Quebra de risco de taxa de juros de um portfólio

milton-rocha
7 min readMay 23, 2022

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Apesar do cálculo de risco de taxa de juros ser muito disseminado, sabemos que ele depende do vencimento específico de cada um dos fluxos que o portfólio possui, ou seja, não se é possível, e nem correto, comparar o risco de taxa de juros, tanto em duration quanto em DV01 (Dollar Value of a Basis Point) de maneira consolidada na carteira.

Como assim?

Assim como adiantei em outro post, para se visualizar o DV01 de um portfólio, na realidade, é necessário quebrar o seu risco (DV01) em todos os seus KRDV01 (Key Rate DV01), ou seja, em todos os seus DV01 parciais ao longo da curva, para que, tanto o seu risco, quanto o seu hedge, sejam visualizados de forma a realmente inibir os movimentos da curva de juros.

Qual o problema de visualizar risco somente em um ponto?

Ao visualizar o risco em somente um ponto, o portfólio ficará suscetível a movimentos não paralelos da curva de juros, que, na realidade, correspondem aos movimentos mais comuns no mercado.

Solucionando o problema de alocação de risco

Utilizando-se da metodologia apresentada no meu post de Bootstrap da Curva Nominal utilizando-se de NTN-F e LTN. Seguem os dados de mercado com a curva spot já calculada para 20/05/2022:

Elaboração própria
Dados: Anbima | Elaboração própria

Partindo da tabela de dados de mercado é possível notar que já existe uma coluna com os valores de DV01 por título. Isso facilita a noção de risco para um investidor que tenha um portfólio. Por exemplo, ao gerar um portfólio aleatório o investidor teria o risco dimensionado a seguir:

Elaboração própria

— Como interpretar este risco?

Para um movimento paralelo de 0,01% ao longo de todos os pontos da curva de juros, o investidor irá ganhar (caso os juros caiam) ou perder (caso os juros subam), aproximadamente, R$ 13.936,84.

Entretanto, como adiantado, é inconcebível olhar o risco apenas por movimentos paralelos, visto que a curva irá se mexer em cada vértice de maneira individual, o que faz com que o movimento não seja idêntico entre todos os vértices disponíveis.

Calculando o KRDV01

Quebram-se todos os títulos dentro da carteira em todos os fluxos que os compõe, posteriormente estes fluxos serão utilizados para a localização do risco ao longo da curva de juros.

Caso se multiplique todos os fluxos disponíveis no mercado de NTN-F pelo seu respectivo fator de desconto, iremos calcular a matriz de fluxos em valor presente para cada um dos títulos da carteira.

Quebra dos títulos do portfólio aleatório em fluxos financeiros em valor presente:

Elaboração própria

Torna-se fácil de notar que a soma de cada uma das colunas desta Tabela é o DV01 total de cada um dos títulos. Desta forma, agora sim pode-se analisar o quanto que cada um dos títulos gera de DV01 por fluxo de pagamento e, na tabela a seguir, mostro qual seria o tamanho do DV01 por fluxo dada a carteira aleatória apresentada na Tabela 2:

Elaboração própria

Agora que o KRDV01 está calculado, como proceder?

Caso o objetivo seja somente visualizar o risco por fluxo, este risco já está apresentado. Agora, para que o risco seja visualizado em cada um dos vértices da curva de juros de mercado e, para que seja feito o hedge perfeito de cada uma das exposições de KRDV01 que esta carteira gera, deve-se olhar o mercado para procurar produtos que possam gerar uma exposição contrária ao mesmo fator de risco (risco de taxa de juros nominal) para que a carteira se torne completamente imunizada a movimentos.

É claro que o produto a ser utilizado para o hedge é o DI1, pois é o produto de taxa de juros nominal mais líquido do país.

Dados de Ajuste: B3 | Elaboração própria

Na linha pintada em laranja claro, o que acontece é que o DI1 mais próximo do vértice não vence exatamente no mesmo dia que o fluxo de pagamentos, ou seja, não existe casamento perfeito entre risco do fluxo e produto disponível para hedge no mercado de derivativos.

Já nas linhas coloridas de cinza, os DI1 que estão indicados como o mais próximo se repetem a cada duas linhas, ou seja, não existe DI1 mais próximo do que estes vértices disponíveis no mercado, o que faz sentido, visto que para pontos mais longos da curva de juros somente os vértices de janeiro são abertos e possuem algum nível de liquidez.

