Quantos salários existem no seu casamento?

Oscar Krupp
6 min readJan 15, 2024

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Primeiro texto de um série sobre finanças para casais!

Posso dizer que de todos os temas financeiros que gosto, o que tenho mais experiência e resultados é do gerenciamento de finanças de casais. No caso das finanças aqui da minha casa!

Você pode pensar que isso não vale como experiência, pois são as minhas finanças. Mas, na verdade, são as minhas + as da minha esposa.

Não quero entrar em detalhes práticos no texto de hoje, esses eu deixarei para um próximo, mas sim os princípios básicos para isso funcionar.

Conheço muitos casais que, mesmo casados há anos, ainda separam o dinheiro entre eles. O que ao meu ver, não faz muito sentido, pois se você decidiu casar-se com alguém e viver sua vida com essa pessoa, como algo como as finanças, que faz parte fundamental da vida de todos, eles não compartilham?

Para mim sempre foi lógico: após casado, tudo que é meu é da minha esposa também. E até parece que isso é um princípio comum a todos, mas quando se fala em dinheiro tudo indica que essa regra não vale. Mas por quê?

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 57% dos divórcios acontecem por discussões em relação a dinheiro. Não sei para você, mas isso me parece bem preocupante.

Acredito que praticamente todas (falei praticamente, pois sempre tem umas pessoas malucas por aí) as pessoas se casam pensando em ter uma vida feliz em união. Pensam em sonhos juntos, objetivos, desejos, mas na hora da prática, que no caso é organizar seus salários para buscar isso, não acontece.

Sabemos que para ter qualquer coisa hoje é preciso de dinheiro. Então pense comigo: se você divide todas as coisas com alguém, deseja realizar sonhos com essa pessoa, e para conseguir isso vocês precisam de dinheiro, por que diabos vocês não juntam o dinheiro de vocês?

E aqui não estou falando apenas de separar um valor x do seu salário todo mês para a viagem do fim do ano, em uma conta conjunta, mas sim abrir totalmente as suas finanças com aquela pessoa que você decidiu dividir a vida. Como dinheiro faz parte da vida, você deveria estar dividindo isso com ela também.

Bom, posso escrever vários parágrafos aqui sobre como é lógico um casal dividir suas finanças, mas mesmo sendo lógico vemos no dia a dia que isso não acontece. Então a pergunta que fica é porque não acontece?

Na minha perspectiva podemos dividir a resposta em três motivos:

Falta de confiança;
Cultura familiar diferente;
Prazer próprio;

Falta de confiança:

Difícil falar sobre isso, até por que é feio dizer que o marido não confia na esposa, ou que a esposa não confia no marido. Mas pense comigo: Qual o motivo para eu esconder algo de alguém? Ou não quero que ela saiba, ou então acho que ela não irá gostar, vai achar errado talvez.

Um cônjuge não deveria fazer algo que seu companheiro não pode saber, até por que vocês decidiram ter uma vida juntos, se está fazendo isso, então vocês não vivem uma vida juntos. Agora se você acha que seu companheiro não irá gostar da forma que está gerenciando/gastando seu dinheiro, vocês deveriam conversar sobre, e gastar suas finanças com algo que beneficie os dois de alguma forma.

Mas para conseguir isso, você precisa confiar naquela pessoa que dorme do seu lado. Caso não confie…. Não sei porque está vivendo com ela.

Cultura Familiar Diferente:

Cultura é costumes de vida que todos temos. Normalmente quando falamos em cultura, pensamos em nações ou povos. Mas existe uma cultura específica dentro de cada família. E quando você casa e vai morar sozinho com essa pessoa vocês são dois indivíduos com culturas familiares diferentes, indo morar juntos. É lógico que terão conflitos, desde como se limpa a casa, até como se gerencia/gasta as finanças do lar.

Pode ser que um está acostumado a chamar um iFood toda vez que sente fome, e o outro acredita que precisa juntar o máximo de dinheiro para a sua aposentadoria. E por causa dessa diferença de culturas, normalmente o resultado são brigas incessantes, ou cada um começa a esconder seus gastos um do outro, separando cada vez mais as finanças do casamento.

