E que nunca falte vida para ele parar de compor; Yan Menestrel em uma exclusiva pro Hypnotize

Raul Moura
9 min readApr 1, 2017

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O rapper fala sobre seu convívio com Froid, o seu primeiro CD e até explica a relação de Sulícidio e Poetas no Topo no rap do Brasil

Menestrel é um artista de Brasília, que iniciou sua carreira no Rap no grupo Mandala. Atualmente o grupo deu uma pausa para que os integrantes possam dar sequencia à carreira solo de cada um. Com apenas 17 anos, o rapper já lançou singles de alto nível como, por exemplo, “Candelabro” e “Epifania” e em pouco tempo lançará o seu primeiro CD, o “Relicário”.

Menestrel durante show. Foto: Arquivo Pessoal/Facebook

Integrante da BOCA, junto com grandes artistas como Froid e Lilflow, Menestrel diz estar tomando rumo solo, mas nunca esquecendo a banca brasiliense. É considerado uma das maiores promessas do rap nacional.

Hypnotize: Eu sei que já respondeu isso diversas vezes, mas por quê Menestrel?

Menestrel: Descobri o nome no meu ensino médio, quando estudei o trovadorismo nas minhas aulas de português, uma das poucas que prestei atenção (risos). Achei o nome feio, acho até hoje, mas é um nome imponente de significado forte e totalmente interligado com um músico, com um rapper principalmente. Quando frequentei as batalhas pela primeira vez precisava de um nome, como já escrevia e já vinha pensando nisso há muito tempo resolvi arriscar e por incrível que pareça as pessoas não acham tão feio quanto eu imaginava que achariam.

Hypnotize: Como você começou com o Rap?

Menestrel: Quando eu precisei dar uma diretriz a minha poesia e procurar um futuro pra mim. Eu fui um adolescente perdido até os meus 14 anos, via meus amigos tendo um esboço do que iam fazer no futuro, se dedicando na escola, mas meu lance nunca foi estudar, estar lá presente na escola. Sempre fui um aluno diferenciado, eu era o aluno que não se prestava a nada quando o assunto era papel e caneta, mas sempre tive envolvido em todos os projetos extraclasse, como teatro, musicais e apresentações de diversas formas, sempre falei muito bem na frente, não tinha vergonha. Minha família é uma linhagem extensa de músicos, sendo eu a quarta geração deles, todos sabiam tocar diversos instrumentos mas nenhum compositor, isso foi um fato motivador também. Acredito muito em destino e no fado que é dado para nós por alguma razão maior. Eu tinha um certo preconceito com o estilo mas conheci a fundo e vi que valia a pena se arriscar, porque o Rap me daria liberdade de colocar a escrita que pratico sem algum tipo de paradigma.

Hypnotize: Como é ter a fama ao seu lado aos 17 anos?

Menestrel: Não me acho famoso, também não quero usar de uma falsa modéstia pra parecer humilde, mas famoso pra mim é quem tá na televisão, quem ganha um dinheiro alto só com o uso do rosto, famoso pra mim é quem recebe dinheiro para aparecer em festa só pra tirar foto. Me considero um cara influente pra minha idade, um vitorioso de ter 17 anos e ter de certa forma um nicho da sociedade ao meu favor. Lido com isso muito bem, até certo ponto, tento responder a maioria das mensagens que recebo, interagir com o pessoal, de um algum modo retribuir o carinho que eles tem comigo, afinal eu ficaria feliz de ter um garoto da minha idade me representando perante os melhores, perante um país, falando o que eu queria falar e sentindo a mesma coisa que eu sinto. Hoje eu sinto ser uma representatividade do público jovem no cenário do rap nacional, tudo ainda está engatinhando, e provável de que eu seja realmente famoso depois que minha adolescência passar, mas até lá, vou fazer o possível pra não decepcionar, afinal isso é uma coisa muito moldável na cabeça de um ser humano, a liberdade e a ilusão que a fama te traz, ainda mais pra um adolescente, que não tem cabeça formada e tá passando por um período de mudanças constantes. Vou ser pé no chão ao máximo.

Hypnotize: E você já sofreu por causa da idade no meio da cena? Como sua família lida com isso?

