Cheiros do Brasil

O Grupo IED
9 min readMar 16, 2023

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Projeto que teve o desafio de juntar tecnologia, design e o campo estético olfativo em um projeto de design experimental essencialmente brasileiro.

Pesquisa Olfativa

O que significa o cheiro nas nossas vidas? Como a humanidade lida com esse sentido? Quais técnicas, ferramentas e artefatos se relacionam entre as fragrâncias do mundo e espécie humana?

Começamos esse projeto com inquietações, muita pesquisa para entender as bases que compõem o cheiro em termos sociais, políticos, históricos e tecnológicos. Fizemos, inclusive, um exercício de tradução olfativa do nosso dia a dia, intitulados como “cheiro da rotina”.

Imergimos em tecnologias que estão sendo desenvolvidas por empresas que trabalham com esse universo, uma delas foi a palestra com Noar e todo seu desenvolvimento técnico já feito sobre fragrâncias, meios de propagar o cheiro seco, formas de encapsular cheiros que podem funcionar para diversas finalidades.

Assinatura do Cheiro

Dentro da investigação, nos chamou atenção as assinaturas dos cheiros característicos dos lugares, povos e culturas diferentes. Para adentrar nesse universo continuamos nossa jornada procurando entender o que compõe uma assinatura olfativa, para isso fomos conhecer mais a fundo o trabalho da Natura, aqui no Brasil. Tivemos o privilégio de começar essa nossa jornada na Casa de Perfumaria Brasil, materializada em uma instalação no centro de inovação da Natura que aborda uma experiência com o objetivo de traduzir os cheiros que caracterizam o nosso país.

O tour passa por 4 salas, divididas para em diferentes experiências, assim como momentos de descompressão, essencial para aproveitar mais essa jornada. A Priprioca foi protagonista, uma planta desconhecida do ponto de vista aromático, mas fundamental para o momento. Em sequência chegamos à estufa, com diferentes plantas conhecidas e desconhecidas do imaginário comum, extraídas por comunidades ribeirinhas do nosso território brasileiro, todas são essenciais para abastecer as essências exclusivas da Natura.

Para concluir essa experiência, tivemos uma imersão no coração das assinaturas, conhecemos os caminhos olfativos e os perfumes que compõem o trabalho da marca.

Sala olfativa, Centro Inovação Natura, Cajamar SP
Sala olfativa na Casa de Perfumaria do Brasil, Natura. Veja o vídeo completo aqui.

O projeto olfativo

Nossa escolha veio por um estímulo muito emocional e divertido dentro do processo de design exploratório, encontramos a necessidade de trabalhar com a história do Brasil, mas com um diferencial, utilizar obras artes brasileiras para serem as bases das essências aromáticas dessa assinatura.

Projeto que teve o desafio de juntar tecnologia, design e o campo estético olfativo em um projeto de design experimental essencialmente brasileiro.

7 momentos em 7 obras

Criamos uma dinâmica para escolha de cada obra, ao todo 28 obras foram contempladas pelos integrantes, após uma análise de cada obra e o contexto em que fazem parte apenas 7 foram selecionadas para compor o projeto.

Critérios de escolha:

• A diferença entre os momentos históricos, é muito importante em um linha histórica um cronologia estética, não só para promover uma diversidade do campo de atuação.

• Obras que melhor traduzem o Brasil, diversidade de metodologias artísticas, mas para melhor traduzir a diversidade do Brasil.

