Um dos maiores genocidas da história, se não o maior

Coletivo Narrativas Negras
4 min readSep 22, 2021

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Atenção: esse texto pode conter conteúdo sensível.

“Você sabe quem é? A maioria das pessoas não ouviu falar dele. Mas você deveria. Quando você vê seu rosto ou ouve seu nome, você deveria sentir um enjoo no estômago assim como quando você lê sobre Mussolini ou Hitler, ou vê uma de suas fotos.” Fonte: https://www.geledes.org.br/quando-voce-mata-dez-milhoes-de-africanos-voce-nao-e-chamado-de-hitler/

Leopoldo II foi um rei belga do período de 1865 até 1909 e foi o responsável pela morte e a mutilação de milhões de congoleses durante esse período. Essa história teve início com uma expedição que “descobriu” o Congo e classificou o país como terra ainda não reivindicada. Diante disso, como a Bélgica, nesse momento, adotava uma postura mais neutra em relação à escravidão, não houve interesse em colonizar essas terras, no entanto, houve muito interesse por parte do rei, que organizou uma Conferência Internacional para discutir esse tópico, sob o disfarce de que a intenção dele era doar civilização aos “selvagens” e não por causa dos ótimos recursos congoleses.

Fonte: Genocídio congolês. Disponível em: https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2019/09/charge-partilha-da-africa-600x338.jpg

Com a partilha de África, Leopoldo II “ganhou” o Congo, do qual fez sua ilha particular, não uma colônia do país, mas sim um bem da coroa. Para que esse processo acontecesse, houve acordos que ele deveria cumprir, como oposição à escravidão e incentivo ao livre comércio, o que não foi cumprido, muito pelo contrário. Apesar do rei nunca ter ido, fisicamente, ao país, de maneira terceirizada, por meio de um exército pessoal de mercenários, o povo congolês, nesse período, teve suas terras confiscadas de maneira ilegal, foi escravizado e cruelmente torturado, em números que divergem, já que, com o fim dessa colonização, foram queimadas as documentações, mas variam entre 10 a 15 milhões de mortos, um verdadeiro genocídio. Durante essa colonização, houve aumento dos impostos, monopólio de Leopoldo e, nas terras, eram postuladas metas de produção, com sequestros de mulheres e crianças para que o resto da família atingisse esses números, que, caso não fossem cumpridos, eram motivo de torturas, estupros, mutilações e até mesmo assassinatos e esquartejamentos. Além disso, os comportamentos opostos ao regime vigente eram brutalmente combatidos, principalmente com punições públicas para servirem de exemplo aos outros escravizados e coibirem qualquer atitude contrária à colonização.

Fonte: Congolês diante do pé e da mão amputados de sua filha — Wikimidia Commons. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/genocidio-africa-congo-belga-leopoldo-ii.phtml
Fonte: Último zoológico humano ridicularizava congoleses durante feira na Bélgica em 1958. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/04/17/ultimo-zoologico-humano-ridicularizava-congoleses-durante-feira-em-bruxelas.htm

Com esse regime criminoso e genocida, Leopoldo II construiu, na Bélgica, monumentos faraônicos e sua fortuna aumentou, de maneira absurda, em muito pouco tempo. Inclusive, em 1958, houve o último zoológico (houve outros ao longo das décadas anteriores) humano em uma feira belga com o objetivo de vangloriar pela “conquista” do território. Nessa feira, havia crianças, mulheres e homens congoleses, em uma espécie de jaula com ambientação para se parecer com a paisagem congolesa, que eram expostos com suas roupas tradicionais, junto aos seus “costumes selvagens” ao público. Além disso, durante a mostra, os congoleses deveriam construir cabanas de palha enquanto os visitantes os ridicularizavam e, por vezes, jogavam dinheiro e bananas para eles.

História de dor na África: as barbaridades da Bélgica no Congo. Disponível em: https://www.anf.org.br/historia-de-dor-na-africa-as-barbaridades-da-belgica-no-congo/

Foi só com a presença de missionários e pessoas que queriam intervir na situação, que fotografaram e denunciaram os crimes diários, que o resto do mundo, inclusive países que foram escravocratas, começaram a se mobilizar contra as brutalidades no Congo. Junto a esse movimento, protestos também foram feitos e inclusive foram muito importantes para a abertura de um processo investigativo sobre as atrocidades do rei belga com o povo e o espaço congoleses. Diante da investigação, Leopoldo II perdeu a posse do Congo, entretanto, ainda hoje não houve nenhum pedido de desculpas oficial, por parte da Bélgica, à, hoje, República Democrática do Congo.

Texto por: Carol Bicalho
Seleção de imagens: Carol Bicalho

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