A Bela e a Fera (1991) — Parte 1

Miguel Serpa
29 min readSep 9, 2018

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Antes de ganhar sua transformação pelas mãos da Disney em 1991 e impactar a indústria da animação para todo o sempre, A Bela e a Fera inicialmente surgiu da mente de Gabrielle-Suzanne Barbot de Vileneuve, que originalmente escreveu a história como um conto de fadas no século XVIII, sendo publicado pela revista feminina francesa La Jeune Américaine et les contes marins em 1756. No entanto, a versão mais conhecida da história veio pelas mãos de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, que, em 1756 pegou a história de mais de trezentas páginas de Gabrielle-Suzanne e a encurtou e adaptou, publicando-a na revista infantil Magasin des enfants, assim como fez Andrew Lang, em 1889. Ainda assim, nem a história de Gabrielle-Suzanne é inteiramente original, sendo baseada em diversos outros contos, porque a realidade é que contos folclóricos envolvendo uma bela donzela se apaixonando por um animal ou um monstro são comuns em diversos povos e diversas culturas ao redor do globo. O significado deste tipo de narrativa foi descrito pela autora e folclorista Maria Tatar como sendo; “O poder transformador da empatia, que carrega mensagens sobre como nós lidamos com ansiedades sociais e culturais sobre romance, casamento, e o outro”.

Cupido e Psique

Influências para A Bela e a Fera de Gabrielle-Suzanne incluem o mito greco-romano de Cupido e Psique, que conta a história de Psique, a mais jovem de três filhas de um rei, e também a mais bonita delas, sendo celebrada e venerada pelos homens da região por sua beleza, homens esses que até deixam de fazer oferendas para a deusa do amor, Vênus, para venerar e fazer oferendas em nome de Psique, o que enfureceu a deusa. Vênus manda seu filho, Cupido, para executar sua vingança, atingindo a garota com sua flecha mágica para que ela se apaixone por alguém horrível. No, entanto, Cupido acaba se espetando com sua própria flecha, que faria ele se apaixonar pela primeira coisa que visse, sendo esta coisa a própria Psique. Assim, ele desobedece às ordens de sua mãe e não segue em frente com os planos da mesma. Logo, o tempo passa e suas duas irmãs se casam, mas a bela Psique é a única que continua solteira, fazendo seu pai suspeitar que ela estivesse sob a fúria dos deuses, indo até um oráculo, que diz que Psique está destinada a se casar com um dragão terrível, que vivia no topo de uma montanha, e que aterrorizava o mundo e era temido até pelo submundo. Psique decide aceitar sua sina e, vestida com roupas fúnebres, sobe a montanha para encontrar seu futuro parceiro. No meio do caminho, no entanto, o vento do Oeste a leva para uma casa elegante, com colunas de ouro, e pisos decorados com pedras preciosas. Lá ela ouve uma voz em uma penumbra, de quem ela presuma que seja o monstro, que pede que ela se sirva e jante com ele. Eles vão para o quarto e consumam a união. Psique passa a viver na casa com o monstro, que vive nas sombras e a proíbe de tentar ver seu rosto, e logo engravida. Suas irmãs invejosas, ao descobrir o lugar chique em que Psique vive, a convencem de tentar descobrir como é o rosto de seu parceiro e matá-lo, porque logo ele não só a devoraria, mas também o seu bebê. Enquanto a criatura dorme em uma noite, Psique, com uma adaga em mãos, liga uma lamparina para descobrir quem era o monstro, e matá-lo, apenas para encontrar Cupido, e acidentalmente se espeta com uma de suas flechas, se apaixonando por ele. Cupido acorda com a confusão, e vai embora voando. Psique passa a procurar por seu amado, e descobre que precisará ir até Vênus, sua sogra, se quisesse reencontrar o marido. No encontro, Vênus aproveita da oportunidade para finalmente se vingar da rival e a desafia a realizar três tarefas impossíveis se quisesse encontrar com seu filho novamente; a primeira consistindo em separar pilhas de grãos variados em um curto período de tempo, a segunda em roubar a lã de ouro de um rebanho de ovelhas e a terceira de ir ao submundo com uma caixa de cristal e pedir à Proserpina, esposa de Plutão, desse à ela um pouco de sua beleza, com a condição de que se abrisse a caixa, seria amaldiçoada. Sem que ela soubesse, Cupido ajudara Psique em todas as provas, mas, no fim, não consegue impedir que ela abra a caixa e seja amaldiçoada, caindo em um sono eterno. Cupido pede ajuda a Júpiter, para que ele convença Vênus a salvar sua amada, que cede, e Psique acorda, se transformando em imortal e se casando com Cupido.