Curadoria selecionada

  • A Hora do Pão (1888), de Abigail de Andrade.
    A pintora foi premiada quando as mulheres eram proibidas na Escola de Belas Artes no Brasil. Naquela época, as mulheres não podiam estudar na Academia Imperial de Belas Artes. Só homens eram admitidos na instituição mais prestigiosa para o ensino da arte no país, fundada por Dom João 6. É diminuto o número de trabalhos atualmente conhecidos da pintora Abigail. Deve ter produzido muito pouco, sendo que seus trabalhos estão datados entre os anos de 1881 a 1889. Certamente não pintou mais do que cinquenta quadros, numa avaliação otimista e, como se sabe da existência de um número muito menor do que esta estimativa, pode-se considerar que outras obras estão perdidas ou incógnitas na casa de seus proprietários ou de pequenos colecionadores.
  • Lavrador de Café Candido Portinari 1934
    O lavrador de café, de Candido Portinari, é uma das telas mais representativas do artista, isso porque é considerada um retrato do trabalhador brasileiro, sobretudo o do meio rural.
    O tema do cafezal é recorrente na trajetória artística de Portinari, pois ele tinha a preocupação em exibir a realidade brasileira, dando enfoque ao povo e suas mazelas. Além disso, o artista cresceu em uma fazenda de café, onde seus pais, imigrantes italianos, trabalhavam.
  • Mocinha com gato à janela, Di Cavalcanti 1946.
    Di Cavalcanti foi um dos maiores ícones do movimento modernista da década de 1920. Além de pintor, ele foi desenhista, ilustrador, cartunista, caricaturista, muralista, cenógrafo, escritor, jornalista, poeta e doutor honoris causa pela Universidade Federal da Bahia.
  • Três Orixás (1966), de Djanira
    A pintura é imensa, bela, em cores alegres, limpa e de formas harmoniosas. São três orixás femininas: em vermelho, Iansã, a guerreira dos relâmpagos e das ventanias, que oferece otimismo e grandes paixões; de amarelo, Oxum, minha mãe, entidade das águas doces, cheia de doçura, representa a beleza, a fartura, a maternidade; e em azul, Nanã, a mais antiga das deusas do candomblé, ela é a sabedoria. Três mães. Três mulheres protetoras. São, no sincretismo, representações de santa Bárbara, Nossa Senhora Aparecida e sant’Ana. Ao lado, duas mães de santo reverenciam suas entidades amadas. Djanira pintou esse painel nos anos 1960.
  • Macambira (Sertão), de Aldemir Martins 1986
    Aldemir Martins foi um artista plástico brasileiro que transitou entre pinturas, ilustrações, desenhos, esculturas, cerâmica e gravuras de modo magistral. Dono de uma estética única e inconfundível, ele ficou conhecido por explorar as paisagens nordestinas e por retratar o homem de sua região com elevada qualidade técnica.
  • Britto Garden, de Romero Britto 2000
    Britto Garden nada mais é do que uma criação feita no ano 2.000 pelo artista plástico Romero Britto. A pintura reúne detalhes de outras já feitas por ele, numa espécie de “reunião dos clássicos do pintor”.
    Britto abusa das formas geométricas para preencher a tela e não utiliza técnicas de profundidade para suas composições. Assim, seus motivos estão sempre em primeiro plano.
  • Coexistência, de Eduardo Kobra 2020
    No mural, Kobra retrata crianças de cinco religiões — Islamismo, Budismo, Cristianismo, Judaísmo e Hinduísmo. A obra traz uma mensagem de fé e de esperança, ao mesmo tempo em que lembra as vítimas do Covid-19 e destaca a importância da Ciência, simbolizada pelo fundamental uso de máscaras. Além do artista, estiveram presentes líderes das cinco religiões retratadas, além de convidados de diversas outras religiões. Em suas orações voltadas às vítimas do Covid-10, os líderes religiosos destacaram que não há contradição entre ter fé em Deus e acreditar na Ciência.

Primeiros Testes

A curadoria da essências foi a etapa mais crucial para o projeto, escolher uma boa essencial não só garante a qualidade do perfume mas a conexão com as obras selecionadas. A essência tem o papel de garantir uma assinatura para cada obra, e realçar a sua interpretação.

Primeiros materiais, fotos ainda da loja de materias primas para velas

A experimentação também está presente no laboratório de testes, a proporção de cada essência garante o equilíbrio na sua interpretação.