Desta forma, chega-se ao ponto que o post tem por objetivo abordar

Como quebrar o risco da carteira nos vértices disponíveis no mercado para hedge?

A metodologia para realocação de risco entre vértices disponíveis no mercado é uma quebra linear de risco como pode ser observada em Neto et. al. (2019), p. 202.

Esta metodologia nada mais faz do que realocar, dados os vértices disponíveis no mercado, o DV01 da carteira de acordo com o vencimento do fluxo e os vencimentos de mercado, separando por uma distância calculada de forma linear entre cada um dos vértices.

— Quais casos existem para que se avalie o risco?

Para as próximas etapas adotei a seguinte notação:

du_Port : vetor de todos os du de exposição do portfólio, caso referenciado com um i, é o ponto específico i

du_DI1 : vetor de todos os du de DI1 disponíveis no mercado, caso referenciado com um x, é o ponto específico x

KRDV01_DI1 : vetor de Key Rate DV01 dos DI1, caso referenciado com um x, é o ponto específico x

KRDV01_Port : vetor de Key Rate DV01 do Portfólio, caso referenciado com um x, é o ponto específico x

  1. O seu fluxo vence antes do primeiro vencimento do mercado
(1) Fórmula de alocação de DV01 para fluxos menores que o mínimo dos vértices

2. O seu fluxo vence entre dois vencimentos do mercado

Para este caso existe alocação em 2 vértices ao mesmo tempo. Acham-se os vértices mais próximos ao fluxo de pagamentos da carteira, e que sejam diferentes, para se alocar o risco.

Para se achar o vértice anterior (ant) o que vale é buscar o vencimento mais próximo e menor do que o vencimento do risco do portfólio. Exemplo: No portfólio em questão existe um risco em 1285 du, mas na curva de juros só existem contratos em 1.222 du (J27 — du_ ant) e 1.413 du (F28 — du_post).

(2) e (3) alocação no vértice (do DI1) anterior e posterior ao vencimento do fluxo

3. O seu fluxo vence exatamente no vencimento do mercado

(4) Fórmula de alocação de DV01 para fluxos com vencimento idêntico ao do mercado

4. O seu fluxo vence depois do último vencimento do mercado

(5) Fórmula de alocação de DV01 para fluxos maiores que o máximo dos vértices

Para cada um dos fluxos busca-se um match nas condições de 1 a 4 e, a partir das equações dadas, aloca-se o risco de cada um dos fluxos de pagamento entre os pontos da curva de juros do DI1. Ao se fazer isso e somar, cada uma das alocações nos vértices de DI1, será possível visualizar o risco da carteira realocado para que se faça o hedge na curva.

Tabela com quebra por vértice calculada e quantidade de hedge já apresentada. A coluna Resíduo apresenta o volume, em DV01, que se fará a mais (caso > 0) ou a menos, de risco dado que o DI1 só pode ser operado em lotes múltiplos de 5:

Elaboração própria
  • Para esta tabela mudo a maneira como apresento o KRDV01, demonstrando a ponta na qual ele está se direcionando, ou seja, quem está COMPRANDO uma NTN-F está VENDENDO DV01, pois deseja que os juros caiam (Δy < 0), gerando P&L positivo em caso de queda.

Representação gráfica das exposições vs quebra nova:

Elaboração própria

Nota-se que a maior parte dos pontos, por possuir exposição em fluxo igual ao vencimento, tem ponto exatamente onde a quebra foi feita, já para outros casos, mostra-se quebra intermediária.

Portanto, caso sejam feitos os trades demonstrados na Tabela 7, a carteira estará (quase) perfeitamente hedgeada para movimentos paralelos e não paralelos na curva de juros. O único movimento, que não tem como se hedgear com perfeição, é o de movimentos em cada um dos pontos dada a quantidade de lotes do DI1 que seria necessária para se fazer o hedge.

Este risco residual tende a se tornar menos relevante de acordo com o aumento do posicionamento do portfólio, visto que o ajuste fino de hedge via DI1 se torna mais precisa. Para esta carteira em questão, o resíduo corresponde à 1,71% da exposição absoluta da carteira, com exposição absoluta máxima à um vértice individual de 0,4% no J27, o que é bastante aceitável.

Referências Bibliográficas

[Neto et. al. (2019)] José Monteiro Varanda Neto, de Souza Santos, José Carlos, Mello, e Eduardo Morato. O mercado de renda fixa no Brasil: conceitos, precificação e risco. Saint Paul, 2019

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