O mito de Cupido e Psique é uma das mais antigas versões de contos envolvendo uma bela humana que se apaixona e se envolve com um ser de outra espécie, e a este conto é atribuído o papel de disseminar esta narrativa por entre diversos povos ao redor do mundo. Um outro conto que teve influência direta em A Bela e A Fera foi O Rei Porco, de origem italiana, escrito por Giovanni Francesco Straparola no século XVI. Ele conta a história de um rei e uma rainha que nunca conseguiram ter filhos, até que três fadas a abençoam com uma criança, no entanto, seu filho nasceria na forma de um porco, e só se transformaria em um homem em seu terceiro casamento. O rei considerou assassinar seu próprio filho quando este nasceu, mas desistiu, e passou a criá-lo como uma criança normal. Certo dia, o porco pediu à sua mãe para se casar, e a rainha persuadiu uma mulher pobre a dar a mão de sua filha mais velha em casamento. Na noite de núpcias, a garota decidiu matar o porco, que, em troca, a matou com suas patas. Então, ele pediria casar com sua irmã, mas a mesma coisa aconteceria. Novamente, ele pede a mão da terceira irmã em casamento. Desta vez, a mulher se mostrou gentil para com o porco, e retornava seus carinhos. Logo, o porco revelou um segredo para a mulher; certa noite, ele retirou sua pela de porco e se revelou como um homem. Ele continuou passando seus dias como porco, mas toda noite ele voltava para sua forma de homem, ao deitar com sua amada. Eles logo tiveram um filho humano. Finalmente, a mulher revelou o segredo do porco para seus sogros, que espiaram seu filho durante a noite até ele tirar a sua pele de porco. O rei se aproveitou daquele momento e destruiu a dita pele, logo abdicando o trono e o dando para seu filho que, humano, passou a governar o reino e ficou conhecido como “Rei Porco”. Logo, uma versão mais rebuscada desta história foi reescrita por Madame d’Aulnoy, mas o maior impacto que esta história teve em A Bela e a Fera foi estético, com muitas das primeiras ilustrações do conto retratando a titular fera justamente como um javali.

O conto de A Bela e a Fera, pela interpretação de Jean-Marie Leprince de Beaumont, segue a titular Bela, filha de um comerciante rico, que possui três filhas, incluindo a protagonista, e três filhos. Viúvo, o homem vive uma vida rica e abastada. Ao contrário de suas irmãs, que são mimadas, egoístas e superficiais, Bela é bondosa, de bom coração e altruísta, o que dá abertura para que suas irmãs a explorem e a tratem como uma empregada dentro de sua própria casa. Certo dia, todos os produtos do pai de Bela se perdem em um naufrágio, e a família logo se torna pobre, tendo que abrir mão de suas riquezas e se mudar para o interior, passando a levar uma vida humilde, tendo que trabalhar para o próprio sustento. No entanto, o pai de Bela recebe a notícia de que uma de suas cargas sobreviveu ao naufrágio, tendo acabado de chegar até o porto, e ele decide ir até lá buscá-la. Seus filhos pedem ao homem que traga armas e cavalos da viagem, e suas duas filhas mais velhas pedem por vestimentas e joias, enquanto que Bela apenas pede que seu pai retorne bem da viagem. Quando ele insiste que ela peça por algum presente, a garota pede por uma rosa, tendo em vista que aquele tipo de flor não nascia no lugar em que viviam.

Quando finalmente chega no porto, o homem descobre que sua carga foi confiscada pelo governo para pagar suas dívidas, e ele volta para casa sem um tostão na mão. No caminho, ele se perde durante uma tempestade e encontra um castelo aparentemente vazio na floresta. Lá, ele encontra comidas e bebidas postas na mesa, e aceita-as como um presente do dono invisível do local. Ele passa a noite lá e, no dia seguinte, ao ir embora, encontra rosas sendo cultivadas no jardim, e colhe uma, aproveitando para ao menos ter um presente para dar à Bela. Imediatamente, uma Fera aparece na frente do homem, se revelando como o dono do castelo, e o acusando de roubar seu bem mais precioso após o mesmo lhe hospedar em seu palácio, e dizendo que o comerciante deverá morrer por este crime. O mesmo implora por sua vida, dizendo que apenas colheu a rosa como um presente para sua filha mais nova, e pede para voltar para casa. A Fera o permite, contando que ele convença uma de suas filhas a retornar e ficar ao castelo para todo o sempre — sendo que ela teria que vir de livre e espontânea vontade, e não como prisioneira, caso contrário, o comerciante teria que retornar e passar a viver o resto de seus dias naquele lugar. O homem tenta esconder o encontro de seus filhos quando retorna para casa, mas eles arrancam-no do mesmo.

Bela decide que irá se entregar para a Fera, já que foi graças ao seu pedido que o mesmo se encontra nessa situação, que a aceita educadamente, e diz que ela agora se tornará a dona do local e ele estará ao seu dispor, dando-a comidas e presentes. Toda noite, os dois jantam juntos, e toda noite a Fera pede Bela em casamento, que recusa toda vez. Sempre ao ir dormir, ela sonha com um lindo príncipe, que a pergunta porque a mesma recusa o pedido de Fera, para o que ela responde que não o ama. Bela passa a desconfiar que Fera tem o príncipe de seus sonhos preso no castelo, e passa as tardes procurando por ele, apenas para encontrar quartos encantados com bens preciosos, mas nunca o príncipe.

