A parte difícil de fazer coisas difíceis
Como co-criar no Brasil um evento internacional com foco em mulheres criativas me fez superar o medo do “não”.
Hey, if you speak English, please click here to read. :)
No último mês decidi que queria ajudar a trazer um evento internacional cujo objetivo é capacitar as mulheres criativas. Mais especificamente, mulheres criativas. O evento é o Ladies, Wine & a bit of Design, criado pela Jessica Walsh, fundadora (e designer fantástica) da .
O Ladies foi criado para ajudar a trazer mais suporte às mulheres na indústria criativa através de círculos de orientação, análises de portfólio, palestras e encontros criativos. Em menos de dois anos de lançamento, o evento já acontece em mais de 180 cidades em todo o mundo.
Por que fazer isso no Brasil?
No Brasil esse cenário de desigualdade não é diferente. Aqui, temos uma enorme disparidade entre homens e mulheres como diretor de criação, por exemplo. De fato, nós representamos não mais que 20% nessas posições. Expandindo para outros setores como o cinema, a música ou mesmo como fundadoras ou ocupando posições de liderança em agências de publicidade, a representatividade na indústria criativa é cada vez menor.
Onde eu moro atualmente, uma linda ilha no sul do Brasil chamada Florianópolis, temos uma boa parcela de mulheres criativas. Talvez por viver perto do oceano ou (mais provavelmente) pelos ótimos cursos na área de design, esta é uma cidade com criatividade acima da média. Mas, como em outros lugares do mundo, o movimento de colaboração entre as mulheres acontece muito timidamente.
Além de não ter muitos eventos para discutir a posição das mulheres na indústria criativa (e para tornar a coisa um pouco mais difícil), sou relativamente nova na cidade. Então, mesmo com as altas probabilidades da coisa toda dar errado, eu vi na LW&D uma maneira de conectar as mulheres, de fazer contatos e, principalmente, levantar minha bunda da cadeira.
A parte mais difícil de começar algo: o medo de “NÃO”.
Organizar um evento não é fácil. Ainda mais se for um evento projetado para capacitar a menor parte de um setor. Na maioria das vezes, é difícil encontrar parceiros que estejam dispostos a apoiar eventos ou que entendam a importância de movimentos como esse — que promovam e, consequentemente, tragam mais diversidade ao seu negócio.
Excluindo o fato de que estamos em um cenário economicamente e politicamente instável, em geral, as parcerias não são muito fáceis de fazer. Mas, alguns dias, temos sorte. Depois de uma xícara de chá, eu encontrei minha parceira de crime para fazer LW&D e a me colocar em uma posição desconfortável: fazer parcerias que realmente nos ajude a criar um bom evento.
Então, deixe-me ajudá-la a entender quais eram as nossas chances de fazer isso dar certo:
- Um cenário instável: o que faz com que as empresas se tornem mais resistentes para apoiar eventos sem fins lucrativos que elas não conhecem;
- Um total de 0 contatos na cidade: excluindo a Belisa, minha nova amiga para fazer LW&D acontecer;
- Um grande medo de ouvir “NÃO” da minha lista não mapeada de possíveis parceiros;
- Nenhum dinheiro.
Tan-dan! Aqui vamos nós!
Durante a última semana fiz quase todos os itens da “lista de como fazer boas parcerias”. Mas a resposta nem sempre vem e nessas horas a gente lembra que pior que o “NÃO” é o silêncio. É lá, no limbo sem resposta onde vive a minha “zona desconfortável”. E a minha parte do trabalho é atravessar esse pântano escuro chamado silêncio e, você sabe, conseguir apoiadores para o nosso evento.
Deixa eu te dar um conselho: quando você quer que algo realmente aconteça, você precisa estar disposta a fazer coisas diferentes. E, na maioria das vezes, “coisas diferentes” são as coisas mais difíceis de se fazer. É como correr ao meio-dia, no verão, sem protetor solar, com a missão de manter um grande sorriso e acenar para o vizinho enquanto corre!
É fácil? Puff. Claro (não). Mas, de alguma forma, depois de descobrir o deserto que seu bairro pode ser, é gratificante quando você chega em sua casa, bebe água e toma banho. Você se sente como “bem, eu posso fazer isso acontecer”.
Entender onde meus medos vivem — e superá-los — é a primeira lição que aprendi com essa nova aventura de sediar a edição de Florianópolis do LW&D. Nós AINDA não finalizamos nenhum acordo de parceria, mas eu descobri que apoiar outras mulheres me fortalece mais do que eu imagina. Isso porque agora eu não tenho mais apenas a missão de conquistar coisas difíceis, eu tenho a missão de ajudar outras mulheres a acreditarem que podem fazer isso também e eu não poderia ter mais sorte do dizer poder dizer que sim, NÓS PODEMOS. E, assim que o primeiro evento do Ladies ficar prontinho, eu venho contar pra vocês como foi essa experiência. ;)
