café gelado.
Augusto acordava as 8:15 ao som do despertador de seu celular
levantava da cama e colocava comida para o gato
tomava um longo banho, escolhia a roupa conforme a temperatura do dia e por muitas vezes errava no figurino
morava no terceiro andar, mas sempre descia de escadas porque não gostava de dar bom dia para ninguém, pensando que daria liberdade demais e que logo pediriam algum favor, um palpite ou até mesmo um conselho. evitava
virando a esquina ficava a padaria onde sua mesa estava reservada desde o dia anterior. estrategicamente posicionada na calçada ao lado esquerdo da floreira e próxima ao cinzeiro de chão, fumava seu cigarro enquanto tomava um café curto e o único do dia, já que vinha tão forte que dois daquele conseguiria abrir um rombo em seu estômago que nenhum omeprazol daria conta de resolver
acendeu seu cigarro um minuto e trinta segundos antes que seu café chegasse. deu o primeiro trago e olhando para frente, uma mulher que se aproximava, desequilibrou-se e caiu. rapidamente se levantou e foi ajuda-la. ela agradeceu e logo ficou em pé. os dois se olharam por algum tempo. ele sem graça e ela de amarelo. perguntou se gostaria de se sentar. ela agradeceu e seguiu seu caminho
sentou em sua cadeira e a acompanhou até que sua imagem sumisse de sua vista. lembrou então de dar o primeiro gole no café. estava gelado. deixou o dinheiro e a gorjeta em cima da mesa
chegou em casa e desta vez não subiu de escadas.