INOVAÇÃO E TECNOLOGIA COMO PROTAGONISTAS NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO

Atualizado em 08/11/23

Os recursos tecnológicos têm se tornado cada dia mais, um dos grandes aliados, tanto na prevenção do uso de substâncias, quanto no tratamento de pessoas que desenvolveram transtorno por uso de substâncias (TUS) e transtornos por uso de álcool (TUA).

Tratar o fenômeno das drogas tem sido um desafio complexo e multidimensional, o qual tem exigido soluções criativas e adaptáveis de profissionais da saúde, gestores, formuladores de políticas públicas, educadores e outros profissionais envolvidos na prevenção, no tratamento e nas políticas públicas de drogas em todo mundo.

Para se ter dimensão do espaço que a tecnologia ocupa hoje na vida dos brasileiros, segundo o levantamento anual da Fundação Getúlio Vargas temos 447 milhões de dispositivos digitais (computador, notebook, tablet e smartphone) em uso no Brasil (corporativo e doméstico). Ou seja, mais de 2 dispositivos digitais por habitante em junho de 2022. Deste total, 242 milhões são celulares inteligentes e a média de tempo que o brasileiro passa diariamente na internet é de 4h48min (FGV, 2022).

O desafio está em aproveitar toda esta conexão tecnológica em prol de promoção de cuidados e prevenção na área da dependência química, de forma saudável e produtiva para todos. Com a disponibilidade de sensores e dispositivos portáteis, é possível, por exemplo, monitorar a saúde e o comportamento dos usuários, identificando sinais precoces de problemas. Além disso, chatbots e aplicativos de mensagens podem ser usados para fornecer suporte e aconselhamento imediato para aqueles que estão em risco ou já apresentam comportamentos problemáticos relacionados às drogas

A tecnologia também pode ser usada para fornecer acesso a recursos e serviços de tratamento para aqueles que precisam de ajuda e que estão em lugares mais remotos ou sem acesso aos serviços médicos. A telemedicina pode ser uma solução importante para superar as barreiras geográficas e aumentar o acesso ao tratamento de dependência química em áreas rurais.

DIGITAL THERAPEUTICS

Digital Therapeutics, ou terapias digitais no idioma português, são intervenções baseadas em tecnologia que visam tratar ou prevenir condições de saúde. Essas terapias usam tecnologias como aplicativos móveis, wearables, programas de computador e outras tecnologias para fornecer tratamento médico ou psicológico. Elas podem ser usadas independentemente ou em conjunto com medicamentos, dispositivos ou outras terapias para otimizar o atendimento dos pacientes e os resultados em saúde deles.

“[..] As terapias digitais oferecem um novo paradigma para tratar pacientes com uma variedade de distúrbios de saúde. A capacidade de personalizar o tratamento com base nos dados coletados e na resposta do paciente é uma vantagem única que as terapias digitais podem oferecer. Além disso, a fácil acessibilidade e a capacidade de monitorar o tratamento podem tornar as terapias digitais uma opção atraente para pacientes em todo o mundo [..]” (AKHONDZADEH et al., 2018, p.204)

VANTAGENS DO USO DE TECNOLOGIA NA JORNADA DE SAÚDE

John Torous, psiquiatra americano e cofundador do Centro de Tecnologia em Saúde Mental Digital do Beth Israel Deaconess Medical Center, é um defensor do uso da tecnologia na jornada de saúde e aponta as vantagens dessa abordagem:

“[..] A tecnologia tem o potencial de revolucionar a maneira como os pacientes acessam e recebem atendimento médico. Ela pode fornecer informações e recursos de saúde em tempo real, ajudar a monitorar a saúde dos pacientes e fornecer tratamentos mais personalizados e eficazes. Além disso, a tecnologia pode ajudar a conectar pacientes e profissionais de saúde de maneira mais eficiente, permitindo que os pacientes recebam tratamento quando e onde precisarem [..]” (TOROUS, 2018, p. 215–216).

EXEMPLOS DE TECNOLOGIA

REALIDADE VIRTUAL — A Realidade Virtual é uma tecnologia que permite a criação de um ambiente digital tridimensional imersivo, no qual um usuário pode interagir com objetos e personagens virtuais por meio de dispositivos tecnológicos, como óculos de realidade virtual, luvas sensoriais e outros equipamentos similares.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL — A Inteligência Artificial é um campo da ciência da computação que busca criar sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana, como reconhecimento de fala, visão computacional, tomada de decisão, entre outras. O objetivo da inteligência artificial é criar máquinas que possam aprender, raciocinar e agir de forma autônoma, sem intervenção humana.

WEARABLES — Os Wearables, ou dispositivos vestíveis, são uma tecnologia em expansão que tem sido utilizada em diversas áreas da saúde, incluindo a prevenção do uso de drogas. Esse dispositivo pode ser utilizado em programas de reabilitação e prevenção de drogas para monitorar o estado físico e emocional dos pacientes, identificando padrões de comportamento que possam indicar recaídas.

TELEMEDICINA — Muitos países introduziram ou expandiram os serviços de Telemedicina devido à pandemia, o que para os usuários de drogas significa que os profissionais de saúde podem agora oferecer aconselhamento ou avaliações iniciais por telefone e usar sistemas eletrônicos para prescrever substâncias controladas.

