O papel das comunidades na “regressão” do intelecto no mundo

Jenny Payne
4 min readAug 14, 2019

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Já parou para pensar em quantas pessoas estão caindo em notícias falsas e distribuindo informações absurdas e discursos de ódio? Tem uma buzzword que define este fenômeno: comunidade.

Comunidade é qualquer grupo que se forme baseado em interesses e objetivos comuns. Pode se formar intencionalmente ou organicamente.

O primeiro passo de uma comunidade é a busca pela identidade. O mundo moderno onde as relações são cada vez mais superficiais e que foi construída uma visão de que somos todos diferentes resultou em pessoas mais solitárias e com aquele sentimento de “quem sou eu neste mundo?”. Apesar de querer ser reconhecidos como únicos e especiais, os seres humanos são extremamente sociais, precisamos de pessoas e isto é inerente a nós, até para sobreviver.

É aí que entra a comunidade, para criar um senso de pertencimento, uma validação de quem somos e o que nos importa. Para mostrar nosso posicionamento para o mundo.

O que acontece é que com a queda da qualidade na educação e frustrações que estão sendo cultivadas nas pessoas, pelo senso de inconformidade e vontade de mudar uma vida que está cada vez mais vazia, surgiram comunidades baseadas na falta de conhecimento. As pessoas estão cada vez mais p̶r̶e̶g̶u̶i̶ç̶o̶s̶a̶s̶ sem tempo para buscar informações e isto tem um preço muito alto.

Cresce o número de comunidades que não acreditam em fatos comprovados há tempos.

Por exemplo, muitas pessoas hoje estão pregando que a tela é plana.

A sociedade da terra plana tem membros pelo globo todo. Ri demais com isso (me julguem).

Tem um documentário no Netflix sobre o assunto que assisti para entender o pensamento que une esta comunidade. É interessante porque no depoimento dos membros, eles falam como se encontraram e como se sentiram parte do movimento (solidão) e é um dos motivadores para que sigam neste grupo. Eles desenvolvem teorias científicas e realizam testes para comprovar sua tese. Quando os experimentos deles falham, eles inventam razões sem comprovação nenhuma para que aquele resultado desse errado.

As pessoas não se importam com a veracidade do que acreditam, elas se importam em pertencer. Dentro daquele grupo eles se confiam e se cuidam. Confiança é o segundo passo de uma comunidade.

Com um grupo de pessoas que você se identifica e que você confia, você começa a participar.

É o famoso engajamento que muita gente luta tanto para obter. Com a participação sendo incentivada por aqueles em que confiam, as pessoas começam a divulgar este pensamento e é aí que mora o perigo. É aí que se destila ódio e informações erradas, é aí que fake news se difundem. São pessoas empoderadas pelo seu grupo que lideram esses movimentos.

O emponderamento é uma recompensa.

É o último passo de uma pessoa em uma comunidade. Quanto mais ela se identifica e confia, mais ela engaja. Quanto maior o engajamento, mais reconhecimento de seus colegas, estas pessoas se tornam líderes e é este o momento que faz “valer a pena” seus esforços. Agora eles não se sentem mais sozinhos, agora se sentem valorizadas, especiais.

Uma comunidade tem o poder de mudar o mundo.

E assim um presidente foi eleito e assim, não importa o que ele diga ou faça, a comunidade de seus seguidores continuarão o apoiando. Eles não querem admitir que estão errados, porque isso é negar a sua própria identidade e voltar a se sentir só, um pária numa sociedade que exclui mais do que acolhe.

Ninguém me quer como amigo

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Jenny Payne

Community Developer, atuo no desenvolvimento de cultura organizacional e marca empregadora através de conexões com pessoas, aplicando conceitos de UX e Design.