“Deus não existe”, afirma o tolo.

Guilherme Henrique
9 min readMar 3, 2018

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Esta série de artigos tem por objetivo defender o modelo político teocrático e demonstrar a filosofia católica.

Antes vamos entender alguns conceitos.

Ser : aquilo que é ser, aquilo que é, é aquilo que existe. Desse modo, o Ser é como uma dimensão onde se encontram imersas todas as coisas existentes.

Ente : aquilo que existe e está imerso no Ser.

Potência : podemos entender a potência, conceito aristotélico, como aquilo que algo “pode vir a ser”. Todas as coisas que vemos possuem potências. Nós, por exemplo, temos a potência de pular, de falar, de raciocinar, de escrever e etc. Assim como a barra de ferro tem a potência de se tornar uma espada. Assim como uma chapa de madeira tem a potência de ser moldada e se transformar em um guarda-roupa. Todas as coisas materiais possuem potências. Todas elas podem mudar de alguma forma, se transformando em outra coisa.

Ato : o ato é a concretização da potência. Ao invés de “pode vir a ser” o ato apenas “é”, é a realização da potência. Quando queremos realizar nossa potência para o pulo, pulamos. Quando pulamos, passamos do pulo em potência para o pulo em ato. A potência, neste caso, foi realizada por diversos fatores, como processos corpóreos. Ativação de alguns neurônios, contração dos músculos, impulsão dos dedos e etc. Assim como a barra de ferro , quando moldada por um ferreiro, passa a ser uma espada. Ou quando a a chapa de madeira é moldada e passa a ser um guarda-roupa. Isto é o ato.

Iª Via — Prova do movimento

IIª Via — Prova da causalidade eficiente

IIIª Via — Prova da contingência

IVª Via — Dos graus de perfeição dos entes

Vª Via — Prova da existência de Deus pelo governo do mundo

A primeira e mais manifesta é a procedente do movimento; pois, é certo e verificado pelos sentidos, que alguns seres são movidos neste mundo. Ora, todo o movido por outro o é. Porque nada é movido senão enquanto potencial, relativamente àquilo a que é movido, e um ser move enquanto em ato. Pois mover não é senão levar alguma coisa da potência ao ato; assim, o cálido atual, como o fogo, torna a madeira, cálido potencial, em cálido atual e dessa maneira, a move e altera. Ora, não é possível uma coisa estar em ato e potência, no mesmo ponto de vista, mas só em pontos de vista diversos; pois, o cálido atual não pode ser simultaneamente cálido potencial, mas, é frio em potência. Logo, é impossível uma coisa ser motora e movida ou mover-se a si própria, no mesmo ponto de vista e do mesmo modo, pois, tudo o que é movido há-de sê-lo por outro. Se, portanto, o motor também se move, é necessário seja movido por outro, e este por outro. Ora, não se pode assim proceder até ao infinito, porque não haveria nenhum primeiro motor e, por conseqüência, outro qualquer; pois, os motores segundos não movem, senão movidos pelo primeiro, como não move o báculo sem ser movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus.

Entendamos “movimento” como, além do movimento físico, ir daqui ali, a mudança dos entes materiais. Todas as coisas materiais mudam, uma hora são isso e logo se tornaram outra coisa. Uma hora somos de tal opinião e logo mudamos-a. Em um momento o gato está dormindo e logo ele acorda e começa a caminhar, a se movimentar. Tudo que é material é mutável e possui diversas mudanças. Baseado nisto, o Doutor Angélico nos diz que

I — As coisas movem e mudam
II — Tudo que move é movido por outra coisa
III — Não se pode voltar ao infinito no retrocesso causal
IV — Tem de haver um Motor Imóvel Primeiro, a este chamamos Deus

