Amazônia: agora ou nunca

Murilo Scarpa Sitonio
14 min readAug 25, 2019

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Estamos em 2025. O presidente dos EUA dá um ultimato ao Brasil para que paremos de desmatar a floresta amazônica. Se não pararmos, o presidente ordenará um bloqueio naval aos portos brasileiros e bombardeios aéreos contra nossa infraestrutura crítica. O presidente tomou essa decisão com base no último relatório das Nações Unidas catalogando os efeitos globais catastróficos da contínua destruição das florestas tropicais, que alertavam para um “ponto crítico” que, se atingido, provocaria uma rápida aceleração das mudanças climáticas.

Fonte

O parágrafo acima é uma hipótese levantada por Stephen M. Walt, professor de Relações Internacionais de Harvard, e você pode ler mais sobre ela aqui (ou aqui, em português). Além da hipótese completa, que inclui até a reação da China, Stephen discorre sobre suas preocupações com as notícias da incrível aceleração do desmatamento sob o governo bolsonarista e como isso tende a impactar o Brasil com eventuais ataques, sanções ou embargos (o governador do Pará já teme a possibilidade)* mediante nossa irresponsabilidade em proteger um recurso globalmente crucial. Eu diria que o ponto central do artigo do professor é um questionamento contido no mesmo: “Os países tem o direito — ou até a obrigação — de intervir numa nação estrangeira para preveni-la de causar dano irreversível e potencialmente catastrófico ao meio ambiente?”

Mas calma aí! Se estamos falando de um recurso global, a responsabilidade de protegê-lo não deveria ser de todos os países e não apenas do Brasil? O Fundo da Amazônia poderia ser considerado como uma “micro iniciativa” do gênero, uma vez que a Noruega já disponibilizou mais de 3 bilhões de reais e a Alemanha mais de 190 milhões em prol da causa. No entanto, ambos pararam as doações devido as ações do governo. Esse caminho de doações poderia ser uma opção ao de sanções e embargos, mas ninguém gosta de ver seu dinheiro sendo desperdiçado, não é? Eu até considero a situação relativamente paradoxal: os países que são os principais responsáveis ​​pela mudança climática são também os menos suscetíveis à coerção.

Os cinco principais emissores de gases do efeito estufa são a China, os Estados Unidos, a Índia, a Rússia e o Japão — quatro deles possuem armamento nucleares e o Japão é uma potência militar formidável por si só. Não é provável que ameaçar qualquer um deles com sanções funcione, assim como ameaçá-los com uma ação militar é bem irrealista. Mas o Brasil não é uma potência econômica nem militar, logo, sanções econômicas ou ameaças militares podem ser alternativas viáveis.

No decorrer do texto eu comento sobre quão próximo estamos do “ponto crítico” citado, como seremos impactados ambiental e economicamente e analiso se a situação é mesmo alarmante.

Quão perto estamos do colapso — o “ponto crítico”

O ponto crítico, ponto de inflexão ou ponto de não retorno é o ponto que, sob a perspectiva de desequilíbrio de uma variável (ou mais de uma — aumento da temperatura e diminuição da área florestal, nesse caso), faz com que a floresta amazônica não consiga mais “se manter”, ou seja, a área não degradada não conseguiria sustentar-se num ponto de vista de ciclo hidrológico e a região, eventualmente, tornar-se-ia mais parecida com o cerrado do que com uma floresta tropical.

(Este artigo apresenta uma definição mais completa sobre um ponto crítico e apresenta outras variáveis para outros ecossistemas)

Um artigo de 2009 cita algumas ações humanas que levam essas variáveis ao encontro do ponto de inflexão: mudanças na cobertura do solo, queimadas, desmatamento, aquecimento global e efeito de “fertilização” com CO2. O artigo também apresenta uma série de modelos experimentais da sensitividade da Amazônia ao desmatamento e às mudanças climáticas.

O artigo analisa que as ações humanas, em isolamento, indicam que
cerca de 40% do desmatamento da área florestal e substituição por pastagens ou plantações de monoculturas provavelmente marcam um ponto de não retorno. Os autores alertam que esse limiar pode variar significativamente se os efeitos forem combinados. Por outro lado, o impacto do aquecimento global na estabilidade da floresta indica que o ponto crítico pode ocorrer para aumentos locais de temperatura entre 3 e 4ºC.

