Matheus Santana
6 min readJul 6, 2016

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Primeiro, desculpe se me expressei mal ou se fui ofensivo de alguma forma. Sou novo aqui no Medium e achei que estava fazendo anotações de forma privada.

Gostaria que você explicasse melhor de que forma o significado de coerção foi distorcido.

Com distorce quis me referir ao uso de um conceito diferente de coerção do que os libertários, a quem você faz critica, defendem. Um libertário define coerção como qualquer invasão ou ameaça de invasão à uma propriedade privada justa. Isso quer dizer que o uso de violência física ou ameaça dela em relação a alguma propriedade privada obtida de forma justa, ou seja, sem o uso desta mesma coerção, estaria em contradição ao direito natural de liberdade individual. Aqui cabe a analise de que um libertário defende apenas o direito negativo de propriedade privada.

Trabalho conceitualmente uma distinção entre “coação” e “coerção”, na medida em que a coerção não se impõe fisicamente e a coação sim, já que vem de co-agir, agir junto. Por isso meu trecho fala de “coação”

Sim, ao pesquisar mais a respeito disso vi que, sim, essa é a definição usada para coerção e não a tinha visto ainda, não sei dizer o porque do uso “errado” da palavra. Vou dar uma pesquisada melhor sobre isso para ver se não foi um erro de tradução ou se vem apenas da diferença de conceito.

Quanto à falácia kafkaniana eu discordo. Não há no meu texto nenhum tipo de acusação ou culpabilização daquele que se beneficia de um sistema injusto,

Bem colocado, ao reler com mais atenção notei que me equivoquei ao falar a afirmar que existia um falacia kafkaniana em seu argumento e repito achei que estava fazendo anotações para depois estudar mais afundo o tema.

embora possa ser esperado que as pessoas consigam pensar politicamente para além de seus próprios umbigos e perceber que aquilo que o beneficia é circunstancial e está para além de seu esforço pessoal. De outra forma não poderíamos falar em “pensar politicamente”, já que se pressupõe um “pensar para a Polis” ou pensar de forma cidadã. Ora, até um egoísta que se recusa a se prender exclusivamente numa razão de meios poderia perceber que ao legitimar um benefício que ele tem apenas circunstancialmente, um dia a balança pode pender para outro lado, o que o faria a questionar se aquilo que o beneficia, de fato, é um bem comum ou algo desejável, apesar de beneficiá-lo. Essa constatação é praxeológica, inclusive.

Sim, a balança pode pender para outro lado e você deixar de ser beneficiado pelo beneficio que foi como muito bem frisado como “circunstancial” por você. Aqui é o ponto de que a ética libertaria discorda de você. O individuo não tem culpa de seu beneficio circunstancial, isso vem de características da realidade fora de seu controle. Além de que a ética libertaria como jusnaturalista defende o direito natural por achar o mais racional e correto, indiferente a questões “utilitárias”.

Penso que essa sua asserção nos traga algumas confusões conceituais. Você parece conceber um tal “homem in natura” cuja atividade de transformar o meio a seu favor fosse algo à parte de sua própria natureza. Desconheço um “homem in natura” que não seja homem já imbricado ao seu meio e atuante nele através do trabalho desde sempre. Homem não nasce pobre, nasce, como todo e qualquer animal, com necessidades e usa os meios que lhe são próprios para suprir essas necessidades, da mesma forma que um chimpanzé usa gravetos para pegar cupins em troncos ou orcas caçam focas na praia colocando todo seu corpo fora da água. O fato de serem atividades aprendidas e de uma cultura específica dessas espécies em uma determinada região do mundo, não signifca que seja apartado de seu estado “in natura” (seja lá o que isso queira dizer).

Quando disse o “homem in natura é pobre” defendi a ideia de que o homem não nasce(vem ao mundo) com qualquer garantia de que suas necessidades vão ser atendidas. Além de que ele não nasce com instintos que são típicos aos animais e por isso tem que aprender por meio de sua racionalidade a transformar o mundo ao seu redor por meio do “trabalho”.

O problema dos “libertarianistas”, mais especificamente daqueles que adotaram o sistema de pensamento da escola austríaca, é um método epistemológico acrítico que rechaça a questão histórica reduzindo-a a mero historicismo.