Com saudade de sua família, Bela pede à Fera que ela a deixe visitá-la. Fera atende ao pedido de sua amada, com a condição de que ela retorne em exatamente uma semana, ou então ele estará morto quando ela retornar. A menina aceita, e volta para sua família. Seus pais e irmãos a acolhem de braços abertos, mas suas irmãs logo ficam com inveja da vida luxuosa que sua irmã leva no palácio, a manipulando para que ela fique um dia a mais do que o combinado na casa da família, ao invés de retornar para a Fera. No entanto, ela logo se sente culpada, e volta correndo para o castelo, encontrando a Fera quase morta, jogada no chão. Em seus últimos suspiros, a Fera pergunta se Bela aceita se casar com ele mais uma vez, para o que ela responde que sim. Então, ele se transforma em um belíssimo homem, que se revela o príncipe de seus sonhos, a explicando que há muito tempo uma bruxa havia lhe amaldiçoado, maldição essa que só poderia ser quebrada caso alguém conseguisse amá-lo apesar de sua aparência monstruosa. Assim, a Bela e a Fera se casam e vivem felizes para sempre.

O Bela e a Fera original é marcante por, diferente dos outros contos de fadas que se popularizaram com o passar dos séculos, possuir uma origem muito bem delimitada. Enquanto é difícil registrar a primeira versão de contos como Cinderela, Branca de Neve, A Bela Adormecida, entre outros, com diversas versões dessas histórias espalhadas por diversos cantos, e muitos historiadores e acadêmicos acreditando que sua origem é oral, passadas pelas pessoas e povos como folclore até que um ou outro tenham as registrado de forma escrita, A Bela e a Fera tem sua primeira versão bastante discernível, sendo escrita quase que como um romance ou uma novela, pelas mãos de Gabrielle-Suzanne Barbot de Vileneuve. Sim, diversos contos inspiraram a criação de Vileneuve, como os já citados Cupido e Psique e O Rei Porco, além de diversas histórias de narrativas similares serem comuns com milhares de povos e culturas distintas; incluindo a Índia (que possui um conto onde uma mulher se casa com uma cobra) a América Latina, mais especificamente o Chile (um papagaio) e a África (uma hiena) — mas a história de título A Bela e a Fera tem uma autora e uma data de publicação específicas e estabelecidas. Com mais características de um romance do que um conto de fadas, a história de Villeneuve é bem mais rebuscada e extensa do que um simples conto folclórico, com mais de trezentas páginas, sua narrativa elaborada e cheia de detalhes, com diversas curvas e elementos narrativos que vão sendo adicionados a medida que a história avança; por exemplo, ao invés de ser uma simples de história que acaba com a transformação da Fera em príncipe, nós vamos descobrindo mais coisas sobre ele, descobrimos sua história de origem e como sua maldição se deu, também nos é revelado que na realidade Bela não é a filha de um mero comerciante, mas uma princesa, filha perdida de um rei com uma fada, além de o próprio mundo da obra ser bem mais elaborado, com a magia da obra sendo explicada e analisada, ao invés de apenas ser aceita como um elemento comum deste tipo de conto.

Tudo isso para dizer que A Bela e a Fera de Villeneuve, mais do que um simples e curto conto de amor entre uma mulher e um monstro, com uma moral discernível no final e uma prosa fácil, está mais para um romance autoral, não tanto alinhado aos contos de Branca de Neve e Cinderela, mesmo que a autora tenha bebido dessa fonte para corroborar seu texto. Quem deu esse tratamento à A Bela e a Fera foi Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, que drenou muito da história de Villeneuve, para que ela se tornar-se mais semelhante a estes outros contos, ganhando uma repaginada que aderiu-lhe o status de conto de fadas, sendo bem mais simplista, focando-se apenas no básico e terminando com uma moral discernível e didática. Isso se deu porque, enquanto Villeneuve escrevia uma narrativa para adultos, Beaumont adaptou a obra para o público infantil — publicando sua versão literalmente em uma revista para as crianças — e, para isso, precisou deixá-la mais palatável para o público mais jovem, se espelhando nos contos de fadas lúdicos e simplistas para tal. Foi com essa versão que a história acabou se espalhando, ganhando seu status de folclore e o mesmo tratamento que esse tipo de história, sendo contada para as crianças de forma oral ou antes de dormir, ganhando popularidade e se consolidando como um dos grandes contos de fadas ocidentais.

