Suicídio, depressão e como a vida continua

Nicoli Saft
2 min readSep 30, 2016

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Eu já pensei em suicídio. Já quis andar deliberadamente de encontro a um caminhão. Já quis tomar todos os remédios da casa com a cachaça que tem na geladeira. Já quis ter uma faca verdadeiramente afiada para que eu conseguisse chegar mais fundo nos meus cortes quase diários. Falo tudo isso no passado, mas esses pensamentos ainda assombram a minha mente volta e meia. Eu não quero morrer, sei disso, mas a ideia é tentadora. Muito tentadora. Ela vem sempre que sinto que não estou vivendo. Quando só sigo caminhos já traçados, quando me falta aquele brilho no olhar. Assisto o tempo e as pessoas passando por mim, entretanto não sinto nada. Mas os dias vão melhorando. Um dia, chega a noite e eu percebo que o dia não foi de todo ruim, que eu realmente curti aquele vídeo que vi, ou aquela comida que minha irmã fez. Ou ainda apenas curti quando meu gato foi deitar do meu lado, e eu não estava mais sozinha. Esses dias acabam se tornando mais frequentes, e de repente eu passei uma semana assim. E eu penso “mas é possível?”. Mas então vem a recaída, e eu acho que estou destinada a sofrer para sempre, que não tem jeito de melhorar. Os pensamentos suicidas com mais força ainda, e eu tenho que fazer a difícil escolha de esperar mais uma vez e ver se chegará novamente dias bons, ou acabar com tudo. Cada vez que eu vou atravessar a rua, penso em andar um pouco mais rápido para dar tempo para aquele caminhão me bater com tudo. Mas vacilo. E eu decido postergar essa escolha, pois é difícil demais. Deixa para amanhã. E toda noite penso a mesma coisa e deixo para o dia seguinte a decisão. E de repente um dia bom chega, e a opção de viver parece mais apetitosa. Nada é pra sempre, você sabe, eu sei. Tem dias que a opção do suicídio é inquietante e tentadora, mas no final eu sempre deixo pra escolher amanhã. E assim vou indo…

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Nicoli Saft

Toma café preto sem açúcar, assiste tempestades pela janela aberta e poucos são os que ainda acham que ela é humana.