Nessa parte concordo com você, não nego que ao diminuir a questão histórica na analise econômica me é estranha, já que estudo o movimento a pouco tempo. No entanto a Escola Austríaca não nega a história e sim, pressupõe por diversos motivos que por meio da analise da história não é possível chegar a conclusões que estão sempre certas.

Dessa forma confundem a divisão de trabalho no seio de um sistema específico com toda divisão de trabalho histórica que já houve sob um mesmo conceito. Em geral, e podemos concordar, toda e qualquer divisão de trabalho beneficia a eficiência produtiva, aumentando a quantidade produzida no mesmo tempo ou reduzindo o tempo para se produzir a mesma quantidade. Com o incremento tecnológico aliado, a eficiência aumenta exponencialmente. Até aí, penso, concordamos.

Aqui você, apenas conceituou o que chamo de criação de riqueza: Aumento da eficiência produtiva, aumentando a quantidade produzida no mesmo tempo ou reduzindo a o tempo para se produzir a mesma quantidade. Já que Riqueza é tudo aquilo que gera uma fonte de renda futura ou seja, não é a riqueza que dá valor à renda, mas sim a renda que dá valor à riqueza. O valor de um terreno não depende do terreno em si mesmo, mas sim do valor de todos os serviços que ele permite. Em uma sociedade formada por bilhões de pessoas, onde os recursos físicos possuem variados usos alternativos, a imensa maioria das rendas não advém automaticamente dos recursos materiais, mas sim do uso que se faz destes recursos materiais. Isso significa que a capacidade de geração de renda depende muito mais da organização inteligente destes recursos do que da disponibilidade dos mesmos. Daqui tiro que toda e qualquer divisão racional do trabalho tende a criar riqueza, pois aumenta a qualitativamente e quantitativamente a produção futura.

Mas daí não se segue “criação de riqueza”, mas, sobretudo, circulação de recursos, criação de necessidades, expansão monetária, expansão de crédito (antecipação de consumo) e mudanças entre propoensões marginais a consumir e poupar.

O mito da “criação de riqueza” é algo que se repete como um mantra, mas não se explica para além daquilo que querem que seja verdade. Na época da Economia Política Clássica de Adam Smith e Ricardo, tudo o que se produzia era consumido. Era o suprassumo de uma economia, porém isso acontecia por conta dos estoques e acumulação existentes. Ou seja, fez-se circular a riqueza e não se criou nada.

Como vocês mesmos dizem: “não se tem almoço grátis”. Com a diminuição do estoque de riqueza acumulada, cada vez mais a fonte de consumo passou a vir de salários pagos. Mas a conta nunca fechou. Nenhum empresário desmobiliza sua riqueza acumulada para retornar menos do que foi mobilizado. Logo, para pagar X de salários eu preciso que o consumo seja X+’n’. Só que esse ’n’ (que é o lucro) de onde vem? De endividamento do consumidor via antecipação de consumo. O sistema se move e pensa criar riqueza porque cria crédito para que o consumo seja no mesmo nível de produção, e a conta nunca fecha, até que o sistema entra em crise, pois “não tem almoço grátis”.

Mas claro, os liberais colocam a culpa no governo inchado, impostos onerosos e nos programas assistenciais.

Aqui você analise o libertarianismo em si por meio de características e princípios que ele não defende (expansão monetária, expansão de crédito e mudanças entre propensões marginais a consumir e poupar).

Além de que o lucro vem, justamente, da maior eficiência produtiva e da criação de riqueza. E sim o liberais colocam a culpa no estado da falsa expansão de credito e monetária porque é exatamente ele que abaixa a taxa de juros ao número menor da onde realmente deveria estar, criando “falso dinheiro” e diminuindo a riqueza do trabalhador por meio da inflação. Ensaiando uma criação de riqueza que não existe, ou seja, criando uma falsa “riqueza” que não existe e em alguma hora terá de ser paga(nada mais que uma bolha econômica).

Sim, evidente. Outros produzem explorando a força de trabalho de uns.

Aqui você supõe uma exploração do trabalhador pelo patrão, como a teoria da mais-valia. Não irei debater esse tema aqui já que é um tema extremamente longo. Só recomendarei a leitura de “A Teoria da Exploração do Socialismo-Comunismo” do Böhm-Bawerk.

Abraço.

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Matheus Santana

Estudante de Engenharia Civil na UFRGS e leitor assíduo de Economia, Filosofia e etc.