Como os 7 princípios herméticos podem ser interpretados à luz da ciência

Uma tentativa de relacionar os sete princípios herméticos com as mais novas descobertas da física

Mister M
6 min readApr 30, 2020

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Recentemente li um artigo falando sobre como os sete princípios herméticos poderiam ser relacionados com as recentes (e outras nem tanto) descobertas da ciência sobre o mundo em que vivemos. Com alguns eu concordei completamente, mas alguns não ficaram muito claros, ou haviam relacionamentos melhores. Por isso resolvi escrever a minha própria interpretação sobre o assunto.

Primeiramente, para quem nunca ouviu falar sobre o assunto, uma breve introdução. Hermes Trismegisto, é uma figura mítica (provavelmente representa um grupo e não uma pessoa) que viveu na região de Ninus, no Egito antigo entre 2.500 a.C. e 1.500 a.C. (não sabemos a data exata).

Alguns o confundem com deuses, outros o conhecem pelo seu nome mais famoso: Toth. Era legislador e filósofo. Em sua vida escreveu algo em torno de 36 livros (a maioria deles perdidos para nós) que tornaram-se a fonte primária do que se convencionou chamar de hermetismo.

Essa filosofia (explicada em pormenores no livro O Caibalion), basicamente se sustenta sobre 7 princípios básicos, detalhados abaixo:

1º Princípio: O TODO é MENTE; o Universo é Mental.

Photo by Alin Rusu on Unsplash

O primeiro princípio é talvez o mais distante da ciência atual. Isso se deve porque sua própria demonstração remete ao início de tudo. Ele tenta explicar como uma substância não pode gerar a si mesma.

"Se você quiser fazer uma torta de maçã a partir do zero, você deve primeiro inventar o universo"

Carl Sagan

Resumindo, para que algo surja sem depender de outra coisa já existente, esse algo tem que ser uma criação mental. Apesar de nossa ciência atual flertar com a necessidade de uma consciência para a ocorrência de um efeito físico, não temos (ainda) nenhuma teoria científica colocando pensamentos como a substância básica do universo.

2º Princípio: O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima.

Photo by Zoltan Tasi on Unsplash

Diferente de outras correntes filosóficas antigas que acreditavam em um Éter que permearia todo o universo, há quase 5 mil anos atrás, sem nenhum aparelho científico moderno ou telescópio, Hermes já nos dizia que os planetas e estrelas lá no céu são feitos exatamente das mesmas substâncias que o nosso corpo. Somos poeira de estrelas.

Além disso, ele também nos dizia que tudo o que existe no universo infinito é regido pelas mesmíssimas leis da física que sentimos e medimos aqui na Terra.

3º Princípio: Nada está parado; tudo se move; tudo vibra.

Quando Hermes elaborou esse princípio, o máximo que se podia observar no mundo atômico era o que se conseguia enxergar com olhos nus. Demócrito até fala em átomos indivisíveis (ideia que ele teve da observação de poeira flutuando através de raios de sol), mas a moderna física de partículas só surgiria em meados do século XIX.

Hoje sabemos que mesmo estando um corpo em repouso, suas partículas constituintes não param de se mover jamais. Mais ainda, conseguimos dividir os átomos (que eram para ser indivisíveis) em partículas ainda menores chamadas Quarks.

Temos teorias que dizem que se continuarmos dividindo as partículas ainda mais, chegaremos aos verdadeiros minúsculos elementos constituintes da matéria, as cordas. Então como a cada posição do dedo do violinista corresponde uma nota musical diferente, cada vibração diferente nessas cordas primordiais daria origem a uma partícula diferente. No seu íntimo, o universo é música.

4º Princípio: Tudo é Duplo; tudo tem pólos; tudo tem o seu oposto;

Photo by Franck V. on Unsplash

Matéria e anti-matéria. Cargas positivas e cargas negativas. Atração e repulsão. Calor e Frio. Apesar do princípio ser maior do que está escrito aqui (e mais metafísico também) Hermes nos mostrava que tudo na vida tem dois lados.

O frio realmente existe ou é apenas a ausência de calor? Cada parte constitutiva do universo contém uma espécie de escala onde de um lado temos um extremo e do outro o seu oposto. Definir onde começa um e termina o outro nem sempre é simples.

Pensando nisso, como fica o seu conceito de bem e mal? O mal realmente existe ou é só a ausência do bem?

5º Princípio: Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés;

Photo by Jake Hills on Unsplash

O princípio do ritmo nos diz que tudo que existe tem fases. As coisas vão e vem. As marés sobem e descem. As estações do ano se sucedem e voltam à origem. Tudo ocorre em um ciclo infinito de repetições.

Aqui falamos do movimento dos planetas em torno do sol, o próprio movimento do sol em torno do centro da galáxia. Do Spin atômico. Da semente que dá origem a árvore, que dá origem a semente. Do ovo e da galinha.

6º Princípio: Toda a Causa tem seu Efeito, todo o Efeito tem sua Causa;

"Estou, em todos os casos, convencido de que Ele não joga dados"

Albert Einstein

Hoje isso parece algo muito básico e do conhecimento geral. Mas lembre-se que Hermes viveu numa época em que poucas causas eram conhecidas. Naquela época arriscar dizer que algo nunca poderia simplesmente surgir ou ocorrer do nada, como num passe de mágica, ainda era revolucionário.

O princípio completo ainda diz: tudo acontece de acordo com a Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei. Quer algo mais científico do que isso?

7º Princípio: O Gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino;

Parece fácil associar essa ao gênero biológico dos animais. Mas lembremos que o hermetismo tem um embasamento na filosofia oculta. Então podemos supor que Hermes esteja se referindo mais aos princípios ativos (masculino) e passivos (feminino) do universo.

Creio que a melhor interpretação seja associada com a primeira lei de Newton. Um corpo permanecerá em repouso ou em movimento uniforme (passivo) a menos que tenha seu estado alterado por uma força externa (ativa). O universo tende a economizar e manterá as coisas do jeito que estão (passivo) a não ser que algo aja ativamente para mudá-las.

A pergunta final é como é possível a um filósofo do antigo Egito conhecer tanto da nossa ciência moderna. Teria ele descoberto tudo isso apenas contemplando os cantos misteriosos e obscuros da sua própria mente? Ou será que dispunha de ferramentas que nós não dispomos, ou que perdemos com o passar da história?

Essas questões devem ser consideradas com carinho por qualquer estudante de hermetismo. Seria Hermes realmente algum deus que veio a este mundo para nos iluminar? Ou simplesmente alguém de muita sorte que tropeçou em algumas perguntas intrigantes e foi extremamente iluminado ao encontrar respostas para elas?

As respostas, meus amigos, só você pode encontrar.

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