Começando pelo começo… (parte pré-viagem: motivação)

Nikolas Kohlrausch dos Santos
6 min readApr 13, 2020

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Assim que voltei para o Brasil depois de quase 12 meses por esse mundão, muitas pessoas me pediram para compartilhar como eu fiz para tornar esse sonho realidade. Desde questões mais subjetivas, como e o que me motivou a fazer isso, até coisas mais práticas, como quanto tempo de antecedência eu me planejei e como me organizei.

Quando paro para refletir sobre a experiência que tive e o porquê de compartilhá-la, o principal ponto que vem para mim é poder inspirar, da forma que seja, quem esteja do outro lado da tela, e dessa forma, quem sabe, ajudar para que outras pessoas tenham experiências parecidas.

Essa viagem foi de longe a experiência mais desafiadora da minha vida e, por consequência, a que mais me impactou. Me fez questionar valores, crenças e certezas que carregava comigo. Me fez conectar mais comigo mesmo e com a natureza. Ampliou a minha forma de olhar a vida e o mundo, ao mesmo tempo que me fez questionar muito a forma como eu vivia minha vida e nutria minhas relações. E sinto que sigo viajando. Sigo aprendendo e sigo questionando. E espero seguir um eterno viajante.

Começando pelo começo…

Começando pelo porquê:

Tudo começou quando eu fiz um intercâmbio para Newcastle Upon Tyne (norte da Inglaterra) por 3 meses quando eu tinha 17 anos para praticar inglês, logo antes de entrar na universidade. Esses três meses foram incríveis. Conheci pessoas do mundo inteiro, tive que me virar e aprender coisas que, acredito eu, jamais aprenderia estando no Brasil. Ou talvez demoraria bem mais para aprender…

Uma coisa ficou clara para mim: sair da zona de conforto, fazendo coisas diferentes, confrontando novas culturas e conhecendo pessoas diferentes faz com que tu evoluas numa velocidade inexplicável. E viajar é uma maneira de fazer tudo isso a todo tempo sem escapatória. Realmente é uma experiência que não tem preço…

Porém, tudo depende da forma que tu viajas.

Tu tens a oportunidade de viajar e seguir na tua zona de conforto, ou tu podes viajar e estar constantemente fora dela. Tudo é uma questão de escolha.

Eu sabia que eu queria algo diferente. Independente para onde fosse eu sabia que não queria passar 1 mês mochilando com roteiro definido, marcando num checklist e tirando fotos de pontos turísticos. Muito menos queria fazer um semestre-sanduíche ou algo do gênero. Não julgo quem faz ou quem tem o sonho de fazer isso. Apenas não era o que eu queria.

Dessa forma, tinha para mim o estilo de viagem que eu vislumbrava (isso há 5 anos atrás): Que pudesse ter uma data e local de chegada e uma data e local de partida, mas que no meio disso não tivesse planejamento algum. Queria estar aberto para as possibilidades e aventuras que o universo ia colocando no meu caminho. Também queria aprender a viver gastando o mínimo possível. Sendo quase que obrigado a conhecer pessoas no caminho, dormindo em suas casas, conhecendo cidades que não são tão conhecidas e realmente incorporando a cultura de cada lugar. Em outras palavras, abrir mão do controle e sair da zona de conforto.

Só que durante os 5 anos e meio de faculdade, me vi agarrando cada oportunidade que podia e dando 110% de mim. Vivi intensamente tudo que podia e trabalhei muito. Não me arrependo de forma alguma porque tudo isso contribuiu para viabilizar a minha aventura. Mas quanto mais eu agarrava oportunidades por aqui, mais eu criava raízes e mais distante eu ficava de concretizar meu sonho de sair por aí.

E essa vontade não ia diminuindo. Muito pelo contrário. Sentia cada vez mais que precisava sair da minha bolha. Queria ver o mundo com lentes diferentes. Criar empatia a partir de um lugar de vivência e não apenas de projeção. E quanto mais vontade eu tinha, mais meu estilo de viagem ia tomando forma. Comecei a pensar em fazer uma viagem mais longa, de pelo menos 6 meses. Depois entendendo que queria sair da minha zona de conforto, entendi que conhecer culturas diferentes (realmente diferentes) seria o mais desafiador e impactante. Foi aí que coloquei na cabeça que queria ir para a África e para Ásia. Lugares ricos em cultura, arte, música e história. Lugares com religiões, crenças e línguas diferentes.

