(In)visibilidade bi e algumas coisas que vocês estão precisando aprender sobre nós

Nick Nagari
3 min readOct 15, 2017

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Esses dias vi uma mullher lésbica falando que invisibilidade bi não existe porque, segundo ela, a sociedade aceita muito mais pessoas bissexuais do que lésbicas. Eu já vi muitas pessoas com pensamento semelhante, e isso só prova como vocês não sabem o que é estar na nossa pele; e como vocês submetem a existência da nossa opressão a algumas condições (já falei mais disso aqui).

Em primeiro lugar, pra sociedade em geral, a gente nem existe. Bissexuais não são citados nas novelas, nas séries, nas histórias em quadrinhos. Na verdade, nos raros momentos que as pessoas reconhecem a nossa existência, elas só associam bissexualidade a promiscuidade, “pegação”, menage; “Fulana diz que é bissexual, isso é coisa de piranha, só fala isso porque quer pegar todo mundo”. Veja bem: não há nada de errado em ser promíscuo, pegar todo mundo ou fazer menages — longe de mim ser moralista e julgar pessoas que fazem isso. O problema é associarem pessoas bis a só isso, quando a nossa classe é muito plural e envolve pessoas que nem vontade de transar tem (um alô pros assexuais birromânticos).

#acessibilidade: uma foto da bandeira bi e um cara apontando pra ela.

A bissexualidade não é vista como uma orientação sexual possível. Ao ver uma mulher, as pessoas pensam “namora mulher? Então é lésbica. Namora homem? Hétero.” Apenas isso. A opção “ser bissexual” não é nem imaginada. A invisibilidade bi está justamente aí: pra pessoas fora da militância LGBT — e as vezes até para militantes mesmo — a gente não existe, somos apenas uma fase de transição até chegar “no nível” lésbicas e gays.

Existe, sim, muitos homens gays e mulheres lésbicas que se dizem bissexuais quando tão se descobrindo e isso, na verdade, só resulta em mais apagamento e invalidação da bissexualidade. Até porque isso acontece por causa da heterossexualidade compulsória, de as pessoas estarem realmente em fase de descobrimento, se entendo, se conhecendo; não tem nada a ver com essa ideia (errada) de que ser bi é mais fácil ou mais aceito pela sociedade.

Essa visão da menina que eu citei no início do texto também acontece por vocês acharem que a gente é meio hétero/meio lésbica, logo, a “parte hétero” teria o privilégio da visibilidade. E a comunidade bi já tá cansada de falar que essa premissa é ERRADÍSSIMO, né? Bissexuais são 0% héteros, 0% lésbicas e 0% gays, somos 100% bissexuais mesmo. E, por isso, o tempo inteiro estamos sujeitos a sofrer LGBTfobia, assim como as outras letras da sigla. Não importa qual o gênero da pessoa que nos relacionamos naquele momento, porque isso é sobre nós, e não sobre eles.

Nós não somos héteros, não temos privilégio hétero, e se a gente finge que é hétero em algum momento é por proteção, assim como lésbicas e gays fazem. Porque, PASMEM: assim como eles, assumir um relacionamento com alguém do mesmo gênero também nos faz correr riscos. E muitos.

A realidade é que a sociedade não aceita NINGUÉM que seja LGBT. E isso eu sei que vocês sabem bem — ainda mais lésbicas, gays e pessoas trans, que sofrem com a (cis)heternomatividade também. O que vocês tem que entender é que nós somos tão LGBTs quanto vocês. Então a gente vai tomar esse posto e nos reafirmar como tal, sim. Quer queiram, quer não.

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Nick Nagari

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