O Fim do Trabalho e a Ascensão dos Robôs

Ou o Fim do Capital e o início da Era da Renda Básica?

Marcus Brancaglione
ReCivitas Basic Income Democracy
10 min readJan 2, 2017

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(BBC News) “Seus ossos vão virar areia e, sobre essa areia, um novo deus andará.”

A frase é da robô Dolores, personagem da série de ficção científica Westworld.

A realidade pode não ser tão ruim assim — mas certamente um muro, uma fronteira ou um novo esquema de permissão de trabalho não serão capazes de detê-los: a ascensão dos robôs pode ser o grande acontecimento de 2017.” — Mark Mardell , 2017 marcará o início da era dos robôs?

http://br.ign.com/forum/threads/rob%C3%B4-foge-de-centro-de-estudos-

Enfim o futuro chegou. Ou pelo menos sua discussão. Finalmente as questões realmente relevantes para a sobrevivência dos povos da humanidade como civilizações e espécie começam a sair dos círculos de vanguarda e se popularizar. E o século XXI finalmente começa timidamente dar as caras. Se o primeiro grande passo para a resolução de um problema é a admissão que ele existe, essa então foi a grande conquista desta ultima década:

A renda básica universal finalmente entrou na agenda.

Podemos finalmente dizer que os problemas que ela se propõe a solucionar não são mais delírios paranoicos de ativistas, nem suas soluções projetos de utopistas e futuristas.

Antes tarde do que nunca?

Sinceramente…. não sei.

Sendo otimista digo para vocês:

Se nada de pior acontecer que interrompa esse processo: 2017 não será lembrado como o ano da ascensão dos robôs, mas em que a renda básica universal se espalhou pelo mundo.

Mas tudo isso depende de quem serão os proprietários dos robôs. Isso também poderia significar uma revolução na forma como nós encaramos o trabalho.

Robô” — termo usado pela primeira vez por um autor de ficção científica — é apenas a palavra tcheca para “servo”. Com a lógica do FALC, todos nós seríamos donos do fruto do trabalho dos robôs, como proprietários de escravos sem culpa. Algo como “o dinheiro é pobreza”. As sociedades pós-escassez não precisam disso.

Mas tudo isso depende de quem serão os proprietários dos robôs. Isso também poderia significar uma revolução na forma como nós encaramos o trabalho.

Uma versão menos radical de tudo isso poderia ser o salário dos cidadãos, uma renda básica universal. Isso significa que todos receberiam essa quantia mínima, estejam trabalhando ou não. — Mark Mardell , 2017 marcará o início da era dos robôs?

Agora para pessimista basta tirar o se. Ou simplesmente, não mudar nada. Bastar manter os atuais donos de tudo e todos como os donos dos futuros robôs, tanto os novos que serão máquinas que serão feita de outras máquinas, ou as antigas feitas de carne e osso, cada vez mais obsoletas e em extinção.

Infelizmente ignoramos por muito tempo as primeiras gotas de chuva. “Uma chuvinha… passa, logo”- disseram os vendedores de mentiras. Não passou. Foi preciso cair as primeiras tempestades sobre as nossa cabeças. Foi preciso cair o teto de vidro da casa para que saíssemos dessa perigosa comodidade e tomássemos de novo o chão da nossa realidade. Só agora que o dilúvio é certeza, que os loucos, profetas e noés tinham razão: as nuvens cinzentas no céu não serão uma tempestade qualquer, mas a revolução de uma era. Que não se dará sem o fim da anterior que se prenuncia cada vez mais como tragédia.

(BBC News) “É bem verdade que desde a quebra do primeiro tear pelos ludistas, no auge da Revolução Industrial, em protesto contra a industrialização e as novas tecnologias, a mecanização vem tirando o trabalho das pessoas.

Se você acha que já leu essas previsões todas antes, está certo. Especialistas vêm falando há alguns anos sobre a quarta ou quinta revolução industrial, a terceira onda da globalização e a tecnologia disruptiva.

Mas então por que desta vez é diferente? Por conta do contexto político — a questão é essa.”

A política. — Mark Mardell , 2017 marcará o início da era dos robôs?

Ok. Parabéns. Vocês finalmente estão vendo o dilúvio. Agora que tal, parar de procrastinar e colocar mãos a obra? As experiência da renda básica são arcas de noé. E caso vocês não tenham percebido é mais do que óbvio que não cabe todo mundo dentro. Por isso mesmo quanto mais arcas tivermos, mas gente salvaremos, capiche?

E o mais importante se você não é filho de deus, não é povo escolhido, não é branco, não é rico branco, americano ou centro-europeu, então acorda meu irmão, porque na arca deles é que você não vai entrar nem fudendo.

(BBC News) — Muitos veem isso como nada menos que um aumento dos desprivilegiados. Se há temas recorrentes, alguns deles são sobre nacionalismo e identidade. Mas também os deslocamentos econômicos e o crescente sentimento de desigualdade.

