Para o terror dos ativistas brancos, Chris Rock me representa

@negaome
Negão Internauta

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Chris rocks

Quando Chris Rock apareceu no palco do Oscar, a expectativa sobre ele era grande. Vamos à um rápido de contexto:

EUA passa por mais um período de tensão racial elevado. Negros mortos pela polícia em situações questionáveis levaram a criação do movimento #BlackLivesMatter. Beyoncé apresentou sua música Formation em pleno Super Bowl e chocou o país ao se revelar, acredite, negra.

A essa altura todos já sabiam que nenhum negro foi indicado ao Oscar. Nenhuma novidade, de 1617 indicações ao Oscar apenas 66 foram para negros. Sessenta e seis negros indicados e apenas 16 levaram a estatueta para casa. O Oscar sempre foi um clube de homens brancos héteros.

Em reação a falta de diversidade entre os indicados, a hashtag #OscarSoWhite passou a expor o quanto a academia ignorava os talentos negros e se tornou motivo para boicote. Spike Lee e Will Smith não foram à cerimônia em protesto.

E o Chris Rock? Bom, Chris Rock está no hall dos maiores humoristas vivos. Aliás, aqui estão os quatro deste hall conversando sobre comédia. Nessa conversa ele deixa claro que precisa trabalhar para pagar as contas. Por essas e outras que ele me representa. Ele não representa por mim, como o Will Smith ou o Morgan Freeman fazem, levantando bandeiras ou mandando baixa-las. Ele me representa. Ele é o que eu sou, só que mais bem sucedido. E quando Chris Rock subiu ao palco era isso que eu esperava ver, a opinião de um “negro de verdade” sobre tudo isso. Não me decepcionou.

Chris começou deixando claro que aquilo ali era apenas mais um local onde brancos decidiam o que acontece. Chris expôs a hipocrisia do seu próprio círculo social ao dizer que os próprios progressistas, os que mais falam em diversidade, não contratam negros. Pediu as mesmas oportunidades dadas aos brancos para todas as raças. Diversidade.

Perfeito para mim. Se os negros tiverem oportunidade de mostrarem seu talento, ora, foda-se o Oscar. Sério, quem precisa dele? Ele precisa dos talentos, quando foi que isso se inverteu?

A apresentação toda seguiu esse caminho, mostrando como a indústria é falha em diversidade.

Hoje me deparo com uma série de artigos e posts de pessoas criticando Chris Rock por sua apresentação, por não levar o #OscarSoWhite às últimas consequências, por fazer piada com a exploração de trabalho infantil e ao mesmo tempo com asiáticos. Por, basicamente, não representar toda questão racial.

De onde vinham esses artigos? De sites e pessoas que defenderam a diversidade desde o início, desde a indicação, que atacaram a Acadêmia por sua postura, por ser tão racista e etc…

Quem são essas pessoas?

Quem?

Brancos.

Basicamente, brancos.

Sites brasileiros de cinema que pedem a diversidade no Oscar e na indústria, mas não possuem sequer UM negro no cast. Ou pelo menos um não-branco. Não que eu me importe ou me surpreenda com essa ausência.

Sabe aquela pesquisa que disse que o Oscar é só para homens brancos héteros? Pois bem, o que não é só para homens brancos héteros na sociedade? Onde estão as negras gays no comando? NEM AS ORGANIZAÇÕES QUE COBRAM DIVERSIDADE TEM NEGROS EM SUAS EQUIPES! A hipocrisia dos progressistas da qual Chris falou não se restringe aos Estados Unidos.

Assim como fizeram com Chris Rock, vão dizer que estou errado. Brancos que “gostam de diversidade” vão me mandar links com a opinião de outros brancos sobre como eu devo estar enganado. Brancos que “não gostam da diversidade” nem vão ler e dirão que estou de mimimi, porque é isso que fazem quando veem um negro opinando.

Em 2016, negros farão papeis incríveis nos filmes em que tiverem oportunidade de mostrarem seus talentos.

Porém, quando os indicados do Oscar forem anunciados, o talento dessas pessoas ficará em segundo plano. A cor de sua pele tomará o papel principal e as peles da cor de sempre decidirão o que será feito.

A pergunta que chicoteará o ar machucará só um lado: a oportunidade leva ao Oscar ou o Oscar leva à oportunidade?

De mim, fica só meus parabéns ao Chris Rock, por voar para chegar onde outros chegam apenas andando.

“See, the black man gotta fly to get to somethin’ the white man can walk to.” — Chris Rock em Kill The Messenger.

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@negaome
Negão Internauta

Você deve me conhecer daquela obra aclamada pela crítica.