Bloomberg e Patrick, os novos pré-candidatos à presidência dos EUA
Quem são Michael Bloomberg e Deval Patrick, que entraram na corrida pela indicação democrata na eleição presidencial
Dez já desistiram. No entanto, ainda restam 18 pré-candidatos à indicação democrata nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Dois deles são inclusões recentes ao leque de opções do partido. O bilionário ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, e o ex-governador de Massachusetts, Deval Patrick, se juntaram à corrida nos últimos dias — temos menos de três meses até a definição pelo candidato dos democratas, que ocorre em janeiro.
O nome do bilionário de 77 anos é reconhecível não só por ter ocupado a prefeitura de Nova York, mas também por ser o dono da Bloomberg News — que, aliás, ele havia prometido vender, caso concorresse a presidente — , uma agência de notícias e dados para o mercado financeiro. Por dois terços de seu governo como prefeito de Nova York, que compreende o período entre 2002 e 2013, Bloomberg era representante do partido republicano. Para seu terceiro mandato, ele se registrou como independente.
É dessa época um dos maiores problemas de Bloomberg: durante seus mandatos, ele reforçou a ação policial conhecida como “stop and frisk”, que permitia que os policiais detivessem pessoas para serem revistadas e interrogadas. Conforme estudos, os maiores alvos dessa prática foram pessoas negras e de origem latina ou hispânica. Assim, um dos problemas do ex-prefeito é o mesmo de todos os pré-candidatos democratas (com a incrível exceção de Joe Biden): garantir o voto dos eleitores negros. Como já falamos na semana passada, nenhum candidato democrata dos últimos pleitos conseguiu sucesso sem o apoio dessa fatia do eleitorado.
Mas os problemas de Bloomberg não param por aí. O movimento #MeToo desencadeou uma série de revelações sobre homens em posição de poder nos Estados Unidos — e de certa forma, alcançou o bilionário. Nos anos 90, várias funcionárias processaram sua companhia, ou por discriminação ou por assédio. O The Atlantic tem um artigo que detalha denúncias de casos dentro da companhia e depoimentos sobre o comportamento do próprio bilionário — as alegações não são de abuso sexual, porém de um tratamento misógino e degradante reservado às funcionárias.
A força da candidatura de Bloomberg é, sem dúvida, a sua conta bancária. Como já noticiado por aqui, os seus gastos com anúncios televisivos no período de uma semana equivalem a mais do que muitos candidatos já gastaram com publicidade na TV até agora. Ao contrário de seus concorrentes, Bloomberg não dependerá de doações para financiar sua campanha. Tanto que a também pré-candidata pelos democratas, Elizabeth Warren, o acusou de tentar comprar as eleições. Uma das propostas da senadora de Massachusetts atingiria Bloomberg pessoalmente: é justamente a taxação de fortunas.
E é com os votos do eleitores negros que Deval Patrick, 63 anos, espera contar. Ele foi governador do estado do Massachusetts por oito anos — a Forbes recentemente publicou um artigo em que analisa suas políticas monetárias durante esse período e o que esse histórico poderia dizer sobre uma eventual presidência de Patrick. O texto cita que o pré-candidato vetou uma legislação que aumentaria a transparência dos gastos com dinheiro público no estado.
O maior desafio de Patrick será se destacar entre tantos outros candidatos que disputam a indicação. Sua campanha terá que ganhar destaque em poucas semanas, sendo que ele tem poucas chances de participar dos debates — tanto pelo critério de suas colocações nas pesquisas quanto pelo critério da quantidade de doações mínimas exigidas. O tipo de campanha que deu certo para ele nas eleições que venceu pelo cargo de governador, como aponta o Washington Post, é a que abraça a estratégia de ir a cada evento conhecer seus eleitores. Aqui, como também aponta o jornal, o tempo é inimigo de Patrick.
Outra questão sobre a qual o político continua tendo que se explicar é sua atitude em relação ao caso de seu ex-cunhado, Bernard Singh — que foi acusado de estuprar a irmã do ex-governador, Rhonda. Patrick o ajudou a ficar de fora da “sex offender list” do estado — ou seja, ele não foi formalmente registrado como um agressor sexual perante o estado de Massachusetts. Em junho, Singh foi condenado a seis anos de cadeia, pelos crimes de sequestro e estupro.