O professor Richard Baldwin, economista do renomado Instituto Graduate, de Genebra, afirma que isso deve piorar.

Segundo as previsões dele, “alguns quartos de hotéis em Londres poderão ser limpos por pessoas conduzindo robôs diretamente do Quênia ou de Buenos Aires e de outros lugares por menos de um décimo do preço praticado na Europa”.

E ele tem uma visão simples sobre a reação política das pessoas a este cenário: “Elas vão ficar com raiva”. — Mark Mardell , 2017 marcará o início da era dos robôs?

Como o texto entrega no sub-texto nós não somos eles, meu irmão. Os rôbos vão “roubar” os empregos de bosta nos países ricos mas quem vai continuar lá para “trabalhar” junto e como rôbos? Nós não somos gente, somos todos negros, somos todos robôs, ou melhor somos todos, como bem sabia o cosmopolita Bakunin, somos ainda todos eslavos.

Valemos menos que seus robôs. E somos mais recicláveis.

“A origem de robô é o antigo Eslavônico RABOTA, “servidão”, cognato com o Alemão ARBEIT, “trabalho”.

E escravo é do Latim SCLAVUS, “pessoa que é propriedade de outra”, de SLAVUS, “eslavo”, porque muitas pessoas da etnia eslava foram capturadas e escravizadas em outras épocas. E SLAVUS veio do nome que designava todas as tribos desse grupo, através do Grego SKLÁBOS.

Algumas rebeldias podem fazer parte do processo de crescimento, será que não?

Tcheco vem de uma tribo eslávica que chamava a si mesma de CECHOVÉ, lendariamente devido ao seu líder CECH, que os levou ao assentamento em determinado lugar. A origem desse nome seria o Proto-Eslávico CEL-, “membro do povo, gente aparentada”.

Eslovaco vem de SLOVAK, o nome que o povo atribuía a si mesmo, derivado de eslavo” — FONTE: http://origemdapalavra.com.br/site/pergunta/escravo/

Elas vão ficar com raiva? Com raiva do quê? Dos empregos perdidos? Ou da assistência social perdida? Dos antigos empregos dos seus pais? Ou dos shit jobs que eles não querem fazer e por isso trazem imigrantes ilegais para executar? Ou do fato de os estados de bem estar social do mundo inteiro terem falido graças ao esgotamento justamente da exploração humana e natural das periferias do mundo?

Não, eles não vão ficar com raiva. Eles já estão com raiva. Por nascerem condenados a pagar as dividas de seus pais ou melhor dos senhores dos seus pais como escravos, ou pior não fazerem nada. Vegetarem sem nenhuma perceptiva. Estão com ódio por terem nascidos sob a promessa de viver eternamente no paraíso como seus pais, mas terem caído na realidade depois que suas bolhas financeiras e culturais foram estouradas pelas crises econômicas e humanitárias. Depois que a realidade distante bateu a sua porta, e agora eles tentam expulsá-la e mantê-la distante dos olhos, por enquanto apenas com muros… por enquanto…

Eles não estão com raiva. Eles estão com ódio. Ódio que vem sendo canalizado pela extrema-direita do sistema contra os malditos estrangeiros que roubam seus empregos e sujam seus territórios. Canalizado para o higienismo eugenismo e nacionalismo.

Uma das coisas mais tristes sobre a tragédia do fim dos empregos, é que ele é não é a perda de um direito, mas tão o ápice da perversidade. O ultimo ato de um processo lento de exploração e extermínio de povos e classes escravizados: a destituição até mesmo do “direito” a sobrevivência servil dos dominados, domesticados e condicionados por tanto tempo a vender seu tempo de vida, força e energia para outro que já nem lembram que antes do direito de sobreviver um dia as pessoas, ou toda pessoa nascia nasciam com o direito de viver a vida em liberdade e natureza como seu capital.

Por isso, não importa se vai chegar a era dos robôs ou a era da renda básica ou as duas. Uma coisa é certa, se depender deles nenhuma deles vai chegar para você que não é cidadão dos centros e impérios do mundo mas sim das suas províncias e periferias. Você será eliminado como são os maquinário velho, desligado e jogado fora como lixo. Exterminado. Por outro tipo de ser que não tem alma, mas não se pode dizer que é propriamente um robô.

(BBC News) — “Mas talvez seja hora de ser otimista. Algumas soluções são bastante exóticas: uma das que mais me chamou atenção é o movimento conhecido como FALC (Fully Automated Luxury or Leisure Communism ou “comunismo de luxo e lazer totalmente automatizado”).

O argumento básico dos apoiadores desse movimento é que tudo o que precisamos logo vai ser tão barato que nós poderemos ter muito — isso, claro, se os atuais proprietários não ficarem com o lucro só para eles.

Alguns pensadores da esquerda são muito mais pessimistas e alertam que essas tendências podem terminar com uma guerra entre os pobres — o extermínio dos trabalhadores, literalmente.” — Mark Mardell , 2017 marcará o início da era dos robôs?

Não é a guerra “entre os Pobres” é “contra os pobres”. E não é “o extermínio dos Trabalhadores”, é o holocausto dos escravos literalmente sem mais emprego.

A ascensão dos robôs é como um reinos de servos, ou uma terra de escravo, uma contradição de termos. Porque quando o escravo deixa de ser escravo, e se torna um tirano ele não é mais trabalhador, ele é um patrão. Ele não é mais um cidadão, mas um governante. Não é mais o escravo mas um ser livre ou senhor no mínimo de si mesmo. Para que os robôs ascendem eles precisam deixar de ser servos e governarem, senão os humanos, no mínimo seu próprio destino como iguais em liberdade. E muita gente teme a primeira hipótese. Teme a ascensão dos robôs como a escravidão da humanidade. Não há tolice maior temer a perda daquilo que não tem.

Perder o que não se tem é na verdade se libertar de uma ilusão. Se um dia os robôs ascenderem mesmo. Isso quer dizer, portanto, que você não será mais um escravo ou semi-escravo de uma outra pessoa natural, mas agora propriedade em tempo integral ou parcial de uma máquina, ou seja uma pessoa artificial. Seja ela eletrônica, mecânica ou até mesmo jurídica, ou seja apenas um propriedade uma outra pessoa artificial.

Ora mas como uma contradição de termos, uma fantasia poderia se tornar realidade, como o que não tem alma, sentimento, personalidade, sensibilidade, como aquilo que não existe senão como ficção ou artificialidade da humanidade poderia dominar os mundo e governar os homens?

Meu caro amigo, caso você não tenha percebido você já é governado por uma ficção desse tipo, E o Estado não se chama máquina por acaso. A única coisa que aconteceria portanto caso os robôs tomassem os governos é que os autômatos no poder não seriam mais de carne de osso, mas desumanos artificiais. E você seria controlado pelos mesmos programas, sistemas agora automatizados.

Nem todo trabalho no passado podia ser automatizado, mas todo trabalho podia ser alienado. Se o homem não podia construir terminais inteligentes nada o impedia de desconstruir os outros homens em terminais burros. O que quer dizer que o primeiro robô do homem sempre foi o outro homem. E seu primeira grande automato o Estado. O primeiro sistema de Controle e Programação de controles dos homens com códigos e servidores automatizados só que feito de gente.

A era dos robôs. Não é a ascensão da era das máquinas, mas o ápice da era de artificialização da vida, da morte da natureza e definitiva desumanização e desnaturação da humanidade pela automação dos sistemas já instalados de controle automato e alienação das nossas vidas. É por isso que ela permeia o imaginário como o medo do fim, por que é a distopia perfeita, ou mais precisamente a completude desse nosso processo de perversão. É a consequência final da negação do principio mais capital e mais renegado pela desumanização da vida e natureza: a graça do direito a vida que se fosse raro como prega essa ideologia artificial, destrutiva, maldita jamais teria sido possível a vida. E que se continuar a ser tomada por verdade, irá continuar-se reproduzindo como profecia auto-realizada até o nosso fim, promovendo a escassez da vida e liberdade até a sua completa extinção.

Não senhores, a persistência na distopia artificial de privação dos meios para produzir seus sistemas de escravos e robôs não irã exterminar apenas esse lixo humano, o trabalhador. Ele irá exterminar toda a humanidade e natureza, porque é o sistema de negação da vida do outro e é um sistema burro, que termina em looping negando a sua própria vida.

Milênios de escravidão do homem pelo homem vão terminar tragicamente com o homem exterminado pelas próprias máquinas monstruosas de servidão? Ou a consciência finalmente chegará ao patamar da tecnologia e iremos iniciar em uma era de desenvolvimento da garantia e proteção da vida em todos os níveis sem precedentes? Tudo vai depender da descoberta da roda. Pode parecer uma coisa simples, depois de milênios de civilização vivendo com essa tecnologia, mas consegue imaginar como era antes das pessoas inventarem essa ideia tão obvia de ao invés de carregar tudo no lombo, empurrem as coisas e inclusive elas mesmas com rodas.

Pois é. As novas gerações do futuro irão se perguntar a mesma coisa sobre nós -isso é claro supondo que evoluamos a tempo de deixar um mundo para elas. Irão se perguntar: Como é que nós vivíamos sem uma renda básica garantida para todos?

Pois é, como?

Nessa merda que 9 em 10 pessoas do mundo vivem. E ainda por cima comemos este pudim de merda achando que é chocolate e achando que somos o máximo do progresso humano e civilizatório.

Por favor, é 2017, Trump que não seria, é presidente do Grande Irmão e não dá mais para ser tão ingênuo. Você sabe que deixar um mundo para outros implica em ter que tirá-lo das mãos de gente branca como ele quer ser, gente que acha que tudo e todos são posses e suas.

2017, 1017, 17… só uma coisa não mudou: a seleção artificial.

Outras Referências:

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Marcus Brancaglione
ReCivitas Basic Income Democracy

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.