Ele segue confundindo sábios; Rashid em uma exclusiva para o Hypnotize

Raul Moura
6 min readApr 15, 2017

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O Rapper conta sobre sua ascensão, do que curte na nova cena e até como foi gravar com Mano Brown

Michel Dias Costa, ou só Rashid, é da zona norte da cidade de São Paulo onde teve seu primeiro contato com o Rap. Escrevendo suas próprias letras desde os 12 anos, teve seu talento reconhecido e hoje é um dos rappers mais influentes do Brasil. Aos 16 anos, começou a colar nas batalhas de freestyle e ganhou destaque na Batalha da Santa Cruz e na Rinha de MC’s onde começou a ganhar respeito de grandes MC’s.

Rashid durante show. Foto: Arquivo Pessoa/Facebook

Em 2010, Rashid lançou o seu primeiro EP: “Hora de Acordar”, onde ganhou notoriedade e desandou a fazer shows com o seu parceiro DJ Mr. Brown. Depois vieram “Dádiva e Dívida”, em 2011, e o “Que Assim Seja”, em 2012, que fizeram o rapper, de fato, ganhar um certo espaço na cena nacional. Em 2013, o trabalho foi consolidado com o “Confundindo Sábios” que contou com diversas participações e chegou a liderar o ranking do iTunes por uma semana. Fez shows em diversas cidades brasileiras e até se apresentou no SXSW, um dos maiores festivais de música do mundo, em 2014.

Capa do primeiro álbum de estúdio do MC.

Em 2016, lançou o seu primeiro álbum de estúdio, o “A Coragem da Luz”, que tem grandes faixas de sucesso e conta com participações de Mano Brown e Criolo. E, com isso tudo, Rashid segue confundindo sábios pelo Brasil afora.

Hypnotize: O que mudou do Rashid de “A Hora de Acordar” pro Rashid de “A Coragem da Luz”?

Rashid: No “HDA” eu tinha 21 anos, o “ACL” eu fiz com 27/28, então praticamente tudo mudou. Mas o que mais vale ressaltar é a maturidade musical, a forma como encaro o som que eu faço e os lugares onde quero colocá-lo. A gente tem outras ideias agora, sabemos conversar melhor com as pessoas, então isso ajuda nossa música a evoluir em todos os sentidos. Nosso sonho sempre foi de gente grande, mas agora que somos gente grande, conseguimos enxergar melhor as coisas e fazer a música de gente grande que sempre quisemos fazer.

Hypnotize: Como foi gravar com um dos maiores nomes da história do Rap Nacional, o Mano Brown e com o Max de Castro? Como foi o processo, como veio a ideia, o contato e como chegou até eles?

Rashid: A ideia era construir uma música do zero, Max de Castro, o Brown e eu. No começo, eu ficava olhando pros 2 e não tinha nem coragem de opinar na minha própria música, pensava: “mano, os caras são mestres, deixa eles trabalharem!”. Eu estava realizando um sonho e recebendo diversas aulas de música no pacote durante as sessões de estúdio. Mas foi lindo entender o respeito que estes dois monstros também têm pela nova geração. Foi uma das melhores experiências da minha vida, uma parada que guardarei sempre no coração. No final das contas, a música traduziu bem a energia que rolou ali no estúdio… Muita ideia de rua, papo de música, risada, verdade e um clima bom. Sou eternamente grato por esse momento.

Hypnotize: Você surgiu das batalhas, era o Moska, certo? Você anda acompanhando a cena das batalhas como Duelos de MC’s, Liga Nocaute, etc?

Rashid: Acompanho de longe, infelizmente. Gostaria até de estar mais informado sobre, mas acaba não sobrando muito tempo para estar de olho em tantos nomes e batalhas que estão surgindo. Tenho amigos que participam e vão me mantendo informado. O fato é que é muito bom ver tantas batalhas ganhando respeito, porque vários talentos surgem desses berços!

Hypnotize: Qual ano foi o mais especial da carreira?

Rashid: 2010 e 2012 foram especiais devido aos projetos que lançamos nessas épocas, mas artisticamente, 2016 foi bem especial também. Tanto pelo álbum quanto pelas parcerias que fizemos e lugares onde pisamos.

Hypnotize: Quais suas inspirações no RAP e na vida?

Rashid: Mano Brown, Marechal, Jay Z, Nas, minha mãe e a Daniela Rodrigues, que é minha esposa e empresária. Se eu fosse um Megazord, gostaria muito que esses fossem os Power Rangers (risos).

Hypnotize: Você ficou surpreso com o público de Bauru na Semana do Hip-Hop? Qual a importância deste tipo de evento pra cena no país?

