Grupo B: Campeão Olímpico, o Canadá quer conquistar o mundo

Jogo Direto
4 min readJul 8, 2023

Campeãs Olímpicas, as Canadenses se classificaram para a Copa do Mundo ao avançarem para o mata-mata do ultimo torneio continental da Concacaf. Sob o comando de Bev Priestman desde 2020, o Canadá vem desenvolvendo um trabalho muito sólido, que resultou na medalha de ouro olímpica em Tóquio e agora elas querem mais: o mundo inteiro.

Desde que assumiu, Preistman faz um trabalho muito importante de mapear fragilidades coletivas, identificar quais das suas jogadoras podem corrigi-las e testar sem medo de resultados ou julgamentos. Dessa maneira, criou uma equipe com muita casca e que cresceu nos momentos certos, conquistando o Ouro Olímpico e o vice-campeonato da Concacaf. O time do Canadá parte de um 4231, que no momento sem bola, pode ser lido como 442 — quando Sinclair espera mais a frente junto com a atacante — ou até um 451, quando as meias que jogam pelos lados, recuam para dar um suporte maior as laterais.

É uma equipe que gosta de controlar a posse de bola, com uma criação ofensiva que procura muita aproximação, tabelas e ultrapassagens. Não costuma pular etapas, precipitando passes e desperdiçando boas chances. Vemos uma equipe paciente, que não tem um volume de jogo tão grande, mas aproveita muito bem as chances que cria. Dentro do seu 4231 como ponto de partida, temos uma equipe que realiza muitas triangulações, iniciando o ataque, progredindo, parando quando o espaço não se apresenta e reiniciando tudo se necessário.

Um dos pontos fortes dessa seleção, é o modo como conseguem encontrar suas jogadoras ofensivas em condição de atacar a profundidade das defesas adversárias, obrigando as zagueiras a correrem para trás com muito campo para cobrir. Outra virtude, é modo como conseguem atrair atenção para o centro do campo, ativar uma jogadora na ponta — seja uma meia ou a lateral — para depois buscar um passe para o centro da área, onde muitas jogadoras vão atacar o espaço, tendo opções variadas para o chute.

Time Base: Kailen Sheridan; Jayde Riviere, Kadeisha Buchanan, Vanessa Gilles e Ashley Lawrence; Jessie Fleming e Julia Grosso; Adriana Leon, Christine Sinclair e Cloé Lacasse; Jordyn Huitema.

Se a paciência e calma para trabalhar seu jogo ofensivo são uma das grandes virtudes da equipe, por vezes acabam sendo também o seu maior defeito. Na busca pelo momento perfeito, podem perder volume, arriscar pouco e complicar partidas onde estão apresentando um bom nível de jogo.

Quando perde a bola, o trabalho de transição defensiva do Canadá é muito bem treinado e muito bem executado. O primeiro ponto é um trabalho de pressão pós-perda muito agressivo e muito intenso, na busca de transformar os lances em uma roubada de bola, que resulte num contra-ataque ou uma construção rápida, que leve muito perigo as adversárias. Contudo, se a leitura é feita e o trabalho para recuperar a bola não surte efeito, a equipe consegue rapidamente voltar para o desenho defensivo definido pela treinadora, com um bloco mais recuado e uma zaga muito bem posicionada.

Com esse trabalho muito bem fixado na cabeça das jogadoras, Preistman consegue ter com constância um cenário onde suas atletas saltam para pressionar as atacantes adversárias, fechando linhas de passe e as obrigando a reiniciar a jogada em seu campo defensivo, oferecendo tempo para o Canadá decidir se continua subindo para pressionar alto ou se posiciona em seu campo com segurança.

Uma vez que assumem seu posicionamento na defesa, vemos um Canadá que varia entre o 442 e o 451, sempre jogando de maneira muito sólida, com uma marcação agressiva na maneira certa, mas cometendo poucas faltas e conseguindo muito sucesso nos duelos defensivos. É uma equipe muito forte nos duelos pelo altos, seja com bola rolando ou bola parada.

Em certos jogos, ou em momentos de alguns jogos, marcam individualmente em todo campo, buscando tirar qualquer espaço das atletas mais talentosas da equipe adversária, mas permitindo permitindo que em caso de sucesso, essas atletas consigam aproveitar buracos na organização defensiva da equipe, criando chances de gol.

Jessie Fleming e Julia Grosso: a força do meio-campo

Muito jovens, mas com enorme experiência por clubes e seleção, Jessie Fleming, jogadora do Chelsea e Julia Grosso, da Juventus, são uma parte muito importante da identidade de jogo do Canadá. Possuem físico, versatilidade e talento, para sustentar todo o jogo e deixar suas companheiras sempre bem municiadas e protegidas.

A última dança de Christine Sinclair

Quando entrar em campo na Oceania, Christine Sinclair vai chegar a impressionante marca de seis copas do mundo disputadas. A lenda do futebol canadense e mundial, não vive mais os seus melhores dias, tanto em termos físicos, quanto técnicos. Contudo, quem jogou tanta bola e viveu tanta coisa, não esquece. Sua liderança e inteligência serão muito importantes para a equipe atuar no melhor nível que pode

Se dentro de campo, tudo caminha com consistência, dentro de um trabalho realizado com muito critério, fora do campo existem atritos entre as jogadoras e a Associação Canadense de Futebol. A seleção feminina do Canadá teve seu orçamento drasticamente reduzido as vésperas da Copa do Mundo, competição que entram como uma das grandes forças. Existiu corte também com a seleção masculina, mas apenas após a participação na Copa do Mundo realizada no Catar. Em fevereiro, durante a SheBelieves Cup, as jogadoras ameaçaram não entrar em campo e no fim realizaram protestos pedindo pagamento e tratamento igualitários.

Com jogadoras muito talentosas e um trabalho bem feito — no que se refere ao campo de jogo — o Canadá chega na Copa do Mundo como uma das forças a serem observadas. As Campeãs Olímpicas querem conquistar o mundo.

Prognóstico: Favoritas para se classificarem na primeira colocação do Grupo B, as “Canucks” tem totais condições de chegarem muito longe na competição.

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