Cine Marabá e sua história até aqui

Mate-me
4 min readJun 8, 2016

Localizado na Avenida Ipiranga, quase esquina com a Avenida São João. Essa região ficou conhecida como Cinelândia, pois reunia vários cinemas na época, porém, com exceção dos Marabá e Olido, a maioria dos cinemas de rua sobrevive exibindo filmes pornográficos, e grande parte dos que haviam foi demolida para erguer novos prédios.

o Cine Marabá tem como data oficial de inauguração o dia 20 de maio de 1944, segundo a PlayArte. No entanto, como é contado no livro Cine Marabá: O Cinema do Coração de São Paulo, mediante pesquisas de jornais da época, foi constatado um erro. A real inauguração teria sido em 15 de maio de 1945, quase um ano depois da data oficial. Quando perguntada sobre a data oficial de nascimento do cinema, a presidente da PlayArte disse que investigaria a divergência entre datas de inauguração, mas não mudou a data, mantendo ainda o ano de 1944 como ano oficial. Não é possível afirmar com total certeza que a data fornecida pela PlayArte está errada, pois o primeiro filme a ser exibido pelo cinema foi o clássico Desde de que Partiste do diretor John Cromwell, filme este que teve direito a 9 indicações ao Oscar, ganhando o de Melhor Trilha Sonora Original, e foi exibido mundialmente no ano de 1944.

O Cine Marabá foi criado pela Empresa Paulista Cinematográfica, pelo empresário Paulo de Sá Pinto.

Junto com mais dois sócios, Paulo de Sá fundou a Empresa Paulista Cinematográfica, que mais tarde se tornaria uma das principais do ramo da exibição em São Paulo, competindo com o circuito da Empresa Cinematográfica Serrador, do empresário espanhol Francisco tSerrador. Naquela época, Serrador era quem detinha a maioria dos cinemas. Entretanto, Marabá se erguia em meio ao monopólio do grande empresário espanhol. Entre os cinemas mais populares paulistanos, estavam os cines Ritz (1943), Marabá (1944/45), República (1952), Olido (1957), Comodoro, Cinerama (1959) e Ouro (1966).

Em 60, o cinema de Paulo de Sá passou a exibir as famosas Pornochanchadas. Tal gênero, fruto de uma confluência de fatores econômicos e culturais, ganhou força e fez muito sucesso comercial ao longo da década de 70. Contudo, sucumbiu na década seguinte devido à ascensão da pornografia explícita, e também porque a pornochanchada já mostrava sinais de esgotamento estético e econômico. Isso fez com que o Cine Marabá decaísse em público, porém, Paulo de Sá não cedeu que seu cinema, um dia tão cheio de glamour, passasse a exibir filmes de conteúdo pornográfico para pagar as contas. Marabá se manteve firme, mesmo com a pouca quantidade de público por muitos anos.

Após a morte de Paulo de Sá, a administração do cinema passou para as mãos da Playarte.

A crise vivida pelos cinemas do centro de São Paulo, que estavam fechando ou transformando-se prioritariamente em salas pornôs, estacionamentos e igrejas, não poupou nem o veterano Cine Marabá. Embora tenha sido o segundo maior cinema do Brasil em público e renda no começo daquela época, a sala da Avenida Ipiranga não resistiu e foi declinando até ser vendida pela Empresa à PlayArte, em 1996, juntamente com o restante dos outros cinemas do grupo.

Quando adquiriu a rede de salas de Paulo de Sá, a PlayArte era uma empresa distribuidora de VHS querendo entrar no mercado de exibição para divulgar os filmes que financiava ou lançava no país. No entanto, os planos da matriarca Elda Thereza Bettin Coltro, que desde sempre comanda de perto a empresa da família, também incluíam modernizar as salas do grupo, seguindo uma tendência vinda do exterior, a dos complexos de cinema formados por várias salas e repletos de recursos como bombonières.

Mais do que oferecer entretenimento para o público, Elda defendia que é preciso manter sempre a magia da sétima arte, a começar pela preservação das salas de exibição. "Cinema é uma coisa que tem que ser preservada. Afinal, se você tem um problema e entra no cinema, se deixa levar e esquece. Depois sai com a cabeça melhor e a dificuldade até parece menor", dizia a empresária de 62, que começou a comercializar fitas VHS educativas há mais de 20 anos, quando criou a VideoArte, precursora da PlayArte.

Muito tempo ainda levou para que os planos da PlayArte saíssem do papel. Foi somente em 2009 que a produtora investiu cerca de R$ 8 milhões na reforma do local, sob o comando dos arquitetos Ruy Othake e Samuel Kruchin.

Segundo o arquiteto Ruy Ohtake, que começou a desenvolver o projeto da reforma em 1999, foram preservados o saguão e a fachada do prédio. “O mármore das paredes, o piso de madeira, os lustres, os pilares e as portas foram mantidos. Só acrescentamos uma bombonière, adequada ao projeto original do hall”, explica Ohtake. “As duas escadarias que dão acesso ao balcão também só passaram por um processo de restauro”, conforme Othake disse.

É realmente difícil conceber a ideia de que um cinema criado lá em 1944 ainda esteja em funcionamento até hoje no mais perfeito estado. Mas fica até fácil de compreender quando o vê diante dos próprios olhos. De fato esse colossal sobrevivente do tempo é o cinema do coração de São Paulo.

--

--