Sobre objetos não-físicos

Guilherme Henrique
4 min readMar 2, 2018

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Esta série de artigos tem por objetivo defender o modelo político teocrático e demonstrar a filosofia católica.

Ao entrarmos no debate sobre os objetos que transcendem este mundo sempre nos deparamos com três correntes filosóficas : realismo, nominalismo e conceptualismo. Veremos o básico dessas três correntes, suas divergências e o motivo pelo qual é um tanto difícil escapar do realismo se você quiser que alguma coisa faça sentido.

Realismo

O realismo é conhecido através de Platão que, em seus escritos, concluía que existia o “mundo das ideias” separado do mundo físico. É a corrente filosófica que admite que existem objetos abstratos a parte do mundo físico. Tais como proposições, números, axiomas, “universais”, dentre tantos como Entes Conscientes (veja o meu artigo “Deus e a teocracia — Deus É”). O realismo platônico foi retomado por Aristóteles em seus escritos e, por conseguinte, por São Tomás de Aquino.

Nominalismo

O nominalismo, no outro extremo da reta, nega que existam quaisquer coisas abstratas. Para os adeptos desse pensamento números, proposições axiomas, etc não existem em um plano metafísico ou são subproduto de coisas materiais. Veremos como é difícil sustentar isso sem que se caia em contradição.

Conceptualismo

Podemos entender o conceptualismo como uma síntese entre as duas correntes já citadas. Admite que os objetos abstratos existam mas, porém, apenas no fundo do entendimento humano. Os objetos metafísicos existem e existem apenas por conta da mente humana.

O debate entre os adeptos de diferentes correntes filosóficas existe desde Sócrates e persiste ainda hoje, tendo seu cume nos centros católicos universitários da Idade Média.

Existem ou não?

Todo aquele de bom senso saberá que os objetos abstratos existem e não dependem da mente. Existem por si só. Comecemos com os números que estão longe de serem mentais ou materiais por 2 principais motivos, sendo eles a natureza necessária e imutável dos números e a infinidade da série númerica. Uma simples conta de soma “2 2=4” é inalterável. O resultado “4” é o mesmo resultado para amanhã, ontem e agora. Ainda que voltássemos ao tempo de Pitágoras “2 2” seriam “4” (ainda que em algarismos gregos). Os números e as operações que realizamos com eles são inalteráveis, de modo que o resultado sempre será o mesmo. Daí a impossibilidade de tais coisas serem subproduto de outras coisas materiais, afinal, como já vimos, tudo quanto é material é mutável e está mudando a todo o momento. Outro problema a ser considerado é a infinidade da sequência numérica: os números não têm fim. Eles se estendem infinitamente para frente e para trás, o que impossibilita o conceptualismo já que se fossem os números produtos de nossa mente também seriam infinitas as informações que teríamos armazenadas. Não podemos “criar” os números por conta de nossa mente que pode pensar apenas em uma quantidade finita de coisas. Portanto os números são descobertos e não criados por nós.

Outro argumento que é totalmente cabível no realismo e incabível nas demais é o argumento das proposições ou/e axiomas. Já discuti sobre axiomas e a imaterialidade da mente no artigo “A alma e sua imortalidade”. Axiomas e proposições verdadeiras (podemos tratá-los como a mesma coisa) são imateriais, uma vez que imutáveis. Quando eu digo “a neve é branca” estou enunciando algo que é verdadeiro em todos os tempos, desde sempre. Pode-se questionar ainda que “E quando a neve não existia? Isso era mentira”. Porém observe que quando digo “neve” não estou me referindo a uma neve específica que existe agora ou que surgiu em um certo momento. Quando me refiro á neve me refiro também ás coisas que compõem ela. É como se eu dissesse que toda coisa branca é branca. Ora, a neve é um tipo peculiar de organização da matéria que a faz ser branca. Portanto, a neve é branca ainda que ela não existisse. O enunciado também seria verdadeiro caso fosse escrito em outra língua, como o inglês. A única conclusão é que axiomas são verdades irrefutáveis e imutáveis, que valem hoje, ontem e amanhã. E também é impossível tais verdades serem fruto de nossa mente, afinal, cada mente possui sua peculiaridade. Se os axiomas fossem relativos a cada mente seria impossível a comunicação e, também, o mundo físico seria um caos. Imagine esta cena : pergunto a você se as coisas materiais mudam. Você diz que não. Eu digo que sim. Para você o mundo todo (não só o mundo, todo o universo material) pararia naquele instante e se tornaria uma coisa só imutável. Para mim, as coisas continuariam a ser como sempre foram. As coisas seriam e não seriam ao mesmo tempo. Isso é possível? Sabemos que não.

O último caminho que invalida o conceptualismo e o nominalismo é o caminho dos universais. Adverto que para entender o que verdadeiramente são os “universais” ou as “formas” que tanto os realistas citam em seus livros, é necessária leitura prévia. O universal é aquilo que é comum a diversos seres e que também dá “forma” aos mesmos. Forma, nesse léxico, não significa formato. Todos vocês que leem este texto são humanos. Há uma variedade de pessoas no mundo só que algo é comum a todas elas, a saber, o universal “humano” que define a racionalidade de um ente. As pessoas podem mudar seu cabelo, seu vestido, morrer, mover-se, elas mudam constantemente, porém, algo nelas não muda, a sua “humanidade” que chamamos de universal. Há diversos universais, como a “triangularidade”, a “vermelhidão”, dentre tantos que são características comuns à diversas coisas que mudam e deixam de existir só que, depois disso, algo ainda pode ser vermelho ou triangular.

Dúvidas e objeções nos comentários.

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