A alma imaterial e imortal

Guilherme Henrique
4 min readMar 2, 2018

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Esta série de artigos tem por objetivo defender o modelo político teocrático e demonstrar a filosofia católica

O que é a alma?

A alma, segundo Santo Tomás de Aquino, é uma potência intelectiva unida ao corpo como forma.

Com efeito, se a substância intelectual não se une ao corpo apenas como motor, como disse Platão, nem a ele se une só pelos fantasmas, como disse Averróis, mas, como forma; e se o intelecto, pelo qual o homem tem intelecção, não é uma disposição na natureza humana, como afirmou Alexandre; nem o temperamento, como quis Galeno; nem a harmonia, como pretendeu Empédocles; nem corpo, ou sentido, ou imaginação, como diziam os antigos — resta afirmar que a alma humana é uma substância intelectual unido ao corpo como forma. — Questões Disputadas sobre A Alma

Questões como as intelecções da alma, seu desempenho no corpo humano, o reconhcimento de abstrações, dentre tantas outras, não serão tratadas aqui pelo pouco tempo e espaço que temos para discorrer sobre o assunto. Contudo, mostrarei ainda neste artigo que a alma é imaterial e eterna.

A imaterialidade da alma

Podemos considerar também a alma como nossa mente, já que é responsável pelas nossas ações intelectivas. No modernismo filosófico atual é comum ouvirmos que a mente é simplesmente matéria. Que ela é subproduto de um conglomerado de células e neurônios. Tal perspectiva, longe de explicar a mente, apenas a nega. E como sabemos disto? Por que nós estamos lidando com coisas imateriais o tempo todo. Tais como abstrações, verdades e etc. E aquilo que é material não pode conhecer o imaterial, evidentemente, pois este transcende aquele. É como tentar que alguém que viva em 2 dimensões conheça algum que viva em 3 dimensões.

Provando que existem coisas imateriais e que nós as conhecemos

Podemos dividir as ciências em duas categorias. As empirico-sistemáticas e as axiomáticas. As empírico-sistemáticas , ou empíricas, que são mais conhecidas atualmente como ciências naturais, utilizam de ferramentas materiais para fazer suas comprovações. A biologia, a química, a astronomia, a medicina, dentre tantas, são exemplos de ciências empíricas. A biologia tem como objeto de estudo os seres vivos, a química as substâncias e da constituição da matéria, a astronomia dos corpos celestes, a medicina da saúde do corpo e por aí vai. Uma coisa comum à todas é que todas estudam a matéria. Por conta desta mesma razão estão sempre mudando suas conclusões. A química há 200 anos tinha substâncias faltantes na tabela periódica. Hoje temos mais. A biologia há anos concluiu certas características das composições sub-celulares. Hoje sabemos que estas mesmas estão erradas. A astronomia com o passar das décadas desenvolve aparelhos cada vez mais tecnológicos para o estudo dos planetas, trazendo assim mais certezas de suas afirmações. A medicina está sempre evoluindo na cura de doenças e etc. As ciências empíricas evoluem historicamente e suas conclusões sempre são trocadas por outras. Isso acontece por conta de seu objeto de estudo ser material, tudo quanto é material muda a todo instante.

Por outro lado temos as ciências axiomáticas. Matemática e lógica são dois exemplos. A matemática estuda objetos abstratos tais como números, figuras, funções e etc. A lógica, das formas de pensamento em geral. A praxeologia, que vem de praxis, ação, estuda a ação humana. Todas as ciências axiomáticas fundam-se sobre axiomas evidentes e imutáveis. A matemática nos diz que em um triângulo retângulo a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Essa é uma verdade irrefutável e imutável. Ela não muda. A lógica nos diz que A é A e B é B, sendo assim, A não pode ser B enquanto é A. Isto também é uma verdade evidente e irrefutável. A mesma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo sob mesmo aspecto. A praxeologia produz um axioma que nos diz que o ser humano age. O que temos de comum em tudo isso? A imaterialidade dos axiomas. Um axioma não muda, é verdadeiro mesmo que as condições materiais mudem. Por essa razão são imateriais. O teorema de Pitágoras será verdadeiro ainda que todos os humanos morram ou ainda que o planeta Terra ecloda. A será A e não B ainda que nossa galáxia se disperse pelo universo. Sendo assim, os axiomas são coisas imateriais, uma vez que tudo quanto é material é mutável.

Provado que coisas imateriais existem, provemos que nossa mente (alma) é eterna

Se coisas imateriais existem e nós as conhecemos, então também temos necessariamente algo de imaterial na nossa composição, a saber, nossa alma, que atua como intelecção ou mente. Se não o tivéssemos nunca poderíamos conhecer os axiomas imateriais que expus aqui. Se nossa mente fosse de todo material nada disso conheceríamos. Sendo nossa alma imaterial, é também eterna. As coisas materiais perecem e deixam de existir. Uma mesma árvore observada com um intervalo de séculos terá de degenerado e se transformado em adubo para o solo. Nosso corpo perece e se torna a mesma coisa. Coisas imateriais, que são a negação disto (materiais), são eternas e não perecem. Assim como os axiomas nossa alma é eterna.

Então viveremos para sempre?

Sim, não ao modo humano, afinal, não teremos órgãos, não teremos fome e outras adversidades materiais. Mas nossa intelecção, nossa forma, nossa alma é eterna. Questões como para onde irá, o que fará após a morte, como procederá ao conhecer as coisas, são respondidas à luz da revelação.

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