Porém, o ex-governador tem na oratória seu ponto mais forte. Além disso, sua entrada na corrida pela indicação democrata faz com que Joe Biden não seja o único candidato a poder se gabar de suas ligações com Barack Obama. A relação entre o ex-presidente e Patrick é lembrada nesta coluna do Boston Herald. Este artigo da AP News resgata as conexões entre os dois políticos.
Destaques eleitorais
- As candidaturas de Bloomberg e Patrick apontam para uma indefinição no campo dos democratas. Como nenhum candidato parece ser o favorito absoluto, abriu-se espaço para outros nomes na corrida.
- O coordenador da campanha de Deval Patrick será Abe Rakov, que antes fazia parte da equipe da campanha presidencial de Beto O’Rourke (que desistiu de sua candidatura no início do mês).
- Pete Buttigieg, o Mayor Pete, continua ganhando espaço na corrida pela indicação democrata. Em uma pesquisa divulgada nesta semana, ele aparece em 2º lugar nas intenções de voto, passando Elizabeth Warren e Bernie Sanders — ficando atrás apenas do ex-vice-presidente Joe Biden.
Em outros cantos do globo
- Nesta semana, Hong Kong passou por eleições distritais, com vitória do movimento pró-democracia. Isso significa uma mudança na configuração dos conselhos distritais, cujos políticos eram em sua maioria pró-Pequim. Os protestos pró-democracia, aliás, que ocorrem há meses, ganharam o apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
- O apoio de Trump aos manifestantes de Hong Kong não foi bem visto pela China, que já ameaça: virão “medidas firmes” em resposta. Vale lembrar que Estados Unidos e China estão em disputa comercial desde março de 2018. Os novos acontecimentos não devem contribuir para a resolução desse conflito.
- Ainda sobre as ações do presidente estadunidense nesta semana: Trump projeta listar cartéis mexicanos como terroristas, dificultando ainda mais sua relação com o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador.
- No fim, Luís Lacalle Pou levou a melhor na eleição uruguaia. Sua vitória significa o fim de uma séries de governos de esquerda que estão no controle do Uruguai há 15 anos — cujo maior símbolo é José Mujica, que nesse mesmo pleito foi eleito como senador. O El País fez uma matéria recente sobre quem é Lacalle Pou e uma matéria da BBC fala sobre como o Uruguai, com essa eleição, se aproxima da agenda econômica do governo Bolsonaro, mas não, ao que parece, da agenda ideológica.
- Mais protestos! Desta vez, no Iraque. Os protestos antigoverno ocorrem há dois meses, pedindo o fim do sistema político instaurado pelos Estados Unidos desde a invasão do país em 2003, uma nova Constituição e uma renovação geral da classe política — o “fim dos corruptos” é uma das exigências. Mais de 400 já morreram durante os protestos. Adel Abdul Mahdi, o primeiro-ministro do país, anunciou sua renúncia — mas os protestos continuam.
- Também teve greve geral na Colômbia. Enquanto isso, o Chile entra em sua sétima semana de protestos — mesmo depois de cortar os salários de seus políticos pela metade. E a pobreza extrema cresceu pelo quinto ano consecutivo na América Latina, conforme este artigo do El País.
- Não é política, mas é notícia: um homem armado com uma faca atacou várias pessoas na Ponte de Londres, nesta sexta-feira (29). Duas pessoas morreram por causa do ataque e o suspeito foi baleado pela polícia. O The Guardian publicou um guia visual sobre o caso. A execução do ataque está sendo investigada pela Scotland Yard.
Podcast da Vez
Uma das formas que mais utilizo para consumo de informação é o podcast. De vez em quando, vou deixar por aqui uma dica de episódio ou programa interessante. Desta vez, é o episódio “The Battle of Mosul” do Why is This Happening?. A Batalha de Mosul foi um conflito entre os soldados iraquianos e a ISIS que durou quase um ano. O host Chris Hayes e o jornalista James Verini discutem o legado da invasão dos Estados Unidos no país, 16 anos atrás, e como esse evento molda os acontecimentos atuais no Iraque.