Testes das essências na parafina

A primeira hipótese que tínhamos era de trabalhar com a criação de velas aromáticas dedicadas a cada momento histórico, parafina e essência tem que ser precisa, com a temperatura correta chegamos bem satisfeitos com os primeiros acertos.

Com pedaços pequenos de parafina derretemos com uma maior facilidade, em uma panela grande com água até a metade e colocamos os pedaços de parafina na panela pequena já esmaltada. Como a parafina é inflamável, o processo de derretimento deve foi feito em banho-maria. Sendo assim, colocamos a panela menor com parafina dentro da panela maior com água e leve ao fogo.

Usamos um termômetro para acompanhar a temperatura da parafina. Ela foi derretida até chegar mais ou menos uns 60º, mas variou até 80º. Toda a mistura foi mexida com a colher de pau para ajudar no derretimento. Em um recipiente colocamos o pavio no centro do recipiente onde foi a vela. Usamos fita adesiva para ajudar a prender bem o pavio no fundo do recipiente.

Para deixar o pavio bem firme utilizamos fita, o palito e as hastes de madeira foram sobre o recipiente base. Enrolamos o pavio no palito para melhorar a sua resistência e para ficar vertical, no centro do molde da vela. Despejamos a parafina derretida já temperada no molde na quantidade exata para o teste. O descanso da parafina termina após 24h de descanso, só assim temos um molde 100% resfriado e pronto para ser desenformado e testado.

Os primeiros testes foram essenciais para avaliarmos a quantidade de essência necessária para cada vela, assim como a temperatura correta de cada uma. Mesmo felizes com o primeiro teste encontramos alguns bloqueios durante o trabalho, o desempenho das velas não foi capaz de entregar a experiência aromática que procurávamos, além de se trabalhar com grandes velas iria desencadear um problema de manejo do produto, podendo causar quedas, ou ter um tamanho exagerado para o seu valor.

Após alguns outros testes encontramos o balanço entre a melhor experiência aromática, produto compacto e um auto serviço tátil com o produto. Utilizamos um difusor aromático especial para o projeto, no qual coloca o usuário imerso nas essências, quase que um convite para a experimentação. Um difusor de aromas é uma das formas mais eficazes de manter um espaço perfumado a longo prazo. O modelo clássico é um recipiente de vidro com álcool e óleo essencial ou alguma fragrância e varetas de madeira para difundir o aroma, mas optamos por um trabalho de cerâmica, com a essência escolhida na parte superior e uma vela neutra em sua base.

Segunda tentativa de organização dos componentes

Ficamos bem contentes com o primeiro teste, e nos apaixonamos com o resultado.

O Resultado final

A escolha do que era essencial para o projeto nós já tínhamos em mente, o trabalho com difusor, essências criadas exclusivamente para o projeto com uma assinatura única.

Confirmamos o cruzamento de essências feitos anteriormente para as velas, com o cheiro que produzia usando o difusor para entender se exalava da mesma forma. Fizemos uma analise e imersão sensorial para traduzir os tempos de cada obra a partir de essências. Cruzamentos aromáticos, interpretações e sentimento de cada obra e época foi fundamental.

Paralelo a esse momento também tivemos que desenvolver uma embalagem que fosse funcional, tanto do ponto de vista estético que represente de forma atemporal nosso país, como também funcional para uso da experiência e todos os elementos necessários para tal.

Por fim tivemos a conclusão do projeto “Cheiros do Brasil” como experiência sensorial de tradução da história do Brasil por meio dos cheiros.

Protótipo completo contendo: essências, velas, fósforo, difusor, cartas e estrutura em mdf.

Para conferir a apresentação completa do projeto clique aqui.

Projeto Bruno Eid, Ramon Berrio, Gabriel Lopes e Ana Miranda. Desenvolvimento por Fabio Prista.

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