Tudo que se move é movido por outra coisa? Sim. Algo não pode mudar-se a si mesmo. Algo não pode ser causa de si mesmo. Tudo que muda é mudado por um ente exterior. No caso dos animais, quando eles caminham, não se trata de algo movendo a si mesmo mas sim da parte movendo o todo. Os seus órgãos e músculos é que movem o animal. Se eu deixar, por exemplo, uma caneca em cima da minha mesa por um ano ela irá se mover? Obviamente não. Ela só irá se mover quando eu puser a mão nela ou se for afetada por fatores naturais. Do contrário ela permanecerá em estado inercial. Mas eu também sou movido, a saber, pelas partes do meu corpo, como os animais. As minhas partes tiveram um momento de crescimento. Meus órgãos, músculos, tecidos, etc. eram muito menores do que agora quando eu estava no ventre de minha mãe. Eles mudaram, então, cresceram por conta de processos corporais maternos que me forneceram o que era preciso para eles crescerem. Em suma, todas as coisas materiais não podem se auto-mudar, se auto-mover ou se auto-criar. Sendo assim, tem de existir um Ente Imaterial Imutável para que a série de efeitos materiais possa ser explicada. É como uma impossibilidade tal Ente não existir, pois, assim, nada do mundo material existiria. A este chamamos Deus.

A segunda via procede da natureza da causa eficiente. Pois, descobrimos que há certa ordem das causas eficientes nos seres sensíveis; porém, não concebemos, nem é possível que uma coisa seja causa eficiente de si própria, pois seria anterior a si mesma; o que não pode ser. Mas, é impossível, nas causas eficientes, proceder-se até o infinito; pois, em todas as causas eficientes ordenadas, a primeira é causa da média e esta, da última, sejam as médias muitas ou uma só; e como, removida a causa, removido fica o efeito, se nas causas eficientes não houver primeira, não haverá média nem última. Procedendo-se ao infinito, não haverá primeira causa eficiente, nem efeito último, nem causas eficientes médias, o que evidentemente é falso. Logo, é necessário admitir uma causa eficiente primeira, à qual todos dão o nome de Deus.

A causa eficiente, em sentido aristotélico, remete àquilo que causou um efeito. Por exemplo — no evento “Chutei uma pedra do alto do prédio” quais são os efeitos e as causas? O efeito foi a pedra caindo lá de cima. A causa, evidentemente, foi o movimento de minha perna que gerou uma força de impulsão na pedra causando o efeito colocado acima-. Sendo assim, a causa sempre antecede o efeito. Assim como o ato sempre antecede a potência. Se formos fazer um retrocesso causal nas coisas materiais chegaremos inevitavelmente em um Ente Imaterial Incausado. É impossível supor que a série causal se estende pelo infinito, afinal, como teríamos os efeitos das causas? Se elas se estendem infinitamente no passado como é possível que hajam efeitos? Sendo infinitas, uma causa anula a outra. Isso significa dizer que nada de material existe. Como isto não é verdade, é evidente que os efeitos materiais existem,e também que tem de haver um Ente Imaterial Incausado, a qual chamamos todos de Deus.

A terceira via, procedente do possível e do necessário, é a seguinte — Vemos que certas coisas podem ser e não ser, podendo ser geradas e corrompidas. Ora, impossível é existirem sempre todos os seres de tal natureza, pois o que pode não ser, algum tempo não foi. Se, portanto, todas as coisas podem não ser, algum tempo nenhuma existia. Mas, se tal fosse verdade, ainda agora nada existiria pois, o que não é só pode começar a existir por uma coisa já existente; ora, nenhum ente existindo, é impossível que algum comece a existir, e portanto, nada existiria, o que, evidentemente, é falso. Logo, nem todos os seres são possíveis, mas é forçoso que algum dentre eles seja necessário. Ora, tudo o que é necessário ou tem de fora a causa de sua necessidade ou não a tem. Mas não é possível proceder ao infinito, nos seres necessários, que têm a causa da própria necessidade, como também o não é nas causas eficientes, como já se provou. Por onde, é forçoso admitir um ser por si necessário, não tendo de fora a causa da sua necessidade, antes, sendo a causa da necessidade dos outros; e a tal ser, todos chamam Deus.