Mas é possível haver uma terceira via nisso tudo. Não é fácil, mas é possível! A comunicação é a resposta. Ambos precisam entender qual é a cultura familiar do outro, compreender como que o outro aprendeu em casa como se deve gerenciar seu salário. E então, após terem entendido como que cada um vê essa questão, entrarem em um acordo de como irão gerenciar as finanças dali para frente. Terão que ser feitos sacrifícios de ambos os lados, talvez um lado faça mais sacrifícios que o outro, mas é preciso que esse acordo aconteça. A partir dai os dois precisam se dedicar para contribuírem com o acordado. Eu garanto não será fácil, é difícil mudar, ainda mais a cultura que você recebeu desde criança, mas o resultado que isso traz é fantástico.

No meu casamento, tive muitos problemas em relação a esse ponto de culturas familiares diferentes. Porém, nós tivemos o benefício de ter um pastor que nos cuidou como um pai, e nos avisou antes de casarmos sobre. E mesmo assim os problemas por causa disso vieram, eles aconteceram em muitas áreas, mas vou focar na parte financeira.

Na família da minha esposa, os pais dela sempre saiam para comer fora e passear no final de semana. Eles não tinham problema em gastar com isso. Já na minha família, nós nunca saiamos para nada, eu mesmo lembro de ter ido para praia apenas duas vezes com meu pai. Comer fora da minha casa era só para ocasiões especiais. Então você pode imaginar como foi depois que casamos, a Vic (minha esposa) queria sair todo final de semana para dar um passeio, e a noite quando não estava a fim de cozinhar queria comer fora. Mas na minha cabeça isso estava errado, eu queria guardar o nosso dinheiro para coisas mais importantes, como férias, emergências, e para qualquer coisa necessária no futuro. Foi complicado esse início de casamento, mas com muita conversa conseguimos ajeitar as coisas.

E para não deixar ninguém curioso demais, para resolver esses pontos, uma das coisas que decidimos foi criar um orçamento para sair e para comer fora.

Prazer próprio:

Eu poderia ter chamado esse ponto de egoísmo, mas acho que prazer próprio descreve melhor o que pretendo abordar.

A ideia aqui é querer gastar apenas com aquelas coisas que eu gosto, independente se meu cônjuge gosta ou não. Talvez vocês não conseguem chegar em um acordo nos sabores de pizza, por isso decidiram que cada um vai pedir a sua com o “seu próprio salário”. Ou não conseguem organizar uma viagem juntos, pois o companheiro não gosta da época que você quer tirar férias, ou prefere outro destino e por isso acabam viajando sozinhos, e cada um pagando sua própria viagem. Poderia dar vários exemplos, mas quando se começa a dividir pequenas coisas, pode ter certeza que com o tempo até para comprar o teu remédio terá que ser com o “seu próprio salário”.

Vejo isso acontecer com pessoas bem próximas a mim, e digo com certeza, o fim disso não é nada agradável. Chega ao ponto do casal apenas dividir a mesma cama, quando divide. Não é mais um casamento e sim uma vida qualquer em que você está dividindo as contas com alguém, e a tendência disso é que logo, logo não irá mais ter relacionamento em nenhuma área.

Ok, mas como resolver tudo isso?

Algumas coisas são mais difíceis de resolver do que outras, como o tema da confiança, não vai ser em um texto qualquer da internet que você irá achar a solução para isso. Mas um bom começo é buscar entender o porquê a confiança entre vocês não está boa, afinal vocês se casaram, então acredito que em algum momento vocês confiavam um no outro, não é? Até por que ninguém seria tonto ao ponto de casar com quem não confia, ou seria?!

Sobre as culturas diferentes e o prazer próprio, a solução é apenas uma: você precisa se sacrificar para buscar um bem comum. E se você está casado com alguém que realmente decidiu te amar, com o tempo essa pessoa irá começar a se sacrificar da mesma forma que você esta fazendo!

Fique de olho nos próximos textos. Esse primeiro foi apenas para trazer alguns princípios que vocês precisa analisar antes de ir para a prática da organização financeira dentro do seu relacionamento. Pois sem resolver esses pontos a prática não irá funcionar.

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