Descanse em paz, Diego! Viva, Maradona!

maysa
2 min readNov 25, 2020

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Eu não pensei que viveria tão pouco pra ler um obituário de Diego Armando Maradona. Ninguém, talvez, tivesse pensado que viveria tão pouco Diego Armando Maradona.

É como se não soubéssemos que o apito final sempre soa em cada partida. O tempo, invenção nossa, é mera ilusão frente ao Grande Árbitro (seja lá quem Ele venha a ser).

Aqui entre nós os deuses correm, chutam, driblam, dão carrinho e fazem grandes defesas. Aqui os deuses nos defendem do mundo lá fora por 90 minutos — que podem vir a ser eternos. Os 90 minutos de Maradona não me deixam dúvidas serem trechos de eternidade.

A preciosidade de ver Maradona correr pelo verde com a bola nos pés é como se render a uma espécie de magia que os dias não permitirão que a chuteira seja pendurada pros nossos sonhos.

Maradona vestindo uma Camisa 10 se torna maior do que suas habilidades e sua história. Uma entidade. Um deus que jogou algumas Copas do Mundo. Um homem que perdeu parte delas. Um acontecimento maior que vitória ou derrota.

O futebol que nos encanta e apaixona ao dar as mãos aos grandes nos permitem esquecer que homens e mulheres jogam bola e por 90 minutos é possível ver e crer que deuses e deusas habitam entre nós e nos ajudam a driblar alguns demônios. Se Maradona não tivesse existido talvez Eduardo Galeano ou Nelson Rodrigues o tivesse inventado como herói ou vilão.

Só enquanto a bola corre, e no coração do torcedor a bola não para de correr nunca, Maradona não morre. Só enquanto a bola corre compreender a importância de Diego Maradona é se sentir parte de um gol (olímpico ou do meio do campo, daqueles nos acréscimos que nos garantem um campeonato) da América Latina. Maradona, o Camisa 10, em campo é a América Latina disputando e ganhando seu lugar no mundo.

A lenda Maradona é maior que a Argentina e, muito, maior que a rivalidade boba que o Brasil e Argentina cultivam. Maradona com a bola nos pés destranca uma chave em nosso coração e no dia de hoje não há “Fla x Flu latino" que resista em baixar a bola e abrir o coração.

Morre o homem, mas a Camisa 10 permanece.

E é estranho que em meio ao caos que nos cerca ainda tenhamos que descobrir que algumas chuteiras não pisarão mais o gramado verde da existência terrena. Mas só da terrena. A história é daqueles que a escrevem e daqueles que se prestam a se dedicar à leitura. Maradona escreveu a história dele e a nós cabe a leitura e a paixão no reconto.

Garantir que a memória não apague jamais a euforia da hora gol ainda que venhamos a descobrir que não tinha nenhuma cláusula na humanidade que nos garantisse que nomes como Maradona não pudessem morrer. Inaceitável!

Que falha absurda da civilização. Resta a quem ficou honrar a eternidade que a arte dele garantiu. Eterno ele já era.

A vida é finita. A bola não.

Descanse em paz, Diego! A você, Maradona, a bola não para nunca de rolar.

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maysa
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Written by maysa

poeta de boteco. poeira de estrela. mestre em literatura. admiradora do céu. desatenta. mal humorada. riso frouxo. capricorniana. mas de lua e asc em câncer.

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