Rashid: Surpreso eu não fiquei porque pessoas já haviam me falado muito bem da Semana em Bauru. Fiquei feliz e honrado de estar lá pra ver com meus próprios olhos. Esse tipo de evento vem pra reafirmar nosso profissionalismo, capacidade de organização, o tamanho do nosso mercado em termos de quantidade de bons artistas e principalmente nossa capacidade de mobilização de pessoas. Não é qualquer evento que junta aquele tanto de gente, principalmente quando falamos de um estilo musical “não pop”.

Hypnotize: Você, para nós, junto com Projota e Emicida, são os responsáveis por uma geração diferenciada no Rap Nacional e abriram portas para essa nova cena que começou a ganhar espaço ano passado. Como você se sente sabendo disso?

Rashid: Fico muito honrado em ver esse tipo de reconhecimento das pessoas. Porque o que fizemos na época foi por necessidade, precisávamos criar um espaço para nós mesmos, porque ninguém abria as portas para gente. De certa forma, a gente imaginou que isso poderia abrir portas para outras pessoas, mas ver isso acontecendo de verdade, é incrível. Ainda temos muita coisa pra fazer, muitas ideias diferentes pra colocar em prática e sei que muita gente vai se inspirar com estas ações, assim como a gente também já se inspira em coisas que pessoas que vieram depois da gente fazem. Hip-Hop é isso, continuidade.

Hypnotize: Sobre os 3 Temores: há algum projeto em andamento? Vocês voltarão?

Rashid: Temos algumas ideias em andamento sim, sempre temos. Mas agora tem coisas saindo do papel. Não dá pra dizer que voltaremos porque a gente nunca se foi, sempre estivemos juntos e aqui, mas nossa parceria se estende pra vida, então o público não tem muito acesso a isso as vezes. Eu sou um dos que mais torcem pra que saiam novas coisas desses 3, sou fã!

Hypnotize: Qual sua relação com o Marechal?

Rashid: Marechal é meu irmão. As vezes ficamos meses sem nos falar e quando nos encontramos a energia é a mesma. Me identifico fortemente com a pessoa dele, em termos de postura e pensamento, e com a música não preciso nem comentar. Os conselhos que ele me deu 7 anos atrás tem uma boa parcela de culpa em eu ter me tornado o que sou.

Hypnotize: O que você vem mais ouvindo e curtindo dessa nova geração?

Rashid: Luccas Carlos, Drik Barbosa, Amiri, Coruja BC1, Terceira Safra e Djonga são os que mais ouço destes nomes que estão ganhando destaque. Mas tem outras paradas que gosto também, Chinaski escreve muito bem, Froid também é bonzão. Temos muitos talentos aí, graças a Deus!

Hypnotize: Como você explica a música “Abre Caminhos”? Foi uma mensagem para artistas independentes? Se sim, qual a dificuldade de ser um artista independente no Brasil?

Rashid: É uma mensagem para todos, para que os caminhos se abram nesse novo ano, independente do ramo de atuação. Foi tipo um “feliz ano novo”. Claro que tem coisas ali que se aplicam mais a pessoa que faz música, porque reflete a vida de um cara que faz música, mas meu som é pra todo mundo.
Ser artista independente no Brasil é difícil sim, mas estamos aí pra provar que não é impossível chegar nas pessoas. Corremos lado a lado com duplas sertanejas com números estratosféricos, MC’s de Funk que lançam vários hits, artistas Pops que estão todo dia na tela da TV das pessoas, mas nossa música continua chegando e os artistas de Rap vem conquistando cada vez mais espaço… Seja na mídia, nos números, nas casas de show, etc.
É uma história pra olhar com carinho e se inspirar.

Hypnotize: Em “Primeira Diss”, você surpreendeu a todos com punchlines a você mesmo. Te serviu como um chacoalhão pra você se cobrar mais, ou não?

Rashid: Toda música minha me serve como um chacoalhão, essa vem com um peso a mais, claro, mas todas fazem parte de um processo. Nessa letra, tanto as críticas mais bizarras quanto as que fazem mais sentido, eu já li na internet ou ouvi por aí. Claro que tem coisas que eu mesmo pensei e falei, mas boa parte daquilo vem de pessoas reais, principalmente nos comentários de vídeos. Então eu coloquei tudo junto pra que as pessoas pudessem ouvir e pensar: “nossa, que viagem falar isso do Rashid”. Mas mal sabem elas que alguém já disse aquilo. A ideia era causar impactos diferentes em pessoas que vêem o Rap de perspectivas diferentes. Acredito que foi válido pra caramba.

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