Mas ambas as histórias ainda possuem elementos em comum, no caso, uma mensagem a ser passada para o espectador. Claro que a mais identificável e óbvia é de não julgar um livro pela capa e aprender a amar alguém para além das aparências, mas, voltando para Maria Tatar, que falou que essas narrativas sobre o romance entre o belo e o monstruoso se tornaram tão populares justamente por refletirem as ansiedades culturais e sociais de suas respectivas épocas, sempre pintando o monstro como o “outro”, isto é, alguém pertencente a um grupo social e/ou cultural distinto do nosso, que somos representados, muitas vezes pela Bela. Tatar falou especificamente sobre o conto de A Bela e a Fera, analisando-a como uma preparação das garotas da França do século XVIII para casamentos arranjados, algo que era um elemento comum de muitas dessas narrativas, tendo em vista que por séculos casamentos arranjados eram um costume comum de diversas civilizações diferentes ao redor do globo. Assim, A Bela e a Fera vinha para assegurar essas mulheres de que, talvez, se casar com um desconhecido não seja tão ruim assim, e que, por mais que ele pareça um monstro, ou uma fera, inicialmente, se elas parassem de julgar o exterior e aceitassem seus deveres para com a família, talvez descobrissem que esse monstro não fosse tão ruim assim, e pudesse até se apaixonar por ele (esse vídeo aqui traz uma interessante análise sobre como a narrativa do amor entre a beleza humana e a monstruosidade de uma fera reflete os nossos valores para com o “desconhecido” e como eles foram mudando ao longo do tempo).

Jean Cocteau

Mas, enfim; assim como Beaumont pegou a história de Villeneuve e a adaptou para uma outra linguagem, não demorou muita para, com o surgimento do cinema, seu conto se adaptasse para as telas grandes. Uma das principais e mais conhecidas versões da história a anteceder a da Disney é do cineasta francês Jean Cocteau, realizada em 1946. Cocteau foi um autor de cinema francês de extrema relevância, do início do século vinte, além de ser poeta, pintor, romancista, ator e dramaturgo. Sendo amigo de grande parte da comunidade artística europeia na época, incluindo Picasso, Miró, Proust e Salvador Dalí, Cocteau foi uma das principais figuras da cena avant-garde parisiense, sendo um dos responsáveis por introduzir o conceito ao cinema francês, com suas influências dadaístas e surrealistas — apesar de o próprio se recusar a se auto afirmar como parte de algum movimento específico. Seus trabalhos inspiraram o movimento da Nouvelle Vague, da década de cinquenta, quando críticos e amantes de cinema, como François Truffaut e Jean-Luc Godard, cansados do que eles percebiam como um modelo engessado e conservador de se fazer cinema, na França, principalmente, mas também nos Estados Unidos, decidem fazer seus próprios filmes, priorizando a autonomia criativa, produções baratas, em contraste com as exuberantes vindas dos grandes estúdios de cinema, e liberdade estética, não ligando para convenções técnicas ou coisas do tipo.

A Bela e a Fera de Jean Cocteau é bem mais próxima ao material original — de Beaumont — do que o filme da Disney, e segue a história mais ou menos pelo mesmo caminho; o pai de Bela pega uma das rosas do jardim da Fera, que, em troca de deixá-lo ir sem punição, pede que uma de suas filhas venha morar com ele em seu palácio, por livre e espontânea vontade, no que acarreta com Bela indo viver com Fera, que pede para se casar com ela todas as noites, no que a menina sempre recusa, mas acaba desenvolvendo um carinho, e eventual amor, pelo monstro. O filme também é bem mais preso às suas origens como conto de fadas do que a obra de 1991, valorizando o ludismo e escapismo inerentes do gênero, como a carta aberta, escrita por Cocteau para o público, que abre o filme, atesta; nela, o diretor incentiva o público a se reconectar com sua criança interior e assistir àquela obra não com o cinismo e a racionalidade do mundo adulto, mas com o senso de fantasia e inocência dos pequenos. O estilo de Cocteau, bem menos convencional, artística e narrativamente falando, do que o das obras da Disney, prezando sempre por um toque surrealista e esotérico, também contribui para deixar o filme mais livre e leve, menos preocupado com a narrativa, e priorizando por recriar a essência mágica dos contos de fadas em si. O filme foi um sucesso logo em sua estreia, e até hoje é tido como um dos grandes pilares do cinema francês.

Logo, este filme artístico e autoral chegou até Walt Disney, e seu estilo de se fazer cinema diametricamente diferente de Jean Cocteau, mas que há tempos sonhava em fazer uma adaptação animada de A Bela e a Fera, logo quando seu primeiro projeto em longa-metragem, Branca de Neve e os Sete Anões, se completou e o animador passou a buscar novos materiais para adaptar. Tentativas de transformar o conto de Beaumont em uma animação duraram dentro do estúdio, indo dos anos trinta até os anos cinquenta, mas os animadores nunca conseguiram encontrar uma maneira de transformar o conto em uma animação cinematográfica. A última pá de terra no plano de Walt Disney foi o filme de Cocteau, que, com seu sucesso de crítica e público, desencorajaram-no a seguir em frente com sua versão, acreditando que jamais conseguiria criar algo tão bom e que pudesse rivalizar com a obra francesa.