Já um artigo mais recente, de 2018, considerou as sinergias negativas entre desmatamento, aquecimento global e o uso desenfreado do fogo para indicar um percentual muito menor: 20–25% de desmatamento mudariam o ecossistema do leste, sul e centro da Amazônia para áreas “não florestais”. Os autores acreditam que estamos muito perto.

Tão perto que autores sugerem que não adianta mais cessarmos o desmatamento, nós precismos replantar áreas já devastadas.

O cenário é muito crítico, visto que já desmatamos 20% da floresta e que a temperatura já aumentou 1ºC nos últimos 60 anos. É interessante ressaltar que as variáveis se correlacionam num feedback positivo de aproximação ao ponto: o desmatamento lança uma quantidade de dióxido de carbono adicional na atmosfera; que aumenta a temperatura na região; que por sua vez deixa o clima mais seco; diminuindo a quantidade de chuvas (mais sobre isso no próximo item); aumentando o stress hídrico na vegetação e a probabilidade de incêndios não intencionais; como resultado, essa vegetação tende a morrer ou reduzir seus níveis de fotossíntese; o que leva a uma quantidade extra de CO2 na atmosfera; deixando o clima mais seco…

Diagrama simplificada do mecanismo de feedback positivo citado — Fonte

Embora as perspectivas dos artigos sejam muito bem embasadas, não temos como afirmar, com absoluta certeza, qual é o ponto de inflexão, a menos que o encontremos. Acho que, mediante as consequências, concordamos que esse é o tipo de conhecimento que não queremos ter, certo? O fato é que múltiplas ações estão ocorrendo, simultaneamente, para que isso aconteça.

Você pode morar muito longe do norte do Brasil e pensar que não será impactado ou até concordar com o presidente que essa preocupação só cabe aos veganos, mas não se engane…

A questão ambiental

(Esta seção é baseada no relatórioO futuro climático da Amazônia” de Antonio Donato Nobre)

Uma das maiores virtudes de teorias científicas é a possibilidade de simular e prever condições futuras e diferentes das atuais. É assim que sabemos que, daqui aproximadamente 5 bilhões de anos, o Sol irá “morrer” devido a ausência da quantidade necessária de hidrogênio em seu núcleo. Cientistas também tem modelos físico-matemáticos para prever cenários climáticos distantes do momento presente e, há pelo menos 30 anos, processamos esses modelos em supercomputadores com estimativas de dados baseados na maneira que tratamos a floresta hoje.

Embora os modelos não concordem na ordem quantitativa dos resultados, eles concordam na conclusão: a quantidade de chuvas diminuirá e a temperatura média aumentará. Já temos casos reais que compravam essa previsão. Vamos olhar Rondônia mais de perto.

Quantidade de nuvens (‘a’, ‘b’ e ‘c’) e precipitação( ‘d’, ‘e’, e ‘f’) em Rondônia — Fonte

A primeira linha (figuras ‘a’, ‘b’ e ‘c’) da figura acima representa a quantidade de nuvens na região, enquanto a segunda linha (figuras ‘d’, ‘e’, e ‘f’) representa a precipitação. A primeira coluna (figuras ‘a’ e ‘d’) contém dados entre 1983 e 1990, a segunda (figuras ‘b’ e ‘e’) entre 1991 e 1999, e a terceira (figuras ‘c’ e ‘f’) apresenta dados entre 2001 e 2008. O contorno no meio indica a mancha de desflorestamento e os dados foram coletados no período de seca do local. A cor vermelha indica um valor inferior, se comparada com a cor azul, da variável plotada.

Percebem como o estado ficou mais seco? Embora uma área mais ao centro-oeste da figura (local com mais parques nacionais da região) tenha chovido mais, chove muito menos no norte da região (comparem o nordeste das figuras da segunda linha!). Para entendermos como essa problemática também afeta outras regiões, precisamos entender sobre o maior rio do mundo — o “rio voador da Amazônia”.

Nós costumeiramente ouvimos que a Amazônia é o “pulmão” do mundo, mas, se analisarmos-a sob a perspectiva de umidade, o título de “coração” (pelo menos para a América do Sul) também é válido. No meu ensino fundamental e médio eu aprendi que a água evapora do mar, “vai” para os continentes, cai como chuva, é coletada nos rios de superfície e retorna ao mar. Esse conceito hidrológico simplório não está errado, mas não explica nada.

