo do filme num verdadeiro bildungsroman, mesmo que curto, mas traçando um peculiar desenvolvimento de personagem. O filme, é bom ressaltar, foi anunciado como o novo 2001, o que pra mim foi um dos maiores exageros de 2013 — é um filme muito bom, mas não chega perto do que foi feito pelo Kubrick lá no final da década de 60. Cuarón, como diretor, me ganha pelos planos-sequência, e que no espaço se tornaram mergulhos num abismo ensurdecedor.
Os Suspeitos me ganhou pelo roteiro, muito bem construído, e com um plot twist muito bem pensado. Acho que esperava bem mais dos atores; Hugh Jackman, como sempre, fez o papel do macho alfa, como um amigo meu bem ressaltou no final da sessão; Jake Gyllenhaal, com aquele ar de bobo inocente, mas sempre eficaz no final (alguém lembrou de Zodíaco?); além de Paul Dano que, pra mim, foi pouco usado, o ator que tem um grande potencial de atuação (vide Sangue Negro e Pequena Miss Sunshine) passou maior parte do tempo preso e apanhando calado. O papel de Gyllenhaal como detetive não é atual, o ator, que é bem eclético, já viveu uma espécie de detetive em Zodíaco, só que de forma mais indireta; como havia dito no começo, foi um filme que não gostei muito no final da sessão, e minha namorada comentou que se fosse um filme do David Fincher eu teria adorado. Sim. Claro. E aproveito desde já pra dizer que já estou na espera de Gone Girl. Muito bem narrado, o filme também conta com uma cinematografia bem fria e escura, já que a trama se desenvolve no inverno, elemento que também reflete nas personagens e suas ações de certa forma, mais em evidência no papel de Jackman para com o de Dano.
7) Francis Ha, de Noah Baumbach
Francis Ha foi um filme que antes de sair eu já tinha certa desavença, achava que seria o novo cult hipster dos posers de Belém, e Frances Ha, a personagem, seria a nova Amélie Poulain. Outra coisa que contribuía pra minha ranzinza foi o fato de o Quentin Tarantino ter elegido como um dos melhores do ano também, apesar de eu gostar do diretor. Pois então: o filme me surpreendeu. Foi o primeiro filme que vi do Noah Baumbach, cujo roteiro foi escrito em parceria com a linda da Greta Gerwig, algo que foi fundamental para o desenvolvimento do script em si e do filme num todo. Humor leve, amigável e quotidiano, a protagonista nos leva a um mundo que já nos foi comum pelo menos uma vez na vida: o da incerteza; além dos conflitos com a melhor amiga (no caso do filme) ou amigo. Fotografia em preto e branco é outra coisa positiva no filme, algo em que o diretor se arrisca de forma bem legal.
6) Before Midnight (Antes da Meia-Noite), de Richard Linklater
Antes da Meia-Noite completa uma trilogia que é uma das mais apaixonantes do cinema, literalmente. No entanto, hei de confessar que coloquei o filme na lista mais por causa do primeiro (Antes do Amanhecer) do que por esse. O formato cinematográfico do Linklater (vide Waking Life), ou melhor, de roteiro, é excepcionalmente peculiar, o que torna o diretor um verdadeiro auteur, ou melhor, um Schreiber, já que reforça bem mais o papel da escrita no trabalho do diretor. Focando nela, e nos diálogos, que se não me engano tiveram as mãos dos protagonistas, Ethan Hawke e Julie Delpy, tornam o filme algo bem carregado, o que pode cansar expectadores não avisados, o que, dentre outras coisas, demanda atenção nas legendas, caso eles não tenham um conhecimento prévio das línguas (que se estende até ao grego neste terceiro filme). O relacionamento das personagens através dos filmes se torna cada vez mais forte, mais intenso, chegando a ser até dissipador, deixando quem vê na dúvida se o casal permanecerá junto ou não; e o cansaço que relatei não fica só atenção da língua/legenda, mas também na relação do casal, que parece uma novela da vida real, é bastante verossímil, como se fosse duas pessoas brigando na sua frente, um dos pontos mais positivos do que negativos do filme (isso faz sentido?). A cena de discussão entre Hawke e Delpy no quarto de hotel é uma das mais memoráveis e de tirar o fôlego.
5) Django Unchained (Django Livre), de Quentin Tarantino
O que falar de Django Livre? E, na verdade, o que falar de Quentin Tarantino? Diretor que despontou na década de 90 com Cães de Aluguel e Pulp Fiction, e que se reciclou nos anos 2000 com dois filmes de samurai (?) e um de ficção de guerra, opondo nazistas e judeus de uma forma bem ortodoxa; o diretor é um dos mais aclamados dos últimos vinte anos e tem um currículo respeitadíssimo sem nunca ter passado por alguma escola de cinema. O que me fez gostar de Django Livre, além de confiar na mão e no gosto de Tarantino, foi a escalação de Christoph Waltz (vide Deus da Carnificina), ator austríaco e poliglota que já havia trabalho com Tarantino em Bastardos Inglórios, incorporando o carismático caçador de judeus, Coronel Hans Landa. O filme também conta com a atuação magnifica e explosiva de Leonardo DiCaprio, que chegou a cortar a mão de verdade em uma das cenas do filme. Como sempre bem pessoal e peculiar, a trilha sonora foi uma das coisas que chamou a atenção, tocando desde hip hop negão a Johnny Cash.