No entanto, anos mais tarde, A Bela e a Fera foi ressuscitado, em 1987, com a Disney já nas mãos de Eisner e Katzenberg, que, assim como Disney fizera muitos anos atrás, caçavam por novos projetos para dar continuidade à sua gestão da companhia, e do estúdio, respectivamente. A Bela e a Fera começou seu processo de produção durante a preparação para Uma Cilada para Roger Rabbit, como o próximo projeto para o estúdio-satélite que a Disney havia aberto em Londres, para auxiliar o filme de Steven Spielberg, que era realizado no local. O animador Richard Purdum foi o selecionado para assumir a direção do longa, junto com o produtor Don Hahn. Sob o controle de Purdum, A Bela e a Fera se caminhava para caminhos completamente diferentes do que acabou virando; não era um musical, e era muito mais próximo não só do conto de fadas original, mas também do filme de Cocteau, seguindo a mesma história de Bela, filha de um comerciante que tem que se entregar à Fera quando seu pai rouba uma das rosas de seu jardim — as irmãs invejosas da protagonista, presentes no filme de Cocteau, apesar de não estarem aqui, são trocadas por uma tia invejosa, que possui a mesma função narrativa. Mas a obra também se prendia muito mais a realidade do que o seu típico conto de fadas, especialmente as versões da Disney, ao se passar deliberadamente durante a França do século XIX, e seus personagens vestiam roupas típicas da época, com o tom da obra no geral sendo bem mais sério e menos fantasioso do que a versão que chegou nos cinemas em 1991 (este também foi o primeiro filme do estúdio em muito tempo a ser escrito por uma roteirista de fato, no caso, Linda Woolverton, a pedido de Michael Eisner — historicamente, as animações não são escritas como filmes live-action, e se realizam através de storyboards, isto é, desenhos em sucessão, que vão narrando a história, como um quadrinho, mas Eisner e Katzenberg, que nunca haviam trabalhado com animação antes de caírem de paraquedas no estúdio, sempre estranharam a técnica, e defendiam o uso de roteiros, o que começou a ser feito aqui).

Mas o filme não funcionava. Ao ver como as coisas estavam caminhando com A Bela e a Fera, Jeffrey Katzenberg não escondeu seu descontentamento e mandou que tudo aquilo fosse descartado e as coisas começassem do zero — o filme precisava de mais vida, de mais magia, de mais Disney. Purdum logo renunciou sua posição como diretor, enquanto Katzenberg descobria exatamente o que ele queria de A Bela e a Fera: um filme como A Pequena Sereia, um musical lúdico e envolvente, que pegasse a fórmula típica da Disney, envolvendo contos de fadas, príncipes e princesas, um vilão terrível e o amor salvando o dia, e a reformulasse para uma nova geração de pessoas, mesclando tanto o futuro quanto o passado da companhia. Jeffrey logo se voltou para Ron Clements e John Musker, os diretores da história de Ariel, e para Howard Ashman e Alan Menken, os musicistas, querendo recriar a fórmula da Broadway que foi tão integral para A Pequena Sereia. A dupla de diretores declinou o pedido, alegando estarem cansados após seu envolvimento com A Pequena Sereia, mas Ashman e Menken prontamente decidiram se envolver com A Bela e a Fera. A direção ficou a cargo de Kirk Wise e Gary Trousdale, que até então só haviam dirigido um curta para uma das atrações dos parques da Disney. Juntos, Ashman e Menken, os musicistas, Wise e Trousdale, os diretores, Linda Woolverton, a roteirista, e Don Hahn, o produtor, remodelaram a história, decidindo deixá-la mais lúdica e menos séria, como sua versão anterior, adicionando personagens secundários na veia de Sebastião e Linguado, que dariam leveza a obra e a tornariam mais cômica, atribuíram um vilão típico, com Gaston, e, talvez o mais importante, já que a história de A Bela e a Fera envolvia essencialmente os personagens título e pouco além deles, o grupo decidiu aprofundar essas figuras e a deixarem mais humanizadas do que no conto original.

Com o novo cronograma de Michael Eisner, no entanto, que determinava que uma animação nova deveria sair a cada ano ao invés de a cada quatro, como era o comum, A Bela e a Fera tinha um teto menor do que o normal para se dar por encerrado, pois com esta mudança a produção desses filmes passou a durar dois anos ao invés de quatro, e agora tinha apenas um ano para se completar, com o outro sendo desperdiçado na primeira versão descartada da obra, desde os primeiros estágios da animação até a finalização do filme, com um corpo de artistas inteiramente dedicado para que a obra se fechasse a tempo. Poderia, finalmente, a Disney realizar uma versão de A Bela e a Fera para rivalizar com a de Jean Cocteau?

