Quem é quem no transporte público coletivo carioca? (parte 1 — Consórcio Intersul)

O guia definitivo sobre quem manda nos ônibus da cidade

mineiro
15 min readNov 18, 2015

Nunca foi de interesse público divulgar quem comanda as empresas de ônibus na cidade. Quando alguém toca no assunto, faz sempre o mais do mesmo: é tudo do Barata. Mas a verdade é que não é bem assim (apesar de ser quase isso): no Rio existem empresários mais (ou tão) fortes e influentes dentro do sistema.

A Zona Sul (Consórcio Intersul) é a primeira que eu vou demonstrar. Até pela facilidade e riqueza de informações, fica mais fácil entender por que é a galinha dos ovos de ouro do sistema.

Líder do Consórcio: Real Auto Ônibus

Prefixo: A41 (Letra A do consórcio, número 41 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial:

Reitur Turismo (turismo e fretamento de condomínios)

Premium Auto Ônibus (ônibus executivos da empresa)

Vip Auto Ônibus (empresa usada para dividir as linhas e reduzir a concentração na empresa mãe, só existe no papel)

Friburgo Auto Ônibus (comprada recentemente, opera o transporte coletivo de Nova Friburgo, RJ)

Presente em outros consórcios: Internorte (prefixo B41) e Transcarioca (C41), além do consórcio BRT (E41)

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 016, 110, 111, 126, 128, 170, 172, 173, 178, 181, 190, 440, 442, 443, 444, 460, 462, 463, 538, 548, 2014, 2015, 2017, Troncal-1, Troncal-3 e Troncal-4(*).

Resumindo: Opera quase todas as linhas que trafegam entre Rodoviária/ Central até os principais bairros da Zona Sul, incluindo os frescões. Desde o início do Consórcio, absorveu parte das operações de outras linhas como 538 e 548.

Frota Atual no Consórcio: 328 (Real/ Vip) + 45 (Premium) = 373 ônibus

Idade média: 4,72 anos (o mais velho tem 8 anos de uso)

Transportes Vila Isabel

Prefixo: A27 (Letra A do consórcio, número 27 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial: Nenhuma. É independente, sem vínculo estreito com outras empresas.

Presente em outros consórcios: Não

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 157, 222, 432, 433, 438, 439, 548 e 605.

Resumindo: Opera todas as linhas que trafegam entre Vila Isabel até os principais bairros da Zona Sul. Na sua história, sempre esteve presente na absorção de novas linhas, como a 157 e agora, depois dos Consórcios, absorveu parte da operação da 548. Também opera os ônibus do serviço Metrô na Superfície.

Frota Atual no Consórcio: 184 ônibus

Idade média: 5,00 anos (mais velho tem 10 anos de uso)

Empresa de Transportes Braso Liboa

Prefixo: A29 (Letra A do consórcio, número 29 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial: Grupo Guanabara, é administrada diretamente pelos Baratas. Lidera um sub-grupo que gerencia a Viação Ideal e a Expresso Recreio.

Presente em outros consórcios: Não (apesar de operar a Integrada-2, que teoricamente deveria ser do Consórcio Transcarioca)

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 209, 210, 441, 445, 461, 472, 473, 474, 475, 476, 503 e Integrada-2.

Resumindo: Opera todas as linhas que trafegam entre São Cristóvão e os principais bairros da Zona Sul e Centro. Desde o início do Consórcio, absorveu parte das operações de outras linhas como a Integrada-2, mesmo não participando do Consórcio Transcarioca. Também opera os ônibus intermunicipais, na linha 740D Charitas (Niterói) x Copacabana.

Frota Atual no Consórcio: 185 ônibus

Idade média: 2,59 anos (mais velho tem 4 anos de uso)

Transportes São Silvestre

Prefixo: A37 (Letra A do consórcio, número 37 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial: Nenhuma. É independente, sem vínculo estreito com outras empresas.

Presente em outros consórcios: Não

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 119, 133, 136, 154, 155, 161, 162, 180, 183, 184, 503, 511, 512, 513, 538, 569, 570, 573, 574, 580, 583 e 584.

Resumindo: Opera todas as linhas que trafegam entre Laraneiras e Cosme Velho, até o Centro. Além disso é tradicional nas linhas circulares inversas como a dupla 161 e 162. O bairro da Urca faz ligação local com seus ônibus. Desde o início do Consórcio, absorveu parte das operações de outras linhas como a 538. Também opera os ônibus do serviço Metrô na Superfície.

