Migrando da pesquisa acadêmica em arquitetura e urbanismo para o UI/UX design

Natalia Pauletto Fragalle
6 min readJun 30, 2019

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Por que eu decidi interromper o meu percurso acadêmico para explorar uma área aparentemente tão distante (e percebi que ela não está tão distante assim).

Observação: sou uma aprendiz em UX/UI design e estou buscando desenvolver meus conhecimentos e experiências em ambos os campos de UI e UX. Apesar de saber que tratam-se de dois campos que trabalham juntos, mas que possuem seus próprios conceitos, tratarei de ambos aqui de forma conjunta para elencar as razões e as características da minha trajetória que acredito que irão contribuir nessa nova caminhada.

Sou formada em arquitetura e urbanismo e, antes mesmo de terminar a graduação, fui aprovada no mestrado na mesma área.

Sempre tive a certeza de que seguiria a carreira acadêmica, mas, após o término do meu mestrado, percebi que estava faltando algo, que eu não estava plenamente motivada e feliz em seguir com um doutorado.

Finalmente, após muitos meses de reflexão, angústia e MUITA pesquisa, descobri a área do UI/UX design, que parecia finalmente oferecer tudo aquilo o que eu vinha procurando!

Dessa forma, vou organizar esse artigo em duas partes: a primeira apontando quais as características do UI/UX que me chamaram a atenção; e a segunda mostrando como o meu background em arquitetura, urbanismo e pesquisa irá me ajudar a me desenvolver nessa área.

Por quê UI/UX?

1. Possibilidade de atuar na área de tecnologia

Atuando como pesquisadora em teoria e história da arquitetura e do urbanismo, acabei me afastando da área de tecnologia, que é algo que sempre chamou a minha atenção.

Estudar e entender como as pessoas interagem com as novas tecnologias e como a tecnologia afeta a vida das pessoas e o modo como a sociedade se organiza é algo que sempre me interessou muito.

Além disso, a área de tecnologia é um dos setores que mais cresce e se desenvolve constantemente em âmbito mundial: é um setor que aponta para o futuro e para as novas possibilidades, o que me fascina muito!

2. Multidisciplinaridade

Eu não sou o tipo de pessoa que desde pequena se enxergou trabalhando em determinada profissão, pelo contrário, sempre me vi fazendo muitas coisas diferentes, pois tenho interesse nas mais diversas áreas do conhecimento: desde história da arte à astronomia!

Entrei no curso de arquitetura e urbanismo justamente por seu caráter multidisciplinar e a possibilidade de atuação em várias áreas, incluindo o UI/UX design (falarei mais sobre isso na segunda parte do artigo).

Estou descobrindo que como UI/UX designer, poderia atuar em empresas que oferecem produtos e serviços nos mais diversos setores, o que se mostra para mim como um dos pontos mais atrativos dessa área!

3. Design e criação

Uma das minhas coisas favoritas no curso de arquitetura e urbanismo era pensar, organizar e atuar no processo de criação de desenvolvimento de um projeto.

Porém, o que me frustrou muito foi perceber o quanto um projeto de arquitetura e urbanismo é limitado no sentido de permitir a realização de testes com os usuários e uma evolução constante para melhorar a sua qualidade.

Como UI/UX designer, é possível construir protótipos que podem chegar a um nível de fidelidade muito próximo ao do produto final, testá-los com os usuários e realizar mudanças, adaptações e melhorias de forma muito dinâmica, constituindo um processo muito mais rico e com melhores resultados.

4. Possibilidade de melhorar a vida das pessoas

Entrei no mestrado com o objetivo de realizar uma pesquisa que pudesse apontar caminhos no sentido de melhorar a qualidade de vida das pessoas nas cidades.

Entretanto, a realidade na pesquisa acadêmica é que os trabalhos demoram muito tempo para serem desenvolvidos e, devido ao próprio modo de gestão das universidades, que aposta ainda muito pouco em projetos de extensão, os trabalhos realizados acabam atingindo muito pouco àqueles que deveriam se beneficiar com a realização dessas pesquisas.

Trabalhando com UI/UX design, acredito que será possível realizar essa tarefa de modo muito mais gratificante, através de um contato muito maior com os usuários dos produtos desenvolvidos, o desenvolvimento da relação de empatia com essas pessoas, e os recursos necessários para transformar os feedbacks obtidos em melhorias nos produtos criados.

5. Dinâmica de trabalho

Relacionado ao tópico anterior, uma pesquisa de mestrado ou mesmo um projeto de arquitetura e urbanismo demoram muito tempo para serem desenvolvidos e ficarem prontos e, mesmo assim, na maioria das vezes os resultados acabam se distanciando muito da concepção original ou acabam não afetando positivamente as pessoas que deveriam ser afetadas.