Bom, primeiro, comecemos pelo óbvio: a animação. Seguindo o padrão dos dois últimos filmes do estúdio, que vinham num crescendo cada vez mais aprimorado e se aproximando da beleza visual que os primeiros trabalhos da era de Walt Disney traziam consigo, A Bela e a Fera mantém esse padrão em si, e entrega um trabalho estético ainda mais bonito e incrível que A Pequena Sereia, e empatando com Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus. Os cenários aqui são incríveis, de tão vastos, amplos e detalhados, ao mesmo tempo em que os animadores conseguiram deixá-los mais parecidos pinturas ou gravuras propriamente ditas, deixando os planos de fundo mais suaves e não literalmente colocando todos os detalhes ali, mais passando a ideia daquele lugar, o que realmente ajuda a criar um senso maior de ludismo aqui, como se nós tivéssemos em um lugar de fantasia, um lugar não especificado, apenas um ambiente mágico e encantado onde uma história como essa pudesse ocorrer. Este estilo me lembrou até a estética de Bambi, que também deixava seus planos de fundo menos detalhados do que os personagens e os objetos cênicos centrais, contrastando o detalhe dos animais. No entanto, enquanto Bambi se inspirava em pinturas impressionistas, os animadores de A Bela e a Fera foram atrás do romantismo para bebe de sua fonte ao criar este universo, o que faz sentido, porque a Disney como um todo, e especialmente contos de fadas como esse, são puro romantismo, e o mundo de A Bela e a Fera se mantém fiel a essa faceta e, como citado, nos transporta para este mundo romântico dos contos de fadas.

Mas claro que ainda sim há um nível de detalhamento absurdo aqui. É como eu venho dizendo, durante este período da Renascença, a Disney passa a ousar como a tempos não fazia, e abraça uma escala muito maior em seus filmes, no sentido visual mesmo, com seus quadros amplos e vastos, que capturam todo o poderio dos cenários e os passam para nós de forma gigantesca e absurda. Aqui, não é diferente. O melhor exemplo disso é o castelo da Fera, ao qual os animadores deram um detalhamento absurdo, se inspirando muito na arquitetura gótica para construí-lo, com suas gárgulas e sacadas de pedra, seus longos corredores e escadas, e todos os objetos que se encontram pelos corredores do local. Os animadores fizeram uma viagem à França para o Vale do Loire, na França, para estudar as paisagens do interior do país e a arquitetura, e isso se traduz perfeitamente para o castelo da Fera, que me remeteu aos antigos filmes de contos de fada da Disney, como Cinderela e A Bela Adormecida, que, justamente traziam essa escala e esse maior cuidado consigo, coisa que a Disney estava recuperando aqui, com os animadores se reconectando com essa veia artística do passado da companhia.

A Bela e a Fera realmente traz todo esse polimento e delicadeza para seus visuais, e até para os seus personagens, outro elemento da animação que se destaca. Assim como em Bernardo e Bianca, nós podemos perceber claramente o impacto do recém estabelecido sistema CAPS nessas figuras que são extremamente suaves em seus traços, e se movimentam de forma segura e totalmente natural dentro do próprio universo — os dias do mal acabamento e sensação de pobreza e poluição da xerografia, à essa altura, soam mais como um sonho ruim do que qualquer outra coisa. E, falando em movimentos de personagem, eu também adoro como esse filme consegue mesclar sem problemas o polimento e a delicadeza de sua narrativa principal, mais séria e densa, com diversos momentos cômicos, com piadas físicas, envolvendo os personagens secundários, algo que veríamos saindo de um desenho animado. É como se os animadores tivessem total consciência de que não precisam sacrificar o senso de diversão e leveza de sua história para serem levados a sério, só basta contar uma boa história. E esse filme junta o melhor que as animações têm para oferecer: tanto histórias poderosas que dialogam com todos e tocam fundo em nossos emocionais, quanto sequências absurdas e escrachadas, agradando à crianças e adultos e não sacrificando um para dialogar com o outro.

Mas em outra parte técnica onde A Bela e a Ferra arrasa não necessariamente correlacionada com a animação propriamente dita, é a parte cinemática. Eu disse em outro texto que, além de permitir a transcrição dos desenhos dos animadores para o computador, para serem coloridos e retocados, o sistema CAPS também dava aos animadores total controle da câmera, fazendo com que eles pudessem ampliar e afastar o zoom, posicionar a câmera de forma livre e movê-la por entre os cenários, o que dava ainda maior sensação de escala, pois a câmera poderia nos passar todo o poderio desses cenários com sua cinematografia, se afastando e mostrando todo o alcance deles de longe, ao mesmo tempo em que poderia ampliar-se e se mover pelos mesmos, algo que antiga câmera multiplano, da época de Disney fazia, e que aumentava ainda mais a sensação de imersão, com o filme realmente tendo o cuidado de levar seu público passo a passo descobrindo aquele ambiente. Isto é feito de forma magnífica em A Bela e a Fera, com a câmera não só passando o escopo desses cenários, mas os efeitos multiplano, que se adentram pelos desenhos dos animadores, fazem parecer que mais do que apenas um desenho, aquele lugar realmente existe, e nós poderíamos muito bem entrar ali e se aventurar por conta própria — nós não sentimos mais que estamos vendo desenhos em sequência, mas que o universo de A Bela e a Fera realmente existe, tamanha a destreza do uso da câmera para construí-lo, junto do detalhamento que os animadores aderem, que ajudam a corroborar este ambiente e deixá-lo cheio de vida — para todo lugar que olhemos, há algo acontecendo, sobretudo nas cenas mais cheias de elementos, e isso dá a impressão de que há vida naquele universo para além da história principal.