Entes contingenciais são entes que podem ou não ser. Eles podem existir ou não. Todos os humanos poderiam não mais existir, devido á alguma guerra nuclear de escala extra-mundial. Os celulares poderiam não existir e ao invés disso aparelhos triangulares tecnológicos. Todas as coisas materiais podem ser ou não. Se tudo que existe é assim então um dia nada foi, já que tudo pode e não ser. Mas suponhamos que a matéria sempre existiu. Ainda que se procedesse, nada mais existiria, visto que a matéria uma hora existe e logo não existe mais. Seu tempo de existência é contingente. Isto é um absurdo, visto que existimos aqui e agora. Por conta disso, tem de haver um Ente Necessário, o qual chamamos Deus.

A quarta via procede dos graus que se encontram nas coisas. — Assim, nelas se encontram em proporção maior e menor o bem, a verdade, a nobreza e outros atributos semelhantes. Ora, o mais e o menos se dizem de diversos atributos enquanto se aproximam de um máximo, diversamente; assim, o mais cálido é o que mais se aproxima do maximamente cálido. Há, portanto, algo verdadeiríssimo, ótimo e nobilíssimo e, por consequente, maximamente ser; pois, as coisas maximamente verdadeiras são maximamente seres, como diz o Filósofo. Ora, o que é maximamente tal, em um gênero, é causa de tudo o que esse gênero compreende; assim o fogo, maximamente cálido, é causa de todos os cálidos, como no mesmo lugar se diz. Logo, há um ser, causa do ser, e da bondade, e de qualquer perfeição em tudo quanto existe, e chama-se Deus.

Esta via é um tanto platônica. Nós percebemos que as coisas que nos cercam têm diversas qualidades mas nunca o máximo delas. Em suma, todas as coisas deste mundo são imperfeitas. Como o imperfeito só o é em relação a algo sumamente perfeito, assim como a potência só existe em relação ao ato, a injustiça em relação à justiça e etc, este Ente sumamente perfeito é Deus.

A quinta procede do governo das coisas — Pois, vemos que algumas, como os corpos naturais, que carecem de conhecimento, operam em vista de um fim; o que se conclui de operarem sempre ou freqüentemente do mesmo modo, para conseguirem o que é ótimo; donde resulta que chegam ao fim, não pelo acaso, mas pela intenção. Mas, os seres sem conhecimento não tendem ao fim sem serem dirigidos por um ente conhecedor e inteligente, como a seta, pelo arqueiro. Logo, há um ser inteligente, pelo qual todas as coisas naturais se ordenam ao fim, e a que chamamos Deus.

A quinta via nos diz exatamente o contrário: todos nós carregamos a essência desde a eternidade. Quando vemos os seres agindo, vimos que todos eles agem em vista um fim e todos eles servem um e outro. Assim como os minerais servem as ervas, as ervas servem o gado e o gado nos servem, nós também devemos servir a Deus. É insensato crer que vivemos num mundo onde o acaso “governa” as coisas. A quinta via prova que vivemos num universo criado e governado de uma forma que permite a nossa existência e, logo, com um fim.

Podemos concluir que a compreensão dessa ordem vem do nosso intelecto. Rejeitar a conclusão de que há ordem no universo é rejeitar também o uso do intelecto. Ora, se não existe ordem no universo, já que a matéria por si só não pode ser ordenada, não pode haver ordem também no nosso cérebro e na nossa mente. Logo, não se deve confiar no nosso cérebro e nem na nossa mente. Como diria o Aristóteles, o acaso não há ordem, a ordem é necessária para atingir um fim e essa ordem vem de Deus.

A matéria por si só não pode ser ordenada porque ordem demanda inteligência. Se observarmos um corpo e compreendemos o que é esse corpo, isso prova que ele é ordenado. Compreendemos que uma pedra é uma pedra porque existe uma ordem que ajuda o nosso intelecto a compreender que aquilo é uma pedra. E porque essa ordem deve vir de Deus? Porque a ordem deve vir de um ordenador que transcenda a matéria, já que ela não se ordena e tampouco o ordenador deve ser material já que não existe nenhum ordenador do ordenador. E pelo fato do não material ordenar o material, esse ordenador deve ser infinitamente poderoso. Este é Deus.

Objeções nos comentários.

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