Menestrel: Pior que não, todo mundo me trata com muito respeito e admiração por conta da minha idade, as piadinhas do conselho tutelar e etc. já tão meio chatas mas eu entendo, vou ter que ouvir essa piada de todas as pessoas pelo menos uma vez, afinal se fosse eu, também faria. Minha família lida muito bem com tudo isso, afinal como disse, sou de uma família de músicos então nada do que está acontecendo na minha vida é um espanto ou algo que eles não saibam lidar, meu pai fez turnê desde os 12 anos então eu ainda estou dando muito menos trabalho.

Hypnotize: Você, financeiramente, já consegue ajudar sua família e viver do rap?

Menestrel: Ajudar minha família não, pelo menos ainda não, mas é meu primeiro objetivo, antes até mesmo de coisas pra mim, luxos e conquistas, quero conquistar algo pra minha família. Mas eu estou vivendo de rap há 2 anos, fiquei um tempo parado pela produção do meu disco, mas agora voltei a conseguir me manter com o dinheiro da música graças a Deus. Já fui mais desesperado com isso, mas a medida que fui crescendo vi que o dinheiro vem com o tamanho do seu esforço, trabalhe primeiro e receba depois, afinal ninguém recebe o salário no primeiro dia no trabalho.

Hypnotize: Quais as suas inspirações, tanto na vida como na música?

Menestrel: Meu pai é a minha maior influencia na música e na vida, depois vem a Cassia Eller. E vindo de dentro do Rap é o Filipe Ret e o 3030, não sei decidir qual dos dois é a maior até hoje.

Hypnotize: Qual a sua relação com o Froid? O que ele representa para a sua carreira?

Menestrel: Minha relação com o Froid é profissional e pessoal, antes de Rapper ou qualquer coisa somos amigos, ele foi o pontapé na minha carreira, ele foi o cara que viu algum tipo de talento em mim quando todo mundo da minha cidade virou as costas pra mim, viu e me fez crescer como pessoa e como músico. Tenho muito que agradecer ao Froid por tudo que ele já fez por mim. Agora seguimos tomando rumos separados e unidos, faço minha música e estou conquistando meu espaço cada dia mais, mas continuo no coletivo da Boca com ele e com nossos irmãos. Faço a contenção de palco dele em alguns shows, então sempre estamos juntos por aí.

Hypnotize: Fala um pouco sobre o Mandala. Há projetos para vocês voltarem desse “break” que deram?

Menestrel: O Mandala é o meu motivo de orgulho, demos uma parada agora para nos focarmos mais no desenvolvimento pessoal de cada artista, mas voltaremos com um disco futuramente, mais maduro e com projetos bem mais profissionais do que os que tínhamos no passado. Tanto eu como o Santzu nunca vamos parar de fazer músicas juntos, só demos uma pausa realmente.

Hypnotize: Por que o nome de Relicário para o seu primeiro CD? Qual o significado?

Menestrel: Relicário foi o nome que eu escolhi pela minha forma de fazer música, quando pensei no nome pensei pelo cordão aonde você guarda uma foto de importância pra você. Nesse disco eu quis abordar toda a minha verdade de vida, todas as minhas relíquias em forma de memórias que retratei nas músicas, Relicário virou pra mim uma ideologia, bem além de um nome bonito.

Hypnotize: Antes do álbum ser lançado, você vai soltar mais “singles” ou os próximos lançamentos estarão no Relicário também? E além dele, já existem outros projetos em caminho?

Menestrel: Sim, meu projeto é lançar um a cada duas semanas até a data de lançamento do disco. Não vou lançar nenhuma música do Relicário antes, mas todos os singles que estou lançando hoje fazem parte do projeto do disco, meu projeto pro primeiro semestre deste ano é o Projeto Relicário, onde vou lançar singles que já foram do disco e saíram por questões de logística e encaixe no tema do CD. Penso no que vou fazer no futuro mas projeto é vir com uma vertente musical bem mais única e concisa depois do disco, afinal é meu primeiro disco, nem tudo sairá perfeito e meu projeto pra depois dele é fazer um trabalho maduro pra soltar ainda no fim deste ano.

Hypnotize: O que podemos esperar de Relicário?

Menestrel: Um álbum Taurino, um álbum impulsivo, intenso, que demorou pra ser elaborado e criado, mas que vem com muita organização. De 10 a 12 músicas, 4 participações e muita pureza em cada linha, sem ego, sem visão de sucesso, só um álbum que eu quero ter para a minha vida, que eu escrevi cada linha pensando nos meus filhos ouvindo no futuro.

Hypnotize: O que você coloca em suas letras? O que busca abordar nelas?