Outro elemento aderido aqui graças aos avanços tecnológicos é o uso do CGI que, surpreendentemente, não ficou datado, e isso se dá em parte porque ele foi usado com cautela, apenas em momentos chave, onde ele seria realmente necessário, como em alguns dos números musicais, e este uso da animação computadorizada, ao invés de não mesclar bem com o restante da animação, como muitas vezes é o caso com estes primeiros testes da animação com o CGI quando vistos pelos olhares contemporâneos, realmente corroboram o visual, e ajudam a engrandecê-lo. Nem a própria Disney seria tão sortuda assim em suas visitas futuras ao mundo do CGI, com a mesma talvez se sentindo confortável demais com a técnica, e abusando da mesma em alguns de seus futuros filmes, de forma que seu uso, hoje, já deixou de ser impressionante, devido ao avanço e melhora da técnica ao longo dos anos, soando como datado e inorgânico.

Acho que desde seu princípio A Bela e a Fera já deixa claro que terá uma animação exemplar, com sua sequência de abertura belíssima, que conta a história de Fera e como ele se transformou em um monstro, através dos vitrais coloridos do castelo, que nos mostram o passado do protagonista com seus vidros coloridos — de uma criatividade visual incrível.

Depois disso vem as músicas. Ah, as músicas. Compostas por Howard Ashman e Alan Menken, a mesma dupla que dois anos antes revolucionou a Disney aderindo a fórmula dos musicais da Broadway à animação, uma mistura que se mostrou tão certa quanto arroz com feijão, obviamente que nós esperaríamos que elas fossem nada menos que fenomenais, e, felizmente a dupla entrega novamente. Desta vez, A Bela e a Fera funciona ainda mais como um musical do que A Pequena Sereia, com todo o seu repertório sendo exclusivo de músicas típicas desses espetáculos, que dão ao filme a identidade intrínseca de um musical da Broadway. Tem até um número musical de sete minutos, algo nunca antes visto em um filme da Disney, que abre o filme, enquanto nós conhecemos a figura de Bela e sua cidade. A história avança a partir da música, e essa inclusive nos ajuda a compreender a história e nos passar informações — é isso que eu quero dizer quando falo que o filme tem a essência dos musicais intrínseca a si, as canções não são mais um adereço distrativo, mas são totalmente atreladas para o funcionamento da história e da narrativa, a principal característica deste gênero. A música a que eu estou me referindo é Bela. Só em seus sete minutos nós conhecemos a protagonista, sua personalidade e seu papel dentro da história, a cidade e como ela se relaciona com Bela e o vilão e seus interesses. Apenas este número já nos dá praticamente todas as informações que precisamos, e todo o resto da obra seguirá as deixas deixadas por ele. Sem falar que a música em si é extremamente divertida e envolvente, enquanto nós vamos conhecendo a cidade, e percebemos o quão superficiais e mesquinhos são seus habitantes, e o quanto eles julgam Bela por a mesma se esquivar dos padrões impostos à ela, e como Ashman e Menken deram um jeito de musicalizar o diálogo entre essas pessoas, de forma que a maior parte da música é composta dos vizinhos se cumprimentando e conversando um com o outro, mas de forma cantada, retratando todo o movimento da cidade como um grande número. Além disso, a animação da sequência é simplesmente fantástica; foi nessa cena que eu pensei quando elogiei a forma como a câmera se move por entre os cenários de forma que eles pareçam locações reais, porque é exatamente assim que Bela funciona: nós acompanhamos Bela pelas ruas da cidade enquanto ela anda pelos seus vizinhos, de forma fluída e contínua.

