Joaquim d'Athayde
Joaquim de Athayde nasceu à 09 de setembro de 1864, em Campos dos Goytacazes. Filho de Joaquim José e Alexandrina da Silva d’Athayde, foi dramaturgo, ator, diretor teatral e jornalista. Aos 16 anos de idade iniciou sua carreira nas artes cênicas como aluno do professor José Azurara, no Lyceu Azurara, estreando no Theatro São Salvador pela primeira vez na peça "José, filho d’Israel", de autoria do professor e interpretando o personagem Jacob. Aos 19 anos vai para a capital da Côrte e começa a trabalhar profissionalmente, participando de várias Companhias Teatrais nos anos de 1880. Num primeiro momento, integrou a Companhia Apollonia, estreando no Theatro Empyreo Dramático onde interpretou o papel de Zavi, no drama "Paulo e Virgínia". Nas outras Companhias, teve a oportunidade de viajar para os Estados do Sul e Sudeste do Brasil.
Sua ligação com Macaé se dá a partir de 1896, como colaborador do jornal O Lynce usando o pseudônimo "Artenio". Neste mesmo ano, Athayde estréia no Teatro Santa Isabel com a Companhia do ator Luiz Villela. Enfrentando crises e disputas internas, a Cia. é dissolvida e, em 16 de setembro daquele mesmo ano, Athayde escreve uma carta ao público macaense explicando os motivos do conflito que levaram à dissolução, o que acarretou na criação de uma Associação Dramática sob a direção dele próprio. Agora, com o seu nome à frente, ele promove diversos espetáculos em Macaé, com peças autorais e artistas locais.
Como dramaturgo, até os 40 anos de idade, já tinha escrito 20 dramas e 8 comédias. Muitas de suas obras cruzaram o Atlântico e foram encenadas na Europa. Aqui, vale destacar duas: "A Tragédia de Canudos ou A Campanha dos Fanáticos" (baseado nos acontecimentos no Arraial de Canudos, liderado por Antônio Conselheiro, na Bahia) e “Motta Coqueiro ou a Pena de Morte” (baseado nos acontecimentos de 1855 e no romance homônimo de José do Patrocínio, lançado em 1877). Essas duas obras autorais de Athayde foram encenadas em Macaé, exigindo muitos esforços em sua produção, com grande elenco, corpo de coros e orquestra. Para isso, Athayde contou com a parceria do músico e maestro macaense Ernesto Luiz Olive, que compôs toda a trilha musical dessas peças.
Em 1897, J. d’Athayde se afasta temporariamente dos palcos e é convidado pelo militar e político Antônio Corindiba de Carvalho a criar a “Bibliotheca do Povo”, recebendo a incumbência de dirigir o espaço. O objetivo era oferecer ao leitor um ambiente de “agradável e instrutivo meio de se ilustrar”, acessando importantes obras literárias nacionais, alguns periódicos, e sua manutenção se daria com poucos recursos e pequena contribuição financeira do usuário. Anexo à biblioteca, havia uma loja de artigos para fumantes que também vendia bilhetes de loteria.
Já encerrando o ano de 1897, a biblioteca interrompe suas atividades. Ao mesmo tempo, Athayde recebe um convite para atuar junto a Companhia da atriz Ismênia dos Santos, que se encontrava em Campos se preparando para uma maratona de apresentações pelo país. Leal à arte a que tanto vinha se dedicando, o ator se desloca de Macaé até a sua terra natal, a fim de se incorporar à trupe, num dia de domingo (26 de dezembro de 1897). A Cia. chega a Macaé em março do ano seguinte encenando várias récitas. Em uma delas, a própria Ismênia contracena com Athayde na peça "Motta Coqueiro ou a Pena de Morte", com ele interpretando o personagem principal, Motta Coqueiro, e ela interpretando a sua esposa, D. Maria. Assim, a Companhia se despede de Macaé e prossegue com sua agenda.
Segundo afirmava as linhas da revista “A Aurora”, o distinto ator Joaquim d’Athayde "... é uma dessas organizações privilegiadas que não descoroçoam nunca, ao encarar os embates tremendos que se levantam como ondas alterosas, para impedirem a realização dos mais alevantados ideais. Animado pela sacra chama da arte, olhos fitos ao porvir, com uma confiança absoluta no futuro, lá vai ele - cavaleiro medieval, seguindo os passos incertos da arte infeliz, consumido pelos dissabores, devorado por angústias inenarráveis, intrépido e galhardo, sem saber que novos sacrifícios trará o dia de amanhã…".
Joaquim d’Athayde faleceu em 1948. Sua última ocupação foi como inspetor escolar na prefeitura de Campos e muito lutou por melhorias na qualidade do ensino de lá. Como ator, contracenou com grandes nomes da época, como Gastão Machado, Furtado Coelho, Emília Adelaide e Ismênia dos Santos. Atuou em teatros de várias capitais do país e no interior. Escreveu várias peças, entre elas, Dramas, Tragédias, Comédias e algumas Operetas. Trabalhou para diversos jornais, como o jornal macaense O Lynce, e chegou a dirigir O Horizonte, periódico lançado em Patrocínio do Muriaé no ano de 1911.
Assim era e continua sendo a vida do artista que faz das tripas coração para servirem a sua arte. Assim é viver da arte em muitas cidades. Em Macaé, especificamente, o Teatro Municipal interrompe mais uma vez as suas atividades, deixando o público mais pobre de espírito. A ARTE se impõe e resiste porque os artistas se impõem e resistem, se mantém firmes às tempestades, aos descasos e vistas grossas. "... O valor das almas grandes é exatamente essa extraordinária força ideal, que impele os homens às mais cruas pelejas, na confiança, de mais dia menos dia, … dar conforto a todos os seus sacrifícios…".
Referência(s):
Jornal O Lynce. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReaderMobile.aspx?bib=801240&PagFis=278&Pesq=d%27Athayde;
Jornal Monitor Campista. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReaderMobile.aspx?bib=030740&pesq=%22Joaquim%20de%20Athayde%22&hf=memoria.bn.br;
Sousa, Horacio. Memórias Fluminenses. Cyclo Aureo: Historia do 1º centenario da cidade de Campos (1835-1935). Campos dos Goytacazes, RJ. Essentia. 2014;
Há 143 anos, era inaugurado o Theatro Empyreo Dramático. Disponível em: https://historiacampista.blogspot.com/2017/09/ha-143-anos-era-inaugurado-o-theatro.html?m=1;