MOBILE HEALTH — Os aplicativos podem ajudar os usuários a monitorarem seu progresso, estabelecer metas e manter a motivação. Muitos aplicativos oferecem recursos de rastreamento de hábitos e metas diárias, permitindo que os usuários vejam como estão progredindo ao longo do tempo.

A tecnologia é uma ferramenta valiosa para o cuidado com a saúde, mas não deve substituir o contato humano entre paciente e profissional. É importante reconhecer que os profissionais de saúde possuem habilidades e conhecimentos que não podem ser replicados por máquinas ou algoritmos, tornando o cuidado personalizado e atencioso fundamental para a prevenção e tratamento de doenças. A tecnologia deve ser utilizada de forma complementar para potencializar os benefícios do cuidado humanizado e individualizado.

“O dependente químico é ambivalente. Ao mesmo tempo que ele quer parar de usar, ele não quer. Então é superimportante ter a ferramenta na mão na hora que ele decide”, psicóloga Flavia Serebrenic, pesquisadora voluntária do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Gama, 2021).

André Almeida — Especialista em Gestão de Projetos, empreendedor e fundador da startup My Journey Health. Membro associado da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas (ABEAD).

www.myjourney.com.br

Referências

- FERREIRA, M. B., & CUNHA, P. J. (2018). Tecnologias de informação e comunicação no tratamento do transtorno por uso de substâncias: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Psiquiatria, 40(1), 76–86.

- SILVA, ANA BEATRIZ; SOUZA, PEDRO. Tecnologia e soluções inovadoras na prevenção de drogas. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 57, n. 1, p. 1–8, jan. 2021.

- PRADHAN, Biswadeep; KLIEGER, David M.; MAHAPATRA, Tanusree; BHATTACHARYYA, Pallab K.; PANDA, Subrat Kumar. Use of innovative technology for drug abuse prevention: A narrative review. Current drug abuse reviews, v. 12, n. 2, p. 94–99, 2019. Disponível em: https://www.eurekaselect.com/168495/article. Acesso em: 16 mar. 2023.

- KAPP, Karl M. The gamification of learning and instruction: game-based methods and strategies for training and education. John Wiley & Sons, 2012.

- BERTHOLET, N., CUNNINGHAM, J.A. Information technology and addiction science: promises and challenges. Addict Sci Clin Pract 16, 7 (2021).

- PERSKI O, HÉBERT ET , NAUGHTON F ,HEKLER EB, BROWN J, BUSINELLE MS.Technology-mediated just-in-time adaptive interventions (JITAIs) to reduce harmful substance use: a systematic review . Addiction. 2022 May;117(5):1220–1241.

- SWEENEY, S. J. ET AL. Technological Interventions for Substance Use in Rural Communities: A Systematic Review. Current HIV/AIDS Reports, v. 18, n. 1, p. 28–40, 2022.

- TOROUS, J.; FIRTH, J.; HUCKVALE, K. The emerging imperative for a consensus approach toward the rating and clinical recommendation of mental health apps. Journal of medical internet research, v. 18, n. 12, p. e324, 2016.

- MORAES, Roque. História da Tecnologia. Disponível em: http://www.moraes.pro.br/artigos/HISTORI~1.HTM. Acesso em: 13 mar. 2023.

- KIVITS, Joël. Innovations and the need for change in healthcare delivery systems. In: VAN GORP, T. (Ed.). Handbook of research on ICTs and management systems for improving efficiency in healthcare and social care. Hershey: IGI Global, 2014. p. 200–218.

- IHDE, Don. Technics and Praxis: A Philosophy of Technology. Dordrecht: Springer, 2018. p.5

- AKHONDZADEH, S.; ESMAEILI, A.; HOLSBOER-TRACHSLER, E. Digital therapeutics: emerging new therapy for neurological deficits, pain, and opioid addiction. Nature Digital Medicine, v. 1, n. 1, p. 1–5, 2018.

- TOROUS, J. Digital phenotyping and the development of digital therapeutic interventions for suicide prevention. JAMA Psychiatry, v. 75, n. 3, p. 215–216, 2018.

- MASCOLA, J. R., BUCHDAHL, A. W., & MADIGAN, K. P. (2019). Digital therapeutics come of age: entering a new decade of consolidation, partnership and validation. Nature Digital Medicine, 2(1), 1–4.

- LANIER, J. (1991). Virtual Reality. New York: Basic Books.

- LINDNER, P., MILOFF, A., HAMILTON, W., REUTERSKIÖLD, L., ANDERSSON, G., POWERS, M. B., & CARLBRING, P. (2017). Creating state of the art, next-generation Virtual Reality exposure therapies for anxiety disorders using consumer hardware platforms: Design considerations and future directions. Cognitive Behaviour Therapy, 46(5), 404–420.

- GAMA. (2021, JANEIRO 21). Como a telemedicina e apps de celular ajudam dependentes químicos. Gama. https://gamarevista.uol.com.br/semana/drogas/como-a-telemedicina-e-apps-de-celular-ajudam-dependentes-quimicos/