As Startups da Floresta

Pablo Ribeiro
5 min readApr 6, 2017

(English? Click here)

Em março passei uma semana em Alter do Chão e Santarém, cidades que ficam na Floresta Amazônica, no Estado do Pará. Alter foi incrível: lugar lindo e me passou uma energia muito gostosa. Tem uma mistura de turismo ecológico e pessoas querendo viver uma vida mais tranquila e conectada com a natureza. Santarém já é uma média cidade: mais abafada por conta do concreto que se alastra no meio da floresta e tem a estrutura de uma cidade construída em função da rota comercial entre Manaus e Belém, além da exploração de minérios e outros recursos naturais da região. Entre diversos encontros e passeios que fiz por lá, uma conversa permitiu um relance sobre a inovação no norte do Brasil.

Um dos meus interesses era visitar o Projeto Saúde e Alegria (PSA). Não consegui fazer a visita de campo, mas pude falar com o Paulo Lima, um dos coordenadores do projeto, sobre o trabalho de empreendedorismo que eles realizam. É interessante que, inicialmente, o PSA era focado no atendimento de Saúde (no TEDxAmazonia um dos fundadores do projeto conta esta história), mas depois ampliou o escopo para atuar com desenvolvimento territorial, trazendo, assim, mais estrutura e fortalecimento para as comunidades que vivem na floresta e fomentando o empreendedorismo.

Empreender na Amazônia pode ser bem abrangente. Existe oportunidade com a extração (seja na exploração ou buscando meios melhores de fazer isso), com o turismo (comunitário, sustentável, etc.) ou, ainda, com a alimentação e outras coisas inovadoras como o restaurante Casa do Saulo (contei um pouco da história dele aqui). O PSA acaba buscando fomentar a inovação e, ao mesmo tempo, mostrar o empreendedorismo como uma alternativa econômica, para além do trabalho com a extração. Afinal, as mineradoras são as grandes geradoras de emprego na região. Ao acabar o trabalho de extração, que legado deixarão? Por isso o PSA se aliou a outros parceiros, como Sebrae e Aliança Empreendedora, para construir um programa de fomento na região. Foi interessante o Paulo contar um pouco sobre o programa, pois lá é preciso ser diferente do que eu vivencie nos últimos 4 anos na Endeavor. Não cabe pensar em formar uma empresa de bilhão de dólares a partir de uma comunidade na Amazônia, quando ainda há diversos desafios como o acesso a formação/educação, a necessidade de infraestrutura, o mercado e o acesso a capital. Isso não significa que não possa existir inovação ou que não existam problemas para serem resolvidos, mas o processo de fomento precisa dar um passo atrás e começar de um patamar mais básico: a formação de empreendedores e da mão de obra.

O programa tem basicamente 3 fases. A primeira funciona como um hackaton: eles organizam um “Beiradão” de ideias onde trazem diversos desafios para que os participantes, jovens entre 15 e 30 anos, solucionem. Tem até programação em Arduino, testes de habilidade e outras atividades. A segunda fase é educacional: formam 2 a 3 turmas (total de 70 pessoas) e os alunos passam por módulos de ensino. Existe aqui um desafio logístico para levar os jovens de uma comunidade isolada para Santarém. Por outro lado, a mistura entre zona rural com o urbano, ensino técnico com universitário, traz uma pluralidade de ideias que é uma das riquezas dessa iniciativa. Ainda pontualmente ocorre a terceira fase que é uma aceleração junto com a Aliança Empreendedora. O Paulo me contou um pouco sobre algumas das startups que se destacaram por lá.

De um modo geral estas startups são bastante incipientes. O ecossistema empreendedor de lá também não contribui para que surjam novas startups e que elas cresçam. Se tomarmos como referência as cidades mais próximas que foram analisadas no Índice de Cidades Empreendedoras 2016, veremos que, das 32 cidades, Belém e Manaus estão em 26º e 28º lugar respectivamente. A região ainda precisa correr muito atrás, principalmente no desenvolvimento de capital humano e inovação, para que surjam novas e melhores empresas e, consequentemente, gerar impacto social e econômico. A Amazônia tem um enorme potencial para a biotecnologia e outras riquezas naturais, mas enquanto faltar educação, infraestrutura e acesso a capital, o desafio continuará grande para que iniciativas como o PSA resultem em novas e melhores startups. Abaixo, listo 3 exemplos de startups do programa do PSA, que o Paulo me contou. São boas ideias com muito chão pela frente para se consolidarem.

EMBARCAR

http://www.embarcar.net/site/index.php

Embarcar traz informações sobre transporte hidroviário de Santarém e região. Seria como o Decolar dos barcos. Hoje a startup consolida as informações das principais empