Vila Maria protagonista da clandestinidade

CONVOCATÓRIA EM FOCO
4 min readAug 12, 2022

Ensaio Pré-selecionado de Jorge Leão

A comunidade denominada Vila Maria surgiu a mais de uma década em uma área de risco à beira do arroio Barnabé, nos fundos do Bairro Vila Rica na divisa do Município de Gravataí com o Município de Cachoeirinha. Segundo os moradores as primeiras ocupações se deram com a vinda de núcleos de uma mesma família, que pela necessidade de morar, ocuparam a área, que apesar de ser desprovida de qualquer infraestrutura, oferecia a possibilidade de erguerem suas moradias, sem a preocupação de pagarem aluguel, viver de favor ou ficarem na rua. Algumas famílias vivem sob antenas de alta tensão e as margens da faixa de domínio da BR-290. O acesso à vila se dá através de uma ponte de madeira sem acesso a carros. Sendo que, parte da ocupação está em uma área privada da construtora Habitasul, que busca na justiça a retomada do local.

Quando nos referimos a essa comunidade constatamos que, nas casas sem forros, residem sujeitos, homens, mulheres, idosos e crianças, que vivem daquilo que é possível ter. Na fragilidade das casas percebe-se a dureza da luta. Nos rostos das crianças já percebe-se o peso diário de se viver mais ou menos. Na clandestinidade da energia elétrica, da água, e da própria moradia dita irregular os direitos básicos estão violados. Defendidos na própria Declaração de Direitos Humanos estão longe de serem garantidos a todos aqueles que nascem no mesmo território. Tal realidade não se trata de falta de esforço individual, mas sim da realidade cruel onde na desigualdade de distribuição de renda, famílias são obrigadas a buscar estratégias de sobrevivência.Possivelmente na cidade formal essas pessoas sejam vistas com desprezo, julgadas em suas lutas, porém quem mesmo viveria em tal precariedade por opção?

As famílias não investiram em melhorias em suas moradias por estarem, há muito tempo na expectativa de serem reassentadas. Portanto as habitações são precárias, sem as condições mínimas de dignidade, sem saneamento, coleta de lixo, sem qualquer infraestrutura. As famílias sofrem pelos alagamentos constantes, ficando essas isoladas, sem condições de sair para o trabalho, bem como as crianças para a escola.

Não pertencentes a lugar algum, invisíveis, mas de olhares profundos, ignorados, mas com esperança de viver melhor. Clandestinos, ilegítimos, ilícitos. Afinal o que os exclui? A ausência dos bens materiais, da casa, do esgoto, da energia elétrica, da água encanada ou o esquecimento de que ali em um determinado território seres humanos habitam da melhor forma que conseguem um espaço, considerado inapropriado. Na invisibilidade que vivem, vivem mal. Porém tem vizinho, tem família, tem gente preparando o almoço, saindo para o trabalho, para a escola, tem gente chorando a morte dos seus, tem gente se alegrando com as boas notícias. Tem gente namorando, balançando o filho, amamentando. Tem gente desejando sair dali, tem gente sem esperança e gente com projetos, tem quem desistiu, mas tem quem persiste. As famílias que vivem na comunidade Vila Maria ainda resistem, convivendo com a falta de tudo ou com o mínimo do mínimo.

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A Convocatória em Foco 2022 está com inscrições abertas até 20 de agosto e o resultado será apresentado no dia 4 de setembro. Agradecemos a participação de todos e confiança no trabalho do Paraty em Foco e sua Equipe.Participe, não deixe para a última hora. Você poderá ser um dos protagonistas desta edição da maioridade do Festival. Confira o regulamento: https://www.pefparatyemfoco.com.br/regulamento-convocat%C3%B3ria-pef-2022

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Convocatória PEF, continua sendo, uma vitrine aberta para profissionais consagrados ou talentos emergentes.