Nem tudo é sobre escrita em UX writing
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Eu me lembro bem de como foi quando decidi me tornar uma UX writer. Naquela altura, eu já tinha algumas responsabilidades relacionadas porque eu trabalhava como copywriter em uma fintech, e até eles contratarem um UX writer dedicado, eu fui a escolhida para atender a algumas demandas do time de design de produto. Eu até consigo ouvi-los dizer “ Ei, sabe aquela garota do time de criação? Ela escreve (ah, vá!), talvez possa nos ajudar!”
E foi assim que tudo começou. Assim que me apaixonei por UX writing, eu logo me dei conta de que eu já era uma writer (não diga?!). Quer dizer… eu sou formada em jornalismo e tenho quase 10 anos de experiência com escrita, desde artigos a peças de publicidade e roteiros para comerciais de tv. Mas é aí que tá: eu era writer, mas não era uma profissional de UX. Então como eu poderia trabalhar como UX writer?
Fácil: estudando UX
Para ser uma UX writer, eu decidi primeiro me tornar uma UX designer. E devo confessar que foi uma das melhores coisas que eu fiz. Porque ser UX designer me fez:
- Entender todos os conceitos de Design Thinking (o que é crucial, inclusive)
- Aprender algumas práticas de Research que me ensinaram a usar um pouco de dados na hora de defender minhas decisões de UX copy
- Descobrir como eu poderia duplar com UX designers e UX researchers no futuro
- Usar alguns métodos para priorizar entregas
- Conhecer todos os processos e metodologias para entender o fluxo de trabalho do time e onde eu me encaixaria, além de conseguir fazer alguns pedidos específicos que colaborariam com as minhas entregas
- Adaptar esses processos e metodologias para criar um processo de UX writing mais concreto e um UX copy mais assertivo
Ok, Natalia. Mas e aí?
Bom, esse é o ponto de virada pra saber se você quer ser um UX writer ou não. Tudo pronto?
Se você quer apenas escrever frases curtas e criativas com palavras bonitas em um produto digital, talvez o UX writing não te traga felicidade.
Como Yuval Keshtcher explica neste artigo:
“Na superfície, UX writers criam o copy que permeia todo o produto digital. Isso inclui os textos nos botões, menus, mensagens de erro e mais. Nós chamamos esses pequenos pedaços de texto de microcopy. De uma forma geral, os UX writers são encarregados de entregar a mensagem do produto de dentro pra fora. Para fazer isso com eficiência, eles precisam adquirir um conhecimento profundo e completo do usuário e sempre conduzir UX research.”
Isso significa que antes de escrever qualquer coisa, você tem uma longa jornada até o topo, o que envolve research, dados (muitos!), melhores práticas de UX, arquitetura da informação, estratégia, testes, e mais um monte de coisas. E sim, saber esses processos e metodologias é extremamente importante para criar uma verdadeira experiência do usuário de ponta a ponta.
Torrey Podmajersky mencionou em uma entrevista que há muitas poucas diferenças entre UX writing e UX design. Ambos usamos dados. Ambos pensamos sobre onde os usuários estão na jornada, de onde eles vêm, para onde estão indo, quais são suas necessidades e em como podemos ajudá-los. A diferença é que nossas entregas finais são em forma de palavras.
Isso nos leva a mais um ponto: não pense nas suas tarefas como algo independente das tarefas dos squads de produto. É verdade que ainda existem muitos times de produto que apenas consideram os UX writers no fim do processo. Mas felizmente há outros times que já entendem que nós, writers, precisamos ser envolvidos desde o início. Então aí vai mais uma razão para você se atualizar com os processos e metodologias dos UX designers e researchers — além disso, esse conhecimento tornaria tudo mais fácil na hora de criar um processo para o time de UX writing, mas esse é um assunto para outro artigo.
E falando nisso, não se limite a apenas evangelizar o quanto a sua presença é importante desde o começo do processo. Neste caso, atos valem mais do que palavras, e isso eu posso te garantir.
Dia desses o designer da minha squad veio pedir a minha ajuda com um microcopy. Ele me deu o contexto, perguntou o que eu achava daquele conteúdo, e se teria uma sugestão melhor. Depois de trocar algumas palavrinhas com o time de UX writing, eu voltei e, em vez de trazer uma nova sugestão, eu simplesmente questionei “Essa informação é realmente necessária?”. E ele respondeu um “Bom ponto. Pensei que você viria com uma opção mais alinhada com a voz do produto, mas adorei que você foi um passo antes! Faz todo o sentido.” Vê a diferença? Nós mostramos conhecimento além do writing falando sobre jornadas do usuário. Não é que não pudéssemos escrever, mas saber princípios do UX como um todo nos permitiu questionar e ajudar com a arquitetura daquela informação — o que de certa forma também faz parte do nosso trabalho.
Espero que até o fim deste artigo, você tenha percebido que uma coisa é certa: UX writers não podem mais ser lobos solitários (mesmo que você seja o único writer do time). Por duas razões: 1. lobos não funcionam bem sozinhos; 2. antes de qualquer coisa, nós também somos profissionais de UX. Isso significa que também fazemos parte da alcatéia.
Então, o resumo da minha dica de ouro é
Estude UX a fundo. Se envolva o máximo possível com os designers e researchers do seu time. Convidá-los para um café é uma ótima oportunidade para se conhecerem, compartilharem experiências, encontrarem a melhor maneira de cruzarem suas atividades ou até mesmo co-trabalharem. Vocês podem se ajudar mais do que imaginam.
UX writing não é só sobre escrever — pelo menos, não completamente. E se “Writing is designing”, então devemos mostrar ao nosso time que nós não simplesmente escrevemos palavras; nós desenhamos estratégias e escrevemos experiências.
Um super obrigada pela contribuição, @Leandro Pinheiro Tavares!
Referências:
What Does A UX Writer Actually Do?