Aí tive a primeira definição de como seria a minha viagem dos sonhos:

  • sair do Brasil sem passagem de volta (porque tendo uma passagem de volta me coloca a obrigação de estar em determinado lugar numa determinada data), podem ficar de 6 meses a até 2–3 anos fora.
  • não ter planejamento. Ter uma ideia macro para onde gostaria de ir, mas sem planejar com antecedência. Ficar mais tempo nos lugares que eu gostasse e me sentisse bem e menos em lugares que eu não me conectasse. Em outras palavras, me sentir livre.
  • Viajar principalmente pela África e Ásia, e quem sabe finalizar pelo Leste Europeu.
  • Fazer coisas diferentes, experimentando novos trabalhos, novas artes, novos sabores, novas paisagens etc.
  • Viajar de maneira low-cost. Ao máximo via terrestre, ficando em hostels baratos ou nas casas de pessoas que ia conhecendo no caminho, trocando trabalho por hospedagem e alimentação, e por aí vai.

À medida que a vontade de viajar ficava cada vez mais forte, veio um estalo: é agora ou nunca.

Era o momento para fazer isso ou só vai ficar cada vez mais difícil.

23 anos, com faculdade terminando, solteiro e ainda morando na casa da minha mãe. Não tinha família para sustentar, nem grandes problemas para pensar. A única coisa que me mantinha aqui era meu trabalho e as oportunidades que poderiam vir.

E foi nesse momento que os medos e inseguranças vieram com tudo…

“E se alguma coisa de ruim acontecer lá?”

“Como vai ser quando eu voltar para conseguir emprego? O que eu vou fazer?”

“Não vou ficar para trás de todo mundo aqui?”

“Será que estou tomando a decisão certa? E se eu me arrepender?”

E mil e um pensamentos negativos tomam conta nesse momento. E é incrível como nós seres humanos temos mais medo de perder ou tomar a decisão errada do que arcar com o risco de estar tomando a decisão certa. É muito mais confortável se apegar no que podemos controlar do que abraçar o desconhecido. Fora a parte de comprar a “briga” e quebrar com possíveis expectativas das pessoas que amamos (vulgo pais).

Decidi, então, ligar o foda-se e escutar a voz da minha intuição (falei mais sobre o poder da intuição nesse texto). Eu precisava fazer isso. Preferia me arrepender depois do que viver com a dúvida do que seria da minha vida se tivesse assumido o risco e vivido meu sonho.

Nesse momento tive um grande aprendizado: a ação de tomar uma decisão importante vem acompanhada de um grande alívio. E com ela, quando se tem uma intenção clara, abre-se um espaço energético que parece que o universo te escuta e conspira para que se torne realidade.

Finquei o pé e não mudaria esse decisão por nada: eu vou fazer isso, e vou fazer quando finalizar o ciclo da faculdade (tinha 7 meses para organizar e ajeitar tudo). Não queria ter nada que me prendesse no Brasil. Queria estar livre para viver o que eu tinha que viver. Voltaria quando tivesse ou quisesse voltar.

E foi a melhor decisão que eu fiz.

As coisas começaram a fluir. Passei a dizer não para oportunidades que iam surgindo, estabeleci limites para as dúvidas que vinham de mim ou de outras pessoas e passei a confiar mais e mais na minha decisão. Era isso, e só isso. Ia acontecer. Eu ia fazer acontecer. Não tinha outra opção.

E se cabe a mim dar algumas dicas para quem pensa em arriscar e fazer algo parecido, seriam essas três:

  1. se tens medo, vai com medo mesmo. Medo é muitas vezes uma maneira de nos protegermos daquilo que não conhecemos para nos mantermos na zona de conforto. E certamente crescemos quando cruzamos essa linha.
  2. coloque uma data de ida. Não importa se vai ser daqui 1 mês ou daqui 1 ano. Tenha uma intenção clara, mentalize o teu sonho e confia no processo.
  3. No momento que tu tomas essa decisão, tu tens foco. As coisas passam a fluir e no fim, com dedicação e disciplina, tu se vê dentro de um avião em começando tua aventura…

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Nikolas Kohlrausch dos Santos

Traveller sharing experiences and personal beliefs through writing