Desse modo, um outro fator que chamou muito a minha atenção em UI/UX design foi a possibilidade de resolver problemas e ver resultados que podem ser testados e iterados (ou até descartados)rapidamente.

Além disso, a possibilidade de trabalhar não apenas em frente a um computador durante todo o tempo, mas também interagindo com as pessoas, entrevistando usuários, apresentando projetos, discutindo problemas em equipe e facilitando dinâmicas de design com times de trabalho é algo que me motiva muito a seguir esse caminho.

6. Possibilidade de continuar pesquisando e aprendendo todos os dias

Sempre busquei atuar em uma área que me permitisse aprender mais a cada dia.

Como UI/UX designer, tenho certeza de que poderei atuar em empresas que oferecem os mais variados tipos de produto aos mais variados tipos de usuários, o que quer dizer que eu poderia aprender muito sobre áreas diferentes e culturas diferentes.

Posso dizer que a minha maior paixão é descobrir e explorar coisas novas e por isso, quando descobri o UI/UX design, senti que era exatamente isso que eu precisava fazer!

Como eu posso migrar para essa área?

Confesso que o meu primeiro sentimento foi o de incapacidade. Se eu estudei 10 anos para me tornar mestre em arquitetura e urbanismo, como irei começar a atuar em uma área nova “do zero”? E como poderia “abandonar” tudo o que estudei e aprendi até aqui para começar algo novo?

Entretanto, ao ter os primeiros contatos com o mundo do UI/UX design — e com a ajuda de colegas muito legais da área, como o Paulo Ricardo e o Luiz Arthur Nascimento — comecei a perceber que eu não estaria “abandonando” conhecimentos adquiridos e nem “começando tudo de novo”.

Como arquiteta e urbanista, eu possuo conhecimento e experiência em como desenvolver um projeto levando em conta uma série de fatores como os desejos e necessidades dos clientes; as condições urbanas, culturais, sociais e econômicas a partir das quais o projeto será desenvolvido e construído; a questão estética alinhada à questão funcional; e a questão dos prazos ligada à necessidade de realizar múltiplas tarefas e etapas.

Além disso, o meu curso de graduação e o meu estágio na área me permitiram aprender como lidar com equipes de trabalho formadas por pessoas com diferentes backgrounds e opiniões e, principalmente, como apresentar minhas propostas e justificar e defender minhas tomadas de decisões em face a públicos diversos (professores, chefes, equipe, clientes).

Já como pesquisadora, aprendi a seguir metodologias de pesquisa de forma rigorosa, checar os fatos e a analisar os resultados, apontando caminhos para o desenvolvimento e a iteração dos processos estudados.

Novamente, pude desenvolver minhas habilidades no sentido de conseguir argumentar a favor das minhas tomadas de decisões e como divulgar o meu trabalho científico para pessoas que não necessariamente possuem um amplo conhecimento sobre a minha área de pesquisa.

Realizando uma pesquisa multidisciplinar, tive que aprender conceitos de áreas totalmente diferentes da minha área de formação, como marketing, branding, planejamento estratégico, gestão empresarial, ciência política, mercado de arte e organização de grandes eventos.

Como bolsista, aprendi a desenvolver uma pesquisa com uma quantidade limitada de recursos e como monitora docente, aprendi a transmitir conhecimentos complexos de forma clara e didática para pessoas que acabavam de ingressar na graduação.

Finalmente, desenvolvi também meus conhecimentos em design gráfico, uma vez que eu fui a responsável pela diagramação tanto do meu trabalho de conclusão de curso quanto da minha dissertação de mestrado, ambos utilizados como referências na minha instituição para trabalhos futuros.

Gostaria de encerrar esse artigo com a compreensão de que os processos que estudei e dos quais participei ao longo desses últimos 10 anos não podem deixar de ser vistos como processos de design, e a minha postura diante para encará-los também foi uma postura de designer, voltada à resolução de problemas de forma eficiente, levando em conta às condições, recursos e pessoas envolvidas.

Dessa forma, posso concluir que a minha formação em arquitetura, urbanismo e pesquisa me forneceu habilidades e ferramentas preciosas para atuar como UI/UX designer e nada do que eu aprendi até agora será “perdido”: tudo isso me torna mais capacitada para começar a explorar essa área que tem me fascinado mais a cada dia!

Espero que esse texto possa ajudar a motivar outras pessoas que desejam migrar para a área de UI/UX, mas ainda têm receio de darem o próximo passo.

Irei utilizar esse blog para compartilhar outras experiências da minha caminhada em direção a me tornar uma UI/UX designer. Estou sempre aberta a receber opiniões e feedbacks para que eu possa me tornar uma profissional melhor.

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Natalia Pauletto Fragalle

Product Designer @Yieldify | Guest Lecturer @ ITI UFSCar | Co-founder @ Catalyt and UX Sanca | Design Sprint Master www.linkedin.com/in/nataliapaulettofragalle