Setênios — Mirle Ferraz

Mirle Ferraz
5 min readAug 19, 2018

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Meus pais estavam ansiosos por esse dia. Eles me contam que era nítida a emoção e os olhos cheios d’água. Na bolsa o essencial para que a menininha, novo mimo da família, fosse para casa quentinha e bem bonitinha. Na dispensa, tudo um bebê precisa para crescer forte e cheio de vida. Nos corações, um amor infinito e incondicional.

Minhas avós, minhas tias e tios, meus primos… A família estava ansiosa e alegre. Chegada a hora, meu pai colocou minha mãe no carro, um chevette 81, e foram viver juntos um dos dias mais bonitos de nossas vidas: o nascimento da minha irmã, três anos depois da minha chegada.

Eu gostaria de descrever o meu nascimento dessa forma, sem muitos altos e baixos, emocionante e programado segundo a segundo. Mas, a minha história começou um pouquinho diferente.

0–7

“Você está grávida, parabéns!” — Isso foi o que disseram para a minha mãe, poucos meses depois dela ter sido diagnosticada infértil. Aqui eu aproveito para brincar e dizer que essa foi a primeira vez que quebrei as regras.

Apesar da notícia ser extremamente bem-vinda, os próximos meses foram bastante conturbados e difíceis, devido às complicações na gestação.

Eu cheguei em um sábado, 29 de janeiro de 1994, ao meio-dia. Meu pai estava viajando a trabalho e meus familiares não imaginavam que me adiantaria mais de um mês. Naquele primeiro momento era apenas minha mãe, o corpo de médicos e eu, uma menininha prematura, chorona com cerca de 1,8kg.

A situação melhora mais tarde, mas quando eu cheguei a casinha era simples e tinha apenas dois cômodos. Apesar disso, o espaço nunca foi pequeno demais para que não coubesse as minhas histórias e aventuras.

O tempo passou e eu fui crescendo. Não muito, como você ainda pode notar. Mas, logo aos seis anos de idade, um acidente fatal envolvendo o meu melhor amigo me ensinou a ser gigante diante de adversidades. A notícia cuidadosamente dada pela minha mãe, também plantonista no dia do acidente, me assustou a ponto de eu não entender direito como seriam os próximos dias. Mas, às 6h da próxima segunda, minha primeira lição: eles, os dias, continuam. Pensando assim, aos pouquinhos, ir à escola ou ao parque foi deixando de ser triste.

7–14

Depois dos meus pais terem passado algum tempo revezando entre o dia a dia nas empresas em que trabalhavam e as folgas na construção, mudamos! Agora, os dois cômodos eram cinco e, todos eles sonhados, planejados e construídos por nós. Alguns detalhes como pisos, azulejos, vidros nas janelas e venezianas seriam acrescentados logo. Mas já tínhamos o suficiente para começar.

Tudo parecia perfeito, exceto um detalhe, a distância. Esse probleminha de “alguns quilômetros” dificultou a minha ida à escola logo no primeiro ano. Apesar disso, aperta daqui e dali e conseguimos encontrar uma van escolar que enfrentasse todo aquele percurso. Mais uma vez, o suficiente para começar.

Apesar de eu ter sido uma criança peralta e de ter enfrentado outros tantos desafios, são bem poucas (e marcantes) as memórias dessa época: A música “Amor, I love you” tocada na van repetidamente; o gosto do sucrilhos; o cheiro de moletom e lápis de cor; o livro Catarina Malagueta.

Por ser a primeira a ser pega pela manhã e a última a ser deixada à tardinha, acabei decorando a música. O sucrilhos era o prêmio por mais um dia de aula. O moletom e o lápis de cor marcaram o tempo que tirava para fazer o dever. O livro…bom, o livro norteou sem que eu notasse todos os próximos anos.

Se não me falhe a memória, Catarina era uma garota atrevida e corajosa de Pirapora, cidadezinha do interior. Ela sonhava em estudar música em outra cidade e quando alcança essa façanha precisa enfrentar as dificuldades. Pois pronto, logo eu decidi que também queria sair da minha “caixinha”.

14–21

Os primeiros anos após a virada trouxe à minha geração algumas obrigações como curso de digitação, curso de computação básica e afins. Íamos concluindo sem saber exatamente onde todo aquele conhecimento nos levaria. Apesar disso, aos 14 anos eu já tinha alguma ideia: pra longe.

Já em busca da minha independência, com essa idade fundei a minha primeira startup. Uma impressora, os meu conhecimentos em design gráfico (lê-se Corel) e o fascínio das meninas por folhas e fichários me deram a oportunidade de lançar uma nova febre na 8ª A: Folhas personalizadas com as fotos do orkut. O produto era simples e barato, mas antes que eu pudesse sair do mercado teste meu pai descobriu e eu perdi o investidor.

Apesar de ter sido proibida de imprimir fotos, continuei usando a impressora para imprimir alguns trabalhos e currículos. Pois é, apesar desta não ser exatamente uma necessidade, a responsabilidade bateu cedo na minha porta.

Uma web tv, uma loja de parafusos, uma gráfica… Pronto, já tinha o que precisava para começar uma faculdade e ir ainda mais longe.

Aos 21, morando em uma cidade, trabalhando em outra e estudando em uma terceira, não era nada fácil sonhar com a quarta. Mas, como o quarto ano da faculdade se aproximava, já era hora de começar a pensar no essencial para um recomeço, dessa vez longe da casa dos meus pais.

21–28

Mesmo contra a vontade dos meus pais, fiz algumas entrevistas em Campinas (cidade suficientemente grande para que não me faltasse oportunidade e suficientemente pequena para que não me pusesse medo) e vim.

Me mudei em novembro de 2016, ano em que também me formei em publicidade. Alguns cursos em São Paulo me ajudaram a conquistar a vaga de redatora em uma empresa que, assim como eu, era jovem, cheia de energia e tinha muita vontade de crescer.

De lá pra cá, a pós-graduação foi o último grande desafio que encarei. Não diferente de todas as outras situações, segui assim: me preparei com o suficiente (coragem e resiliência) e dei o primeiro passo. Entendo que os próximos dependerão dele.

Por falar em futuro, as minhas ambições profissionais nesse sentido têm mudado. Explico: Há um alvo lá na frente me motiva a seguir.

Quero desenvolver projetos realmente transformadores, que impactam a vida das pessoas.

Obrigado(a) por ler até aqui. Se puder, deixe um comentário ressaltando pontos que sejam parecidos com a sua jornada. #VAMOSJUNTOS

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Mirle Ferraz

Uma eterna otimista. acredito que entre o texto(ão?) e os 240 carácteres pode acontecer muita coisa boa.