Assim como A Pequena Sereia, este filme também reserva músicas para seus secundários. A primeira dela, À Vontade é um dos meus momentos favoritos de toda a história da Disney, sendo cheio de vida e extremamente envolvente, e é impossível não se pegar minimamente balançando a cabeça enquanto os objetos encantados cantam a música para Bela. Além disso, a animação de toda a sequência é incrível, com a constante introdução de mais e mais objetos vivos, de pratos, à talheres, à potes de açúcar, dançando de forma sincronizada, com os movimentos sendo todos fluidos e belissimamente coreografados pelos animadores. A outra música é uma que não estava lá na primeira vez que o filme chegou aos cinemas; Humano Outra Vez, que, apesar de ser um dos números favoritos de Howard Ashman, acabou sendo cortado por Jeffrey Katzenberg não gostar da maneira com que se encaixava na história. No entanto, quando a obra foi redistribuída para os cinemas em 2002, a música foi incluída, e eu gosto dela por dar uma maior perspectiva dos objetos para a história, enquanto eles cantam sobre sua vontade de, bem, se tornarem humanos outra vez e, mais uma vez, os animadores fazem um trabalho incrível com a coreografia.

No entanto, Humano Outra Vez acaba ficando meio redundante porque seu propósito inicial para a obra era mostrar o relacionamento do casal título avançando e eles se apaixonando um pelo outro, visto pelos olhos dos objetos, e como plano de fundo para o número deles. Mas quando a cena foi cortada, Ashman substituiu-a por Alguma Coisa Acontecer, que também vê o relacionamento da Bela com a Fera avançar pela perspectiva dos objetos, só que dessa vez sendo mais focada nos dois do que como plano de fundo para uma canção alheia, e ela funciona muito bem, com cenas bem animadas que retratam os dois interagindo, que conseguem nos passar a química entre eles de maneira puramente visual, já que a música toca em off em cima desses momentos, e os animadores conseguem, através da linguagem corporal, nos mostrar plenamente o quanto as duas figuras já avançaram e já se aproximaram mais uma da outra, o que faz que, quando Humano Outra Vez toque, e logo depois de Alguma Coisa, inclusive, nós já tenhamos visto antes, então o número fica meio sem propósito. Felizmente, ele não se foca tanto no relacionamento entre os dois e mais nos objetos, o que faz do número divertido, mesmo que não inteiramente necessário.

A Bela e a Fera, como citado, teve uma pegada musical até maior do que A Pequena Sereia, e isso se refletiu até em seus bastidores. Howard Ashman, mais uma vez, teve uma influência muito grande nesta obra, e não serviu apenas como o letrista, funcionando, mais uma vez, como um terceiro diretor não oficial. Ele foi chamado para remodelar a história, depois que a sua primeira versão fracassou, em seus moldes musicais antes mesmo de novos diretores serem escolhidos afinal. E, assim como ele teve grande influência na história, Howard também foi o grande responsável por selecionar o elenco. Ashman foi atrás de atores sobretudo do teatro para dar voz aos seus personagens, preferindo a cena musical de Nova York para cantar suas músicas. Jerry Orbach, ator lendário da Broadway, foi escolhido para dar a voz a Lumière, Paige O’Hara, ainda começando nos palcos, dublou Bela, o dublador de Gaston, Richard White, era um cantor de ópera treinado, David Ogden Stiers, Horloge, começou sua carreira em várias produções da Broadway, antes de migrar para a TV, e, claro, Angela Lansbury, uma das atrizes mais aclamadas tanto do cinema quanto do teatro, tendo ganhado vários Tony Awards, dublou Madame Samovar. Ashman realmente queria que o filme fosse uma legítima produção da Broadway em formato animado, e a própria Angela Lansbury comentou que ele dirigia os atores na hora de gravar suas falas como se realmente estivesse dirigindo uma produção de teatro, fazendo com que mais do que cantassem, os atores performassem e se apresentassem, dando mais autenticidade à A Bela e a Fera, que se fechou realmente como um musical típico.

Mais tarde, a Disney percebeu a oportunidade que isso lhe dava, e transportou A Bela e a Fera para a própria Broadway, como um musical adaptado do filme, que ficou anos em cartaz e se tornou uma das mais lucrativas dessas produções — assim a Disney percebeu que não só a fórmula musical poderia incrementar seus filmes, mas lhe deixava com uma mina de ouro nas mãos, a medida que crescia mais e mais ambiciosa pela década de noventa.

Mas, deixando esses elementos de lado, quem leu meu texto sobre A Pequena Sereia sabe que minha maior crítica ao mesmo se referia ao fato de que, apesar de na obra estarem presentes todos os elementos típicos de um filme da Renascença — uma protagonista curiosa e que quer mais da vida, animais fofos e alívios cômicos, uma vilã perversa e divertida de se acompanhar, e números musicais acompanhando a história — esses elementos não se conectavam juntos para formar uma história necessariamente envolvente, e o filme terminava com uma narrativa fraca, apesar de ainda divertido. No fim, faltava substância para A Pequena Sereia, uma história interessante para acompanhar estes elementos antes citados, e até cheguei a dizer que isso se deu porque A Pequena Sereia foi o primeiro passo da Disney em direção à Renascença, e ela ainda estava aprendendo a aperfeiçoar a fórmula, e que, com o tempo, aprenderia a contar histórias fascinantes novamente. Felizmente, este momento finalmente chegou com A Bela e a Fera.

Parte dois

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