Pesquisadores compararam as assinaturas químicas a proporção de isótopos que ocorre na água do mar, por exemplo, se altera com a evaporação (flutuam primeiro os mais leves) e também com a chuva (precipitam primeiro os mais pesados). Assim, ao analisar a assinatura química (isotópica) de uma amostra de água ou vapor, pode-se saber de onde ela veio, se do oceano ou da floresta — , entre o fluxo de entrada de vapor oceânico na floresta com as correspondentes assinaturas da água que retorna ao oceano pelo rio Amazonas e perceberam que parte significativa da água que entrava como vapor no canal aéreo não retornava pelo canal terrestre.

Do resultado, concluíram que a Amazônia devia estar exportando esse vapor para outras regiões do continente e irrigando outras bacias hidrográficas (que não a do Amazonas). De fato, análises feitas à época nas águas de chuva coletadas na cidade do Rio de Janeiro detectaram sinais de que parte dela vinha do interior do continente, e, mais especificamente, que havia passado pela Amazônia. São as “artérias” do “coração” distribuindo água para o continente.

Além das chuvas, a Amazônia também ajuda a regular — com a ajuda de uma barreira de 6 km de altura, a cordilheira dos Andes — a umidade do centro-oeste, sudeste e sul do Brasil. Se analisarmos a latitude do quadrilátero que vai de Cuiabá, ao Norte, Buenos Aires, ao Sul, São Paulo, a Leste e a cordilheira dos Andes, a Oeste, percebemos que existem quatro desertos alinhados: deserto de Atacama, desertos de Namíbia e Kalahari, na África, e o deserto da Austrália. Todos alinhados latitudinalmente com uma área verde responsável por 70% do PIB do continente.

Fonte

Uma grande área florestal também é um ótimo seguro contra furacões. Estudiosos explicam que a fricção turbulenta local com o dossel da floresta e a tração do vento em amplas distâncias diminui muito a chance de organização de tornados ou furacões. Ou seja, por meio de sua alta densidade de cobertura e grande extensão territorial, a Amazônia atenua a concentração de energia nos ventos, evitando surgimento de grandes tempestades em forma de furacões.

Ciclones tropicais identificados entre 1985 e 2005 — Fonte

Saindo um pouco da América do Sul, a diminuição na quantidade absorção de dióxido de carbono desempenhará um grande impacto nas mudanças climáticas, uma vez que a Amazônia absorve, por ano, 40% do gás gerado pela humanidade. Por fim, também há indícios do impacto do desmatamento em rompimento de barragens, erosão do solo e biodiversidade.

Você pode concordar com o presidente que “devemos dar um basta em estudiosos e especialistas” ou que o desmatamento é uma ação necessária ao crescimento econômico, mas não se engane…

A questão econômica

A falta d’água não será sentida apenas por consumidores residenciais. Não enfrentaremos problema apenas para lavar a louça e tomar banho. Também enfrentaremos problemas de produção de alimentos, criação de animais, abastecimento da indústria e geração de energia.

A agricultura é a principal usuária dos recursos hídricos disponíveis, com uma média mundial de consumo de 70%, mas apresenta uma produtividade média quase 3 vezes inferior às praticas tradicionais de sequeiro (que depende do regime intermitente das chuvas).

Se inferirmos que os principais causadores do desflorestamento são pessoas interessadas na expansão do agronegócio, a situação não torna-se, no mínimo, irônica? O maior conglomerado consumidor de água e responsável por uma grande fatia do PIB nacional tende a ser refém de seu “““progresso”””.

É sabido que grande parte da nossa produção agrícola é proveniente de monoculturas, especialmente a soja. Essa soja é exportada para diversas partes do mundo com o principal intuito de alimentar animais criados de forma intensiva. No entanto, a demanda pelo grão tende a cair vertiginosamente quando maneiras de produzir carne artificialmente tornarem-se economicamente viáveis (falei um pouco sobre isso no meu último texto).