Frota Atual no Consórcio: 241 ônibus

Idade média: 6,53 anos (mais velho tem 13 anos de uso)

Auto Viação Alpha

Prefixo: A48 (Letra A do consórcio, número 48 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial: Grupo Guanabara, é administrada diretamente pelos Baratas. Lidera um sub-grupo que gerencia a Transportes Estrela.

Presente em outros consórcios: Não

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 143, 201, 202, 401, 413, 415, 426 e 626 (*).

Resumindo: Opera todas as linhas que trafegam da Tijuca até os principais bairros da Zona Sul. Desde o início do Consórcio, absorveu parte das operações de outras linhas como a 143.

Frota Atual no Consórcio: 183 ônibus

Idade média: 3,05 anos (mais velho tem 6 anos de uso)

Auto Viação Tijuca

Prefixo: A50 (Letra A do consórcio, número 50 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial: Grupo Guanabara, é administrada diretamente pelos Baratas. Faz parte um sub-grupo, que gerencia também a Util, Sampaio e Normandy.

Presente em outros consórcios: Transcarioca (C50), além do consórcio BRT (E50)

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 220, 226, 229, 448, 537, 603, 608.

Resumindo: Com foco no transporte do maciço da Tijuca até o Centro da cidade, além de trajetos locais no bairro. Desde o início do Consórcio, absorveu parte das operações de outras linhas como a 537.

Frota Atual no Consórcio: 100 ônibus

Idade média: 2,74 anos (mais velho tem 6 anos de uso)

Transportes Estrela Azul

Prefixo: A55 (Letra A do consórcio, número 55 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial: Nenhuma. É independente, sem vínculo estreito com outras empresas.

Presente em outros consórcios: Internorte (B55)

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 172, 434, 435, 436, 464, 503 e 548.

Resumindo: Seu foco dentro do consórcio vem do Grajaú até a Zona Sul, baseado na 434, linha tradicional da cidade e da empresa. Opera a linha 503 junto com outras empresas antes mesmo do início da organização por Consórcios. Desde o início do Consórcio, absorveu parte das operações de outras linhas como 172.

Frota Atual no Consórcio: 109 ônibus

Idade média: 4,57 anos (mais velho tem 9 anos de uso)

Gire Transportes

Prefixo: A63 (Letra A do consórcio, número 63 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial:

Transportes Fábio’s (empresa de transporte intermunicipal, transporte da cidade de Duque de Caxias/ RJ e de turismo)

Transporte Intermunicipal (Era a permissionária da linha 495L Caxias x Penha que sofreu intervenção do DETRO em 2007. A Fabio’s assumiu as operações emergenciais na linha e depois incorporou a empresa ao grupo. Foi ressuscitada a alguns anos e retomou sua linha original)

Auto Ônibus Vera Cruz (empresa de transporte intermunicipal e transporte da cidade de Duque de Caxias/ RJ)

Presente em outros consórcios: Internorte (B63)

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 107, 539 e Troncal-4

Resumindo: Pra entender a história da Gire, é preciso voltar no passado. Uma das maiores empresas do Rio foi a Transportes Mosa. Nascida na década de 50, cresceu exponencialmente e teve linhas em quase todos os cantos da cidade. Porém, com o acúmulo de dívidas ela entrou em crise financeira a partir da década de 90, o que fez com que ela repassasse várias de suas linhas e fizesse uma aliança com a Amigos Unidos que durou até a sua morte, em 2002. Anos antes (99) ela vendeu algumas linhas para a Fabio’s, que criou a Erig para opera-las. Devido ao perfil diferente de 107 e 177 (atual Troncal-4), elas ficaram com a Amigos Unidos, enquanto a Erig ficou com as linhas do subúrbio, mais próximas de Duque de Caxias, sede da Fabio’s. Com a licitação e a extinção da Amigos Unidos, as duas linhas retornaram pra Erig, que “limpou” seu CNPJ ao criar a Gire que assumiu as linhas da Zona Sul e da Zona Norte em uma só empresa em dois Consórcios. Gire é Erig escrito de trás pra frente. Criativo, não?

Frota Atual no Consórcio: 43 ônibus

Idade média: 4,30 anos (mais velho tem 6 anos de uso)

Viação Nossa Senhora das Graças

Prefixo: A71 (Letra A do consórcio, número 71 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial: Grupo Guanabara, é administrada diretamente pelos Baratas. Pertence ao sub-grupo Verdun, gerenciada pela Transurb S/A.