Menestrel: Minha vida, eu busco abordar a verdade, a verdade nua e crua de quem eu sou e do que tenho feito pelo mundo e pela minha vida. Busco sempre ser muito claro e muito puro no que eu escrevo, afinal eu estou em uma fase de confusão de sentimentos e pensamentos, procuro retratar claramente a pessoa que se passa por trás do artista.

Hypnotize: Você vive postando que fãs de rap são chatos e tudo mais, por quê isso?

Menestrel: Porque fãs de Rap na sua maioria são insuportáveis. São fãs de MC’s e não da obra, são fãs do convencional, mergulham muito raso, não gosto de julgar até porque hoje o público do rap se disseminou muito e os adolescentes estão sendo o público mais interativo na parada. Pensa que são rimas feitas por cabeças de 22 a 40 anos para cabeças de 14 a 17 assimilarem. A ignorância não é algo do meu público por exemplo, porque tenho a idade deles então todos me entendem muito bem no geral. Fico triste quando julgam o Makalister, por exemplo, que pra mim é um rapper a frente do tempo, com críticas muito supérfluas, e acabo me exaltando muito mas sigo buscando uma melhoria nisso até porque não é legal você como um fã ler algo do tipo vindo de uma pessoa que você admira pois você se sente parte do julgamento mesmo não cometendo o erro.

Hypnotize: Há um jeito certo de fazer rap?

Menestrel: Não, a meta é desconstruir os paradigmas. Ser original é o certo.

Hypnotize: O que acha do Rap Game no Brasil?

Menestrel: Rap Game é uma expressão meio estranha, parece que é uma corrida pra ver quem chega primeiro no baú de ouro, e pra mim, o momento atual em que o rap vem vivendo, é o momento da gente se unir para tornar o rap bem maior. As portas foram abertas, o rap não é mais só a crítica, o rap hoje é um dos braços da música mundial, se todo mundo trabalhar junto todo mundo vai obter o sucesso almejado.

Hypnotize: Você foi um dos poucos que expressou a sua opinião sobre os posts de Raffa Moreira. O que você tem a falar sobre esses posts? O que acha sobre a expressão “Rap Branco” e suas diretrizes? Concorda que existe isso?

Menestrel: Nada, não tenho nada a falar sobre os posts dele afinal a vida é dele e cada um com sua consciência, ele tem os motivos dele pra ter dito o que disse e não cabe a mim julgar. A expressão eu acho totalmente leviana, tive muitos embates internos quanto a isso, mas cheguei a conclusão que eu não sou contra a luta negra pelo reconhecimento da vertente, afinal o fato de ter pessoas de outras cores praticando a arte não quer dizer que ela não continue sendo de origem negra. Creio que todos os artistas querem falar isso, não vi nenhum falando que brancos não podem fazer, mas vi os mesmos cobrando o reconhecimento e o respeito necessário por terem parte disso, afinal o bolo é deles, mas eles nunca o negaram de dividir, com tanto que houvesse respeito e ciência por parte de quem o come de que aquele bolo foi feito por eles, mas hoje tudo vira polêmica os âmbitos de visão são muito rasos por parte do público. Acredito que com respeito e admiração mútua não precisemos lutar pra saber o que é de quem, e sim lutarmos juntos para transformar algo que é deles por natureza em uma coisa muito maior em memória deles e gratidão a eles.

Hypnotize: O que foi mais importante pra essa abertura da nova cena: Sulícidio, Poetas no Topo ou ambos em suas particularidades? Poderia explicar como isso ajudou?

Menestrel: Cada um na sua determinada função, podemos por no seguinte exemplo: Sulicídio foi a bronca da professora no começo do 3° bimestre, em agosto mais ou menos, o alerta na sala de aula em que se a classe continuasse desleixada, desfocada e de mente fechada pro conteúdo ninguém sairia do lugar e todos iriam cair juntos, o alerta que foi o despertar para uma classe acordar, expandir a visão e se focar no futuro. Poetas no Topo foi simplesmente o Boletim de aprovado que veio no fim de 2016, o sucesso obtido com a bronca, a melhor demonstração de que as coisas mudaram, que os alunos mudaram e que ali estava se iniciando um novo ciclo dentro da “Escola”. Pode parecer confuso, mas pensando que Sulícidio foi um alerta bem dado de que o Rap estava tendo uma repercussão fechada dentro de um país enorme, foi um golpe necessário para o despertar de uma massa.

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