Adeus velho chefe e feliz novo líder

Demandas atuais pedem por renovação na forma de gestão

Michel Luca
Michel Luca
5 min readSep 28, 2019

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Sete horas toca o despertador e você acorda se sentindo incrível. Há de fato um tanto de vida pela frente, você esta vibrando e feliz. Na cabeça o pensamento: “Eba, mais um dia para eu avançar naquele meu livro, descobrir como implementar aquela rotina, estudar sobre novas estruturas de dados, fazer deploy da nova feature do aplicativo, pesquisar sobre o algoritmo x…” A vida da galera de TI é realmente cheia de aventuras e nós gostamos de cada pedacinho deste fato. A verdade é que existe sempre algo novo para aprender, e isso é tão maravilhoso quanto escalar o monte Evereste.

Então lá vai você, olhada rápida na rede social e café, feeds, e-mails, lista de tasks for today e café, leitura dinâmica (excludente na verdade) do capítulo daquele livro, café, e partiu, rumo ao ofício… Próximo capítulo do Podcast passando no celular e atualização mental dos tópicos para a reunião (ansioso por mais café). Ufa…

Algum tempo depois, cá esta você em sua reunião, ainda cheio de vida. As veias pulsam e o coração está acelerado, você se sente motivado e em sua mente, bem ao fundo, toca o hino de Rocky Balboa (adicionei o link, para ajudar nessa vontade que deu de ouvir). Porém, tudo desanda quando a porta se abre e entra ele… : o chefe. E esse input no seu lobo frontal faz a sua mente divagar, você se sente drenados pelo simples bom dia do Dementador… É como dar kill -9 em todos os seus processos. Nesse momento só resta energia pra uma coisa, responder a pergunta de um milhão de dólares: “Que raio ainda estou fazendo nessa empresa?”

Afinal de contas, quem é o chefe e por que deveríamos ou podemos nos despedir dessa figura arcaica que nos suga a energia?

Chefe é a pessoa que permanece nos dois primeiros quadrantes da matriz de gestão pessoal criada pelo David Allen e descrita no livro Making it All Work:

Matriz de gestão pessoa — David Allen

Explicando, ele é uma vítima da demanda externa ou um criador enlouquecido algoz, da sua própria equipe. É alguém que só consegue (ou escolhe) reagir à demanda ou um sonhador visionário que pouco concretiza. No final do dia é aquele que apenas embuti a demanda em você (usando de eufemismo), que lhe serve como mero executor. Falta equilíbrio entre controle e perspectiva, o que é a proposta da matriz e que se encontra no quadrante: Captain & Commander. E com isso em mente, sabemos que logo que ele entra na sala apenas duas coisas podem acontecer: excesso de controle ou excesso de visão.

O chefe manda, impõe, exige, controla, dissimula, sonha sozinho e não pede feedback. Vamos falar a real, sua intenção é claramente auto focada, política e arbitrária. E mesmo quando parece que há espaço para opiniões e surge um rascunho de liderança no fim desse túnel, na verdade, tudo o que ele quer é que você concorde com o que ele pensa.

Mas a boa nova é realmente essa, a capacidade que temos de perceber a dissonância dessa postura com os tempos atuais, nos permite concluir que “chefe” esta cada vez mais em desuso. A cada ano eu vejo menos chefes e mais líderes no mercado. Vejo desenvolvedores desempenhando o papel de líderes, e gerentes que como líderes entendem o papel crítico e a importância do know-how do desenvolvedor.

Nas equipes atuais, não existe mais um único papel de alta relevância, mas sim, múltiplos papéis que se complementam em torno do propósito da organização. Se você é capaz de enxergar isso então seja bem vindo.

Líder é a antítese do que citei, ele não manda, ele cativa, não exige, motiva! Não controla, organiza e empodera. Não dissimula ou aliena, mas expõe a expectativa e agrega conhecimento. Sonha junto e capitaliza a criatividade da equipe. Reverte lucro em bônus. Pede e da, sazonalmente, feedbacks e reconhecimento. Não se importa em não saber, parte do princípio que tem equipe para isso.

Sua intenção é entregar valor, pois entende que no final isso justifica sua presença e se reverte em um bom salário para todos. O líder te mantém vibrando quando entra na sala… E te energiza ainda mais quando sai da sua presença. E antes de tudo, ele detesta ter, ou ser chefe!

Se você quer o capital que provém do meu intelecto, além da minha força de trabalho, me cative!

Acrescento que no meu entendimento essa mudança de chefe para líder, tem se tornado cada vez mais clara, principalmente no mercado de TI. A razão é a aceleração dos processos de produção, o que leva a empresa a pensar não só no produto, mas no como produzir mais rápido, diferente, melhor e ser pioneira! Isso leva ao reconhecimento da existência e uso do capital intelectual, aonde o peso não é a formalização do papel, e a gestão de sucesso não se da pela alienação/mais valia, mas pelo despertar crítico e monetização do intelecto.

Perceba que liderar é um desafio a lá Sísifo, para quem insiste em ser chefe. E se você se identificou com este papel (de chefe), há sempre espaço para rever e inovar.

Comece reconhecendo o fato de que até mesmo o júnior na sua equipe, pode ter lido ontem sobre uma tecnologia, que resolve o problema de hoje! Depois peça feedback a sua equipe, tenho certeza que ainda há chance de renovar essa relação e reescrever essa história.

É inegável que os novos e futuros desafios destituem por si só a figura do chefe, em prol daquele que é capaz de fazer a soma do todo ser realmente maior que as partes, ou seja, do líder.

Por isso é possível a cada ano dizer adeus a essa figura industrial de comando e controle, e alegrar-se ao dar as boas vindas ao realizador de hoje e do amanhã.

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Michel Luca
Michel Luca

Desenvolvimento Pessoal, Desenvolvimento de Software e Inspirações. Acredito que o mundo ideal, se constrói, quando compartilhamos o saber!