Presente em outros consórcios: Não

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 217, 409, 416, 509, 548, 602, 2203(**), Troncal-1 e Troncal-3.

Resumindo: Nascida da cisão da Viação Verdun, operava com o nome de Viação Saens Peña mesmo durante o processo licitatório. Alguns anos depois mudou para Viação N.S. das Graças, sempre com o mesmo acionista majoritário. Opera linhas da Tijuca/ Grajaú para o Centro e do Centro para Zona Sul. É, junto com a Real, a maior operadora das linhas Troncais, em função da disponibilidade da frota e da influência de seus proprietários. Também assumiu linhas de forma emergencial, como a 548.

Frota Atual no Consórcio: 133 ônibus

Idade média: 2,43 anos (mais velho tem 4 anos de uso)

Transurb S/A

Prefixo: A72 (Letra A do consórcio, número 72 da empresa)

Empresas do mesmo grupo empresarial: Grupo Guanabara, é administrada diretamente pelos Baratas. Lidera um sub-grupo que gerencia a Viação Verdun e a Viação N.S. das Graças.

Presente em outros consórcios: Transcarioca (C72)

Linhas que opera no Consórcio Intersul: 006, 007, 010, 011, 014, 143, 410, 422, 503, 507, SE006, SE014, SN006 e SV007(*).

Resumindo: Nascida da cisão da Viação Verdun, sempre teve suas operações na ligação entre a Tijuca e a Zona Sul. Assumiu as linhas da Amigos Unidos criando o setor de Santa Teresa da empresa. Depois da licitação, passou a operar a linha 158, que foi remunerada para 143 meses depois, fazendo uma concorrência branca com a própria 410. As linhas 507 e 011 só começaram a circular a partir da intervenção pública. No caso da primeira, só começou a circular depois da repressão forte ao transporte alternativo na linha e a 011 só começou a ser operada nos últimos dias, junto com as Troncais, com itinerário alterado para Rodoviária x Cinelândia. Também é interessante observar que a empresa opera o serviço provisório de transportes ao modo dos bondes (SE006, SE014), com tarifa reduzida.

Frota Atual no Consórcio: 152 ônibus

Idade média: 1,49 anos (mais velho tem 4 anos de uso)

Com tantos dados em mãos, vamos às conclusões.

Total de linhas

Real se destaca

Por ser líder do Consórcio Intersul, a Real Auto Ônibus tem a maioria absoluta do número de linhas. Além das 20 linhas próprias, ainda participa do pool (conjunto de empresas dividindo a operação de uma linha) de outras 6 linhas. E esse número tende a aumentar ao passo que novas Racionalizações forem implementadas.

Também vale destacar o papel predominante da São Silvestre, com as mesmas 20 linhas da Real. Transurb com as linhas de Santa Teresa chegou ao top3, representando o grupo de Jacob Barata.

Outro destaque é a Graças, que está em 3 pools, apesar de ter só 6 linhas. E a Gire está em outros dois pools enquanto possui apenas uma única linha inteiramente sob sua operação.

Com o fim da Translitorânea Turística e a consequente divisão de suas linhas e agora com a Racionalização das linhas da Zona Sul, todas as empresas participam ao menos de um pool. Situação que deve ser comum daqui para frente.

Tamanho da frota

Mais uma vez, Real mostra sua predominância.

Para operar as suas 20 linhas e seus 6 pools, a Real é a majoritária no que se refere à quantidade de ônibus na Zona Sul. É quase impossível rodar por qualquer canto dessa região sem ver um ônibus dela.

O curioso é que com as mesmas 20 linhas (mas apenas 2 pools) a São Silvestre tem “só” 241 ônibus. As duas primeiras da lista devem ser as primeiras a terem suas frotas reduzidas em função da racionalização (ou então vão começar a participar de outras linhas pela região).

Também é interessante o empate técnico entre Braso Lisboa, Vila Isabel e Alpha, mesmo com a primeira tendo muito mais linhas que as demais. Sinal que as duas também estão defasadas, com muitos carros ou que estão prontas para entrarem em mais pools.

Por fim, vale citar a Tijuca com uma frota enxuta no consórcio. Mesmo com mais linhas que a Estrela Azul, por exemplo, tem menos carros rodando pelas ruas.

Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Apesar do domínio absoluto da Real pelas ruas da Zona Sul, o Grupo Guanabara, de Jacob Barata, mostra sua principal estratégia: Não vence individualmente, mas em grupo. Ao somar a participação de todas as suas empresas (Alpha, Braso Lisboa, Graças, Tijuca e Transurb) tem quase metade de todos os ônibus que rodam na Zona Sul em suas garagens. Como ele mesmo já disse certa vez…

“(…)nunca gostei de ter os ovos na mesma cesta. Senão quando cai, quebra tudo de uma vez só.”

Nesse ponto específico, Jacob Barata dá um “baile” nos seus concorrentes. Além de ter o maior número de ônibus rodando na zona sul, ele consegue a proeza de ser o próprio vendedor desses ônibus e ao fim da vida deles, revende-los. Através da Guanabara Diesel, concessionária de veículos pesados todas as empresas do seu grupo compram ônibus zero-quilômetro. Ao fim da vida útil, a própria Guanabara Diesel redireciona esses veículos a outras empresas do grupo Guanabara em todas regiões do país ou então vende a qualquer interessado. No fim, todo o lucro das operações de compra, financiamento e venda circula dentro do grupo, sempre evitando que as margens fujam dos bolsos da família.

De boas aqui assinando mais um contrato de compra e venda pra mim mesmo…

Conforme o perfil verificado nas empresas do grupo, a Guanabara Diesel tem sempre um cliente para vender ônibus novo e semi-novo. Em geral, as empresas do grupo na cidade tem ônibus com uma média de 3 anos de uso. Isso faz com que as ruas do Rio de Janeiro sejam uma vitrine dos ônibus seminovos a venda de Jacob Barata. Já houve caso onde um empresário de outro estado precisava de alguns ônibus com urgência para sua empresa e comprou ônibus de uma empresa de Jacob com menos de 6 meses de uso. E com essa idade baixa de seus ônibus ele consegue boas margens de lucro nas vendas de semi-novos.

Vale lembrar que a alguns anos o Grupo Real era proprietária da Transrio Caminhões e Ônibus, que também vendia os ônibus para o grupo empresarial. Porém o grupo vendeu o controle acionário ao Grupo Julio Simões, um dos gigantes em logística no Brasil.

Número de Passageiros Transportados

Essa é a parte mais importante e exatamente por isso vem por último: A complexidade desses números só pode ser medida depois de entender tudo que já foi dito antes.

Vale dizer que para calcular esses números eu utilizei um método bem simples e rápido para as linhas que tem operação compartilhada: dividi de forma igual o número de passageiros pelas empresas operando a linha. Não é o jeito mais perfeito, mas é o que deixa os cálculos mais consistentes, já que no Portal da Transparência da Mobilidade não há informação a respeito do número de veículos autorizados por linha, tampouco o número de veículos de cada empresa dedicados a cada linha.

Como o Relatório Diário de Operação (RDO) mais recente é o de julho, me baseei nele para fazer esses cálculos. E como a racionalização ainda não estava acontecendo, atribuí as antigas operadoras das linhas.

A lógica se mantem: Real e São Silvestre lideram, escoltadas pelas empresas do Grupo Guanabara.

Mesmo tendo o mesmo número de linhas (exceto o número de participação em pools), Real e São Silvestre tem resultados bem diferentes nesse aspecto. A Real tem mais ônibus o que a permite transportar cerca de 1,2 milhões de passageiros a mais, por mês. De quebra, a Real ainda transporta menos gratuidades, tanto em números absolutos, quanto relativos (se as duas carregassem o mesmo número de passageiros, qual seria a diferença entre os pagantes e gratuidades?). Assim, fica claro que a rentabilidade da São Silvestre está bem menor que a da Real. A questão é tão complicada, que a Alpha, que tem quase 60 ônibus a menos, com 1/3 das linhas carrega quase a mesma quantidade de passageiros.

Apesar da Prefeitura compensar financeiramente as empresas com as gratuidades e isso interferir no valor do ajuste da tarifa, a quantidade de pagantes e gratuidades faz diferença no caixa das empresas.

Outro quadro preocupante é o da Vila Isabel, que opera o mesmo número de linhas com mais ônibus que a Alpha, mas transporta quase meio milhão de passageiros a menos. Some a isso a uma frota com idade média alta e pouca participação em pools (apenas uma linha), a rentabilidade da empresa, sob esse ponto de vista preocupa. Apesar disso, vale lembrar que a Vila é uma das empresas mais tradicionais e conservadoras da cidade. Os seus ônibus tem configuração praticamente igual e é a única empresa de todo o Rio de Janeiro que possui cobrador em TODOS os seu ônibus. Por isso, não espera mudanças a curto prazo na empresa.