Photo by Markus Spiske on Unsplash

E, mesmo se não cair, há uma pressão internacional para evitar a compra de produtos produzidos em áreas desflorestadas. Um ótimo exemplo e, talvez, o mais eficiente é o da Moratória da Soja. A iniciativa contou com a participação de diversas entidades nacionais e internacionais. Uma destas é o Greenpeace, que tomou ações em forma de protestos em grandes consumidores da planta. Os protestos atraíram a atenção do público, prejudicando a imagem das empresas e fazendo com que elas cobrassem uma ação dos produtores brasileiros. O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e CEO da Agropalmaprevê boicotes do gênero*, até porque a Moratória foi renovada por tempo indeterminado.

Por mais que faça sentido, sob a perspectiva do agronegócio, a degradação da Amazônia num curto espaço de tempo (mais área para plantar e produzir), as perspectivas futuras deveriam inviabilizar qualquer tipo de ação do tipo. Deveríamos acelerar nosso processo de migração de “economia de commodities” para uma “economia de tecnologias”. Mas fica difícil quando mais de 80 mil bolsas de pós-graduação são cortadas e o presidente fala à bancada ruralista que “esse governo é de vocês”

Não vou me alongar em como a água, direta e indiretamente, fará falta em diversos setores da economia — pois isso seria chover no molhado (rs) — mas quero chamar atenção para outra escassez que influenciará tanto a pessoa jurídica quanto a física: energia.

Usina Hidrelétrica de Nova Ponte — Fonte

A maior parte da nossa produção de energia elétrica, 66,6%, é proveniente de usinas hidrelétricas. Já imaginaram o impacto em todos os processos da nossa sociedade? Como ficaria nossa economia com a intermitência de geração, transmissão e distribuição de energia? É muito difícil rankear a criticidade entre a falta de água e falta de energia, imaginem causar problemas em algo que afeta ambos…

E se eu contasse que existe um fator irrankeável: a biodiversidade. A Amazônia ocupa menos de 5% da superfície terrestre do planeta e estima-se que 50% da fauna e flora da Terra estejam lá. E nós ainda não conhecemos grande parte dessas espécies (descobrimos 381 recentemente, quantas mais ainda vamos descobrir?). Na verdade, a descoberta de uma espécie não automatiza a descoberta de todas as suas propriedades. E se a Solanum arenicola, uma das 216 plantas recém descobertas, contiver uma substância, ainda desconhecida, que resolveria um tipo de câncer? Ou se há um composto numa aranha que possibilitaria a produção de um material biodegradável semelhante ao plástico? Se a perda de uma espécie do tipo é incalculável, o que dizer de um ecossistema inteiro?

Na verdade, tanto a planta quanto a aranha com aquelas propriedades podem ainda nem existir. Ou podem existir sem as hipotéticas substâncias. Tais substâncias podem emergir como um produto da evolução. No caso da planta, a substância pode vir a ser “desenvolvida” para atrair um certo tipo de mariposa e dar uma vantagem evolutiva ao vegetal. De fato, a perda da biodiversidade impactaria em ambas as questões analisadas.

Comparação com outros anos

Eu vi bastante gente compartilhando dados da NASA com a narrativa de que o número de queimadas atual não é superior a média dos últimos 15 anos e, embora não seja mentira, uma avaliação mais aprofundada é necessária para compreendermos como analisar a situação sob esse ponto de vista.

(Eu intercalei dados de desmatamento e queimadas propositalmente. Embora eles não sejam a mesma coisa, a correlação é válida)

Dentro da margem citada pela agência estadunidense estão anos (2004 e 2005) anteriores ao início da Moratória da Soja (2006) e a efetivação do Plano para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), políticas que diminuíram o desmatamento da floresta. Esses anos aumentam a média consideravelmente e podem ser considerados pontos fora da curva. Dê uma olhada no gráfico abaixo.

Desmatamento anual na Amazônia Legal (km2) (a) média entre 1977 e 1988, (b) média entre 1993 e 1994, (e) início PPCDAm — Fonte

Mais do que políticas ambientais, o próprio número de queimadas também fez com que a média caísse. Olhemos Mato Grosso, no gráfico abaixo, por exemplo. O estado era o maior “desmatador” do país e seus número caíram, também, pelo fato de que a área florestal restante é significativamente menor (chequem o mapa interativo da TerraBrasilis).

