Introdução ao Estudo da Renda Básica para o Principado de Pontinha

Marcus Brancaglione
ReCivitas Basic Income Democracy
4 min readOct 29, 2017

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Quando um amigo próximo disse para não me envolver com o Principado de Pontinha, porque era um sonho maluco eu ri muito. Quem sou eu para negar a possibilidade de concretude dos sonhos e utopias? Ou melhor, quem seria eu se depois de realizar a minha, passasse para o outro lado a renegar a dos próximos? O Principado de Pontinha não tem os fundos, não tem a população, não tem o território nem o suporte de nenhuma grande Estado-Nação. Está para os olhos destas grandes Estados e nações como esses estão para grandes potências nacionais e transnacionais. Mas, a experiência de Quatinga Velho tinha menos ainda, ou melhor nem sequer nada disso tinha ou tem, nem sequer existia no mapa e continua não existindo aos olhos cerrados de muita gente, mas lá naquele pequeno lugar um rendimento básico é uma realidade, porque não então em Pontinha, que é muito mais concreta e já conquistou muito mais antes mesmo de ter a sua renda básica incondicional? Como, ou porque o Principado de Pontinha não poderia tendo infinitamente mais potencial de realizar esse projeto se tudo o que precisa e falta as demais nações, micro ou macro, tem a vontade soberana de realizar de fato esse programa?

Talvez a quem esteja acostumado com facilidades ainda que ao preço da sua liberdade, Pontinha não tenha nada. Mas para quem está escaldado nas dificuldades que a liberdade e independência exigem, o Principado não só tem todo potencial que basta. Tem todo esse potencial e muito mais para superar as adversidades que o mero sustentar da liberdade exige, seja como direito de autodeterminação econômica, seja política. Porque em verdade essa mera abstração que aparta e desintegra o direito econômico do político já constitui a perda e consequente alienação de ambos junto com seus legítimos titulares em favor de um poder terceiro, a usurpá-los. O Principado Pontinha sabiamente entendeu o que muitos grandes Nações Continentais não entenderam: soberania e autodeterminação política e econômica não se pedem nem se reclamam, se conquistam e proclamam. Não são dadas de graça, são constituídas pelos direitos que lhe são legitimamente inalienáveis. E nisto, com ou sem renda básica já está a ser um exemplo aqueles que mesmo podendo muito mais no ser livre e soberanos, preferem o não ser da submissão e servilidade.

As pessoas em geral julgam a realidade e o real pelo que está posto e imposto. Poucos são os que olham para futuro naquilo que se pode ou até se deve fazer. Ou se lembram que se não fosse esses homens de certo viveríamos com toda a segurança… das cavernas.

Sonhar e projetar não é uma questão meramente de criatividade e imaginação. É uma questão antes de tudo de fé e força de vontade. Alguns se contentam em se masturbar e gozar mentalmente com uma ideia, mesmo sabendo que isso é apenas fantasias e fugas do real, outros pelo contrário abraçam e se contentam com esse como realidade ainda que tudo que ela tenha a lhe dar seja sofrimento e não gozo da vida, a não ser o gozo da vida alheia. Mas há aqueles que tem ainda fé na criatividade e liberdade humanas. De manhã são chamados de utopistas. A tarde de pioneiros. E a noite os pais das já nova realidade que amanhã já será a velha. Mas também a mãe de todas as novas. Sem fé na sua criatividade a pessoa humana é estéril, não de corpo mas de alma.

Principado de Pontinha, pode ainda ter um corpo minúsculo perante os gigantes e dinossauros que ainda caminham sobre a terra. Mas ele quer se concretiza ou tem algo que não tem preço: tem alma. E é esse espirito que como os sonhos invisíveis aos olhos dos cegos pelo material e materialismo que move o mundo em direção aos lugares ainda não navegados e desconhecidos, sem os quais o mapa-mundi não tem o menor sentido: os novos mundos, ainda que escondidos e esquecidos dentro de toda a riqueza humana e histórica dos velhos.

Pobre do homem unidimensional que pensa que para além dos limites do seu horizonte de eventos tudo que aguardam as naus que ousam sair deles é o abismo do nada. Não veem que estão eles condenados a viver no mais profundo vazio e nulidade da ditadura e distopia do mesmo. Esta sim, a farsa do real como projeção da naturalidade, o arcabouço do homem ainda acorrentado na infância da sua humanidade, a viver acorrentada na idade das cavernas. Uma criança grande, com a espiritualidade da criança e sem a maturidade e sabedoria do velho que sabe que a vida sem a concretude dos sonhos é uma vida de saudades. Seja a saudade do futuro dos países que nunca tiveram sequer um presente, seja a saudade do passado dos países que um dia esqueceram dos caminhos para os futuros.

Principado de Pontinha é porto e nau. E pobre do homem que não consegue tudo que ele significa e pode vir a significar, porque está condenado a viver em galés, seja como um degredado além mar, ou na sua própria terra natal.

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Marcus Brancaglione
ReCivitas Basic Income Democracy

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.