Não é só bannann peze e konpa

Cultura Haitiana

Renata Dantas
3 min readMar 13, 2020

Faz quase cinco anos, e quando digo isso me assusto, que estou entrando de pouquinho e tentando aprender dessa cultura tão rica. Sinto que nos dois primeiros anos não sabia de nada. Só sabia que o Haiti não era na África e que o idioma era o crioulo haitiano e não o francês. Ok. Mas péra. Tentava me aproximar, conhecer alguma coisa sobre a comida, alguns provérbios mas era como se ainda fosse bem superficial e depois de pelo menos dois anos vi que era mesmo.

Parece que o negócio começou a mudar quando cheguei em Xaxim. Por aqui, de uma forma geral os haitianos tem mais tempo e estão bem mais abertos. Na primeira vez que vim só passar uma semana e conhecer a cidade, já no campo um rapaz que vi pela primeira vez tava cozinhando um panelão de tchaka e convidou a gente pra comer. É tipo uma sopa com muita coisa dentro. Nunca tinha ouvido falar.

Naquela mesma semana ouvi na casa dos haitianos J Perry, um cantor bem conhecido, e voltei pra São Paulo com aquela música Ayiti pam nan diferan na cabeça e a sensação de que eu realmente não conhecia nada. Nada talvez seja exagero, mas fiquei me perguntando onde eu estava naqueles dois anos. Ou minha cabeça tava fechada, os ouvidos tampados ou então eu tava tão cega tentando aprender um idioma que eu nunca tinha ouvido falar que meio que não absorvi o resto.

Naqueles dois anos graças a amigos haitianos queridos consegui no máximo arriscar uns passos de konpa, achar uns evento doido de cultura haitiana em SP, ler umas matérias sobre o país e marcar um dia pra aprender a fazer bannan peze na casa dos meus pais. É claro que o contato com o campo crioulo haitiano e a hospitalidade do povo haitiano me apaixonou de cara mas faltava mais.

No terceiro ano em contato com os haitianos e já em Xaxim, foi só ladeira acima. Comecei a me jogar muito, aceitar todos os convites pra comer, comecei a dar aula de português pra haitianos e aprendi um outro vocabulário além do espiritual, entendi outras expressões, conheci muita gente, ouvi as crianças, ouvi música de criança, vi algumas brincadeiras, comecei a perguntar todo nome de música que ouvia na casa deles, assistia tudo que era documentário sobre o Haiti, fui descobrindo um monte de canal no youtube sobre os mais diversos temas, escrevia toda expressão diferente num caderninho e enfim achei que comecei a aprender um pouquinho mais.

Acontece que dia desses andando na rua e jogando conversa fora com duas amigas haitianas elas começam a falar umas histórias tipo kòkot ak figaro e outras coisas que eu nunca tinha ouvido. Nesse momento pensei “eu realmente não conheço nada”. E entendi que você pode escolher ficar mil anos em contato com um povo e não conhecer nada, só passar de forma superficial por aquilo OU você pode escolher entrar fundo mesmo com a consciência de que ainda não conhece o suficiente MAS pelo menos com a sensação de ter tentado e se divertido um monte.

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Renata Dantas

Gosta de cor, risada alta, gente de tudo que é canto e uma boa conversa. Por aqui, um pouco da minha vivência com a cultura haitiana e outros rolês.