Desmatamento anual na Amazônia Legal (km2) (a) média entre 1977 e 1988, (b) média entre 1993 e 1994, (e) início PPCDAm — Fonte

Perceberam que eu usei dados do INPE? O presidente implementou uma censura burra, pois os dados estão todos disponíveis no site do instituto. Mas e se os dados de um instituto reconhecido internacionalmente por seus avançados métodos de análise estiverem errados? Ok, vamos checar a fonte da NASA.

Até o dia 16/08/2019, Rondônia teve 9749 queimadas acumuladas no ano (contra 3239 em 2018, 4051 em 2017 e 5543 em 2016). No mesmo dia, perdemos apenas para (adivinhem?!) 2003, 2004 e 2005. Situação semelhante acontece no estado do Acre. No estado do Amazonas a situação é ainda mais crítica: o número acumulado de queimadas na data citada é superior a qualquer ano já monitorado, incluindo os anteriores ao início da Moratória da Soja.

E mais: à medida que a floresta diminui, não é necessário uma média maior para representar um impacto maior.

Imaginem a situação hipotética: em 2000, uma floresta tinha 20000 km² e sofreu 1000 queimadas, o mesmo valor da média. Alguns anos passaram e a média de queimadas permaneceu constante. Em 2010, essa mesma floresta tinha 10000 km² e sofreu 900 queimadas. Supondo que, em média, cada queimada causa uma perda de 1 km², em 2000 a floresta perdeu 5% de sua área, contra 9% em 2010. O número de queimadas em 2010 foi inferior a média, mas o impacto na floresta, se comparado com 2010, foi quase o dobro.

Conclusão

A temática ambiental é muito pouco debatida no processo eleitoral pelo fato de que as pessoas são imediatistas. É muito mais comum vermos políticos debatendo sobre soluções econômicas do que ambientais, pois estas, muitas vezes, não buscam correções para um problema visível, mas uma prevenção para evitar problemas futuros.

No entanto, esses problemas estão se aproximando e o discurso de descaso com o meio ambiente do novo governo não poderia estar mais distante de um crescente consenso global a respeito da importância da questão ambiental.

É evidente que precisaremos de ajuda externa para resolver o problema, até porque a destruição da floresta não se dá, apenas, por meio de desmatamento e queimadas. Um gravíssimo problema é a grilagem.

Conhecida como grilagem, a falsificação de documentos de terra é usada frequentemente por madeireiros, criadores de gado e especuladores agrários para se apossar de terras públicas visando sua exploração. Latifundiários contam com a cumplicidade de cartórios de registro de bens para se apoderar de áreas públicas e usam de violência para expulsar posseiros, povos indígenas e comunidades tradicionais que têm direito legítimo à terra

Os dados apresentados no documento da Greenpeace revelam um esquema bilionário, muito similar a tantos outros esquemas de corrupção que já vimos na mídia. Ao que tudo indica, nossa democracia não amadurecerá (às vezes até parece que estamos regredindo) na taxa necessária para solucionarmos esquemas do tipo num tempo hábil.

Gostaria de finalizar o texto ampliando a discussão com uma reflexão: mesmo com os mais modernos métodos de conservação e com uma grande cooperação global, conseguiremos evitar o colapso ambiental se mantivermos nosso modelo econômico atual? É possível que a economia cresça infinitamente num planeta de recursos finitos? As duas perguntas parecem ter a mesma resposta — não.

(As partes marcadas com asterisco (*) foram escritas antes das mais recentes notícias de embargos e sanções e a parte abaixo é uma breve reflexão sobre o cenário)

Quando os recentes incêndios florestais começaram a acontecer (e era evidente que eles aconteceriam) a incompetência do próprio governo fez com que o mundo inteiro voltasse sua atenção para a Amazônia. Eles fizeram questão de trazer uma tsunami contra si. Líderes políticos que não fizeram nada pelo meio ambiente tiveram o discernimento mínimo de não chamar a atenção para isso (não estou dizendo que é uma qualidade, mas que o contrário demonstra uma total incapacidade, despreparo e incompetência política) e não promover o desmantelamento de estruturas destinadas a tratar do assunto.

Até dá vontade de dizer “Bem feito! Bom para aprenderem! Eu avisei!”, porém na disputa de políticas minimamente competentes ora ganha um lado, ora ganha outro e na disputa dos incompetentes todos perdem. Foram 8 meses de governo, faltam 40.

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