Comunicadores, influencers e a linha tênue entre etiqueta e ética nas redes sociais
Ninguém precisa trabalhar como community manager e produtor de conteúdo pra saber usar as redes. Eu realmente creio que, com o uso, todo mundo acaba sacando algumas regras de boas práticas da internet. Nem precisa consultar a Glorinha Khalil. As coisas meio que se autorregulam. Pode até ter demorado, mas todo mundo chegou num consenso de que não era pra add sem scrap no Orkut. Quanto mais você usa o ambiente da internet, mais você vira internet savvy ou o famoso "bom entendedor", porque já aprendeu a duras penas qual botão de DOWNLOAD se deve clicar para baixar um arquivo num site meio esquisito sem acabar baixando um .exe com 5 vírus e o Badoo.
(Pausa pra pensar que a nova geração só deve ouvir falar em "cavalo de Troia" na aula de História mesmo.)
Mas voltando às redes… É aquilo, as pessoas têm diferentes níveis de “manjação” e temos que seguir convivendo em harmonia. É como a gente vê acontecendo com os nossos pais quando eles resolvem entrar no Facebook e cometem pequenas atrocidades diárias como mandar mensagem privada no seu post sobre música. Além dos ingênuos, sempre existiram os chatos ou sem noção, como quem pega o contato de uma pessoa que mal conhece e manda áudio no WhatApp sem se apresentar. Provavelmente eles sabem que estão sendo inconvenientes, provavelmente eles nem ligam, provavelmente eles acham que está tudo bem fazer isso. É só uma "bobagem". Daqui damos um passo além: e copiar o texto de uma pessoa e repostar como se fosse seu, é ser ingênuo, inconveniente ou antiético? Será que alguém ainda não sabe que isso não é legal?
Aqui começamos a cruzar a linha tênue entre fazer um mau uso das redes e praticar um uso desonesto. Essa ideia coletiva de que a internet é um ambiente livre, sem lei, com informações disponíveis pra quem quiser, acompanhada da sensação de que a vida online é apenas uma projeção da "vida real" em que tudo é possível, resulta em muitos novos e bizarros paradigmas.
Estamos colocando nossas ideias, textos, piadas, fotos no ar pra todo mundo. Copiar um texto e republicar atribuindo um outro autor, ou assumindo a autoria, é tão malvisto como difícil de conter. A “velha guarda” das redes até criou um nome pra isso, kibar, em homenagem ao site Kibeloco, acusado de publicar fotos e piadas de outras pessoas sem o devido crédito. Com o Twitter e páginas de humor no Facebook, isso é moleza. Perfis repostam textos adoidados e conseguem muitos likes e RTs, e no final das contas nem se sabe quem postou aquilo pela primeira vez.
Acontece que hoje, se pensarmos no mercado de comunicação, um mero tweet com muitos RTs é um baita asset. Atualmente quem trabalha como publicitário, social media ou jornalista pode se beneficiar bastante, profissionalmente falando, de uma boa reputação online. E num momento em que o maior sonho de tantas pessoas é ser um digital influencer, cada post que bomba compõe o, digamos, capital profissional dos concorrentes. Quantos mais hits a conta tem, seja ele uma pessoa física ou um personagem (Gina Indelicada, Chapolin Sincero, etc etc), mais ela recebe contatos profissionais, pode ganhar produtos, receber remuneração para divulgar #publis e por aí vai.
E esse capital pode estar sendo construído à base de muita mensagem copiada por aí. Acha que é mais fácil copiar e colar um texto? Espere até descobrir que muitas fotos de paisagens, viagens, comidas em restaurantes maravilhosos e até corpo malhado estão sendo repostadas em contas do Instagram por aí. E nem digo no caso de ter um certo trabalho de produção ao copiar essas fotos (tá aqui um exemplo em que uma bela verba deve ter sido gasta na cópia), digo baixar fotos e republicar em outra conta. Só isso mesmo, postar a mesma foto. Se não aparece o rosto, como a audiência da pessoa vai saber, certo?
Tudo isso com ajuda de aplicativos para download de imagens no Instagram e até de Stories de outras pessoas. E com pequenos plágios e kibes você pode construir uma bela e falsa timeline pra bancar o seu possível capital profissional como influencer.
Pode parecer muito louco clamar por crédito na internet, mas com algum trabalho, quase sempre é possível rastrear a primeira pessoa que fez a postagem. Em contas que vivem de repostar material, sempre encontramos comentários de pessoas reclamando de apropriação de conteúdo ou falta de créditos. Infelizmente, nem todo mundo se dá ao trabalho de verificar. Muitas contas não reconhecem o crédito mesmo após a reclamação. E outras contas “mascaram” a conta transformando o texto/piada em tirinha ou meme. Como são contas maiores, fazem cada vez mais sucesso em cima de conteúdo que se apropriam sem autorização. Tudo dentro do mundo sem lei, é bobagem, tá tudo bem fazer isso. Certo?
Recentemente o Twitter começou a derrubar contas que tinham essa prática antiética de copiar conteúdo alheio e reverberar a informação. Foram enquadrados perfis nos Estados Unidos, e ainda não se sabe se a prática vai chegar a outros países. Se rolar, produtores de conteúdo vão agradecer. Fora a galera que nem é produtora de conteúdo, mas que quer o merecido crédito pelas suas ideias, piadas e fotos.