Gazzetta DIZ QUE cortou em custeio R$ 107 milhões, mas está errado!
AVISO: esta é uma daquelas matérias que você precisa ter paciência, e ler, para que a gente possa entender como está nossa cidade na crise.
O prefeito Clodoaldo Armando Gazzetta tem o direito de errar, mas em sendo caso de repetição precisa se submeter a correções tantas vezes quanto forem necessárias! Pela cidade! No último domingo, já irritado com mais um ataque de ex-companheiro de governo, o prefeito parece ter reagido com o fígado também em relação a posicionamento do ex-prefeito Rodrigo Agostinho sobre a necessidade, URGENTE, e sem mais demora, de CORTES DUROS NAS DESPESAS deste ano.
A entrevista (veja link ao final da página) se espalhou como folha seca, sobretudo entre o funcionalismo. Questão à parte, Gazzetta, ainda no domingo, divulgou texto pela assessoria de imprensa oficial onde (no meio de vários parágrafos) afirma ter efetuado cortes de R$ 107 milhões.
PREFEITO, SUA CONTA ESTÁ ERRADA! E em muito!
Vamos exercer, com respeito, o direito ao CONTRAPONTO.
Infelizmente sua gestão não fez até aqui nem a metade dos cortes da cfira que o senhor anunciou.
Encaminhei mensagem ao prefeito pedindo para que detalhasse onde estavam os cortes somando R$ 107 milhões no orçamento (medida efetivamente necessária dada a real possibilidade de perda de receita nessa dimensão neste 2020).
Mas veio a segunda-feira e o prefeito não explicou. Contatamos a assessoria de imprensa do governo e reforçamos a necessidade (de caráter público) de identificação do corte de R$ 107 milhões dito pelo senhor prefeito.
Porém, o alcaide concedeu entrevistas e, em uma delas, não só repetiu (sem explicar) os tais cortes de R$ 107 milhões como disse que “fez a lição de casa” desde o início do governo e reduziu despesas.
Não vamos (agora) sair do foco. Mas é muito simples demonstrar que a gestão Gazzetta não só não cortou despesas estruturais como as aumentou (e acima da inflação). E, ainda assim, porque foram contidos “rompantes” de sua caneta (criação de secretaria do Governo, quatro subprefeituras, criação de 7 coordenadorias, assumir a gestão do Hospital de Base, novo financiamento … e assim por diante…
Prefeito, o senhor não fez a lição de casa!
VAMOS OLHAR OS DADOS?
Pra demonstrar onde o prefeito erra em sua continha, vamos confrontar os R$ 107 milhões ditos por Gazzetta com informação OFICIAL da própria Prefeitura.
Veremos que, até aqui, na verdade o prefeito cortou próximo da metade!
Mas, ainda assim, será preciso ser generoso com o método para se chegar mesmo a 50% da cifra anunciada pelo senhor prefeito:
- R$ 18 milhões de cortes com Educação.
A conta seria a seguinte. O Orçamento do ano previsto foi de R$ 977 milhões. E a Secretaria de Finanças projetou o pior cenário de perdas em 20%. Assim, por este índice a receita real seria, ao final deste 2020, de R$ 875 milhões.
A dedução equivalente aplicada para o gasto mínimo com Educação (25% das receitas) encaixa os R$ 18 milhões a menos de despesa no setor.
- R$ 16 milhões de não pagamento do acordo da Cohab em 2020.
Este é um dos itens em que é preciso boa vontade para ajudar o prefeito em seu método. Na verdade, o prefeito não vai ‘cortar’ esta despesa. Ele está empurrando a conta do início do pagamento do parcelamento da dívida da Cohab para o sucessor. E ela virá muito maior, com milhões em juros (e correção) por cada mês de atraso no acordo. Só no governo Gazzetta, o rombo na Cohab já aumentou em mais de R$ 90 milhões. (mas nem vamos focar nisso agora).
- R$ 23 milhões de cortes na folha e em secretarias.
Aqui o dado também merece reparo. A gestão Gazzetta ainda não realizou este valor em cortes com folha e secretarias. A própria Secretaria de Finanças já informou, em videoconferência inclusive, que o adiamento da reposição salarial dos servidores (e do reajuste em benefícios — vale) gera redução de uns R$ 16 milhões de despesa neste ano.
Há, portanto, outros R$ 7 milhões a serem cortados para se atingir a cifra pretendida. Os secretários de governo ainda não entregaram o plano de cortes (conforme divulgado aqui na semana passada). Na última sexta-feira, em reunião com secretários, estes foram informados que terão de “passar a faca” em despesas adiáveis.
Caem patrocínios de shows, compras de equipamentos, manutenção em várias frentes e a realização de ações que não vão sair do papel, até em função da pandemia.
RESULTADO REAL DE CORTES
Se todos forem generosos com o método Gazzetta de contabilizar cortes em despesas, teremos R$ 57 milhões de redução de despesa total até aqui. Muito, muito longe dos R$ 107 milhões anunciados, senhor prefeito!
Mas se aplicarmos o método PAPO RETO, criado pelo próprio Gazzetta ainda na eleição de 2016, teremos, com esforço, R$ 50 milhões de contingenciamentos (adiamentos de despesa do Orçamento).
O LABIRINTO DOS ERROS DA CONTA
- Não tem cabimento a citação que faremos, mas “pode ser” (exercício de silogismo) que o prefeito tenha considerado os R$ 37 milhões de socorro financeiro que o governo federal deve destinar (em quatro parcelas, se o presidente Bolsonaro não vetar a lei).
Mas raciocinem conosco: você aprovaria se seu contador lançasse ajuda financeira externa como “corte”? Não dá pra inventar, certo?!
Então, por gentileza, considere esta hipótese como exagero nosso!
- Será que o prefeito considerou não pagar os cerca de R$ 16 milhões do precatório da sentença da área atrás do Gasparini (que o Judiciário mandou quitar neste ano para a empresa LCN)? Ele vai tentar parcelar o valor.
Bom, mas, neste caso, vamos ser concretos, então a continha teria de fazer de conta que pagar R$ 8 milhões é “corte”. (valor pretendido a se pagar desse precatório, conforme a área de Finanças da Prefeitura).
Mas não dá pra forçar a “barra”. Adiar pagamento para outro exercício (o que exige lei específica aprovada na Câmara e acordo com o credor, ou medida judicial com liminar, por exemplo) não é cortar gasto, certo? É empurrar para o próximo o abacaxi.
Mas olha, diante do cenário e da gastança que o prefeito acumulou no mandato até aqui acima da inflação, é uma cartada que será tentada.
Ah!
Lembre-se que tem R$ 7 milhões “perdidos” lá nos R$ 23 milhões de contingenciamento de folha (e despesas de secretarias). Não resolvidos.
Pra concluir: mesmo que você esqueça essa história de dado real, contabilidade, matemática, e até do marketing do PAPO RETO, e coloque absolutamente tudo como “corte”, a soma dá R$ 102 milhões! Faltam 5! Infelizmente!
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