A conclusão desse (longo) estudo é indiscutível: Os Baratas continuam sendo os Reis dos Ônibus. Ao menos na Zona Sul, a posição deles é indiscutível, apesar de Jacob Barata Filho tentar negar isso:

“Rei dos ônibus? Só se eu for um rei falido… Com 11% do sistema…”

Imagino que ele estivesse falando do sistema como um todo. Mas é inegável que, na Zona Sul, a área mais lucrativa para se operar, eles dominam com folga.

Os 49% dos passageiros que o Grupo Guanabara transporta no Consórcio Intersul garantem a saúde financeira de todas as empresas administradas pelo grupo. E transportar 49% das pessoas lhes dá poder para argumentar e até pressionar o setor público. Por exemplo, a fase da Racionalização que se iniciará no dia 20 de novembro de 2015, planejava reduzir a linha 472, da Braso Lisboa, do Leme para o Centro da Cidade. Por mais que a população pressionasse (o que não aconteceu), a linha não foi encurtada, teve apenas seu trajeto modificado. É ingenuidade acreditar que não houve pressão da empresa junto à Secretaria de Transportes.

Apesar do domínio inegável do Grupo Guanabara, é indiscutível a força da Real e da São Silvestre. Ter 30% do sistema também lhes dá força para reivindicar suas posições. O descredenciamento da Translitorânea e o início da Racionalização das linhas acontece de acordo com o desejo delas. A Prefeitura só pode fazer qualquer modificação com a colaboração delas. Os pools existentes hoje só são possíveis pois elas tem ônibus suficientes para cobrir a operação de outras linhas.

Cláudio Callak pode não transportar a maior parte dos passageiros da Zona Sul, mas sua influência garante à sua empresa a manutenção da posição de poder no Consórcio Intersul.

A Racionalização atinge em cheio as linhas da Real, que saem do Centro/ Rodoviária para a Orla da Zona Sul. E para Cláudio Callak reduzir o número de ônibus rodando transportando o mesmo número de passageiros parece uma alternativa muito boa para melhorar suas margens.

Para a São Silvestre, a Racionalização vai ser uma mão na roda ao simplificar a logística da empresa. Hoje ela possui 20 linhas que se sobrepõem o tempo todo, obrigando a empresa a manter o dobro de recursos (ônibus, pessoal, combustível, estrutura) para atender a mesma demanda de passageiros. Por exemplo, a Real tem 11 linhas que transportam mais de 100.000 pagantes por mês. A São Silvestre só 7, sendo que uma delas ela divide a operação com a própria Real. Em dezembro a prefeitura deverá extinguir 6 de suas linhas para substitui-las por duas novas, mais eficientes, além de “anabolizar” a operação de outras duas já existentes.

Das restantes somente a Gire pode ser chamada de “pequena”. Entre aspas, por que uma empresa que transporta mais de 660 mil passageiros por mês não pode receber esse título. Vila Isabel e Estrela Azul transportam juntas 3,1 milhão de passageiros por mês com perfil bem semelhante, que serão atingidas em cheio pela Racionalização: seus ônibus não poderão chegar mais nas praias da Zona Sul. Como elas sobreviverão? Só consigo acreditar que a operação em pools pode salvá-las. Com a redução dos ônibus em operação nas suas linhas, elas terão recursos financeiros, de estrutura e pessoal suficiente para se aventurarem em novas linhas. Caminho que a Gire já adotou e colhe bons frutos.

Fontes: Boa parte do trabalho aqui descrito é parte das minhas observações e andanças pela cidade. Também contribuíram muito para essa postagem o Relatório Diário de Operação — RDO das Linhas — Julho 2015, o Mapa das empresas Rio Ônibus e o site Ônibus Brasil, de onde vieram as fotos ilustrativas e outras informações, além das fontes já linkadas no texto.

(*) No Relatório Diário de Operação disponível, as linhas especiais (SE, SN, SP e SV) não estavam presentes. Solicitei as informações relativas as elas e assim que receber a resposta, atualizo a postagem.

(**) No Relatório Diário de Operação disponível, a linha 2203 Grajaú x Castelo (Frescão) não estava presente. Solicitei as informações relativas a ela e assim que receber a resposta, atualizo a postagem.

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