4) Elena, de Petra Costa / O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho
Outro empate, dessa vez entre dois filmes nacionais. Elena é, com toda certeza, um dos filmes (não importa se quiser chamar de documentário também) mais tocantes que já vi em toda minha vida, contando a relação familiar entre três mulheres e seus conflitos e diabos exorcizados ao longo da vida. O filme lida com os reflexos do suicídio, esperança, ambição e redenção, de uma forma bem explícita e inquietante, mas poética. Gostaria de escrever bem mais sobre Elena, mas pra isso deveria e gostaria de assistir o filme (assim como todos os outros da lista também) outra vez. Destaque para a cena em que a câmera segue do alto as mulheres na água (incluindo Petra e sua mãe, se não me engano), fluindo de forma leve e lúcida, poesia em imagens.
O Som ao Redor foi um dos filmes, quiçá o filme com maior destaque nacional e internacional que o Brasil teve em 2013; e com mérito. Você chega pra ver o filme achando que é uma coisa, mas se torna outra, favorecendo-o com um plot twist de matar. Outro filme que preciso rever, e que irá passar em breve no circuito de melhores do ano da APJCC; tem uma cena que pessoalmente me chamou bastante atenção e que achei muito bonita e poética, a do aspirador de pó.
3) Cine Holliúdy, de Halder Gomes
Outro filme nacional? Sim! Cine Holliúdy foi um dos filmes nacionais de 2013 que merecia tanto destaque quanto O Som ao Redor, e talvez por uma questão de distribuição e/ou divulgação não tenha sido. Uma homenagem singela e doce ao cinema, como esquecer as caretas de Francisgleydisson e seu filho? Com ambientação nordestina e humor afiado característico da região, o filme alerta logo no seu começo: o primeiro filme nacional com legenda. E sim, meu amigos, vocês vão precisar. Vão por mim. O caráter linguístico do filme, com as mais diversas gírias e variações faz dele uma mina de estudo para os estudantes de Letras, e torna muito mais difícil uma possível dublagem dele, diria, até mesmo, impossível. Não vou me conter em contar a trama do filme, mas aponto como destaque a forma em que os personagens são abordados, cada uma com sua peculiaridade humorística, algo como A Praça é Nossa, só que engraçado; além de abordar não só o humor na tela, mas questões sociais, a chegada da televisão nos interiores nordestinos versus o cinema, o papel da polícia e troca de favores na política, etc. É certo que Cine Holliúdy desbanca muitos filmes de comédia com atores batidos da Globo, e foi uma pena a emissora de TV exibi-lo num sábado de madrugada.
2) Après Mai (Depois de Maio), de Olivier Assayas
Depois de Maio foi um dos filmes que quase não vi em lista nenhuma de melhores do ano, exceto na listagem da Film Comment. Filme francês e com bastante apelo nacional, o filme me ganhou pelos temas, mas que podem ser resumidos como arte num geral. Drama e aventura juvenis que se esticam desde as ambições artísticas ao o amor não correspondido, além de doses de lutas políticas. Passou em junho na Estação, se não me engano, e tivemos em Belém aquela enxurrada efervescente de inconformidade política, então tudo acabou calhando.
1) The Master (O Mestre), de Paul Thomas Anderson
O que dizer de O Mestre? E, na verdade, o que dizer de Paul Thomas Anderson? Um dos maiores auteurs dos últimos vinte anos sem dúvida nenhuma, ao lado de Wes Anderson (que jurava que eram irmãos), acho que aposto até mais nos filmes que estão por vir de Anderson do que os do Tarantino. Conheço a filmografia dele de cabo a rabo, algo que se dá pra fazer em menos de uma semana, e algo que vale bastante a pena. Destaque para Boogie Nights, Magnólia e Sangue Negro, o diretor é comparado com grandes mestres do cinema (vide a biografia do diretor no IMDb) e reconhecido pela sua grande habilidade técnica; detalhe: igual ao Tarantino, o diretor nunca passou por alguma escola de cinema, tentou, mas não conseguiu, e com o dinheiro que ia gastar nisso resolveu fazer seu primeiro curta que já contava mais ou menos o que seria mais tarde seu primeiro grande filme, Boogie Nights. O trabalho de câmera de Anderson é incrível, outro que explora os planos-sequência, além de recrutar um elenco de atores incríveis; O Mestre conta com o trabalho de Joaquin Phoenix, detalhe para a perda de peso e curvatura do ator, além do sempre presente Philip Seymour Hoffman; ambos os atores trabalham numa sincronia incrível, e a estória se desenvolve de forma magistral, acompanhando mestre e aprendiz de uma forma fiel e terna.
Belém, 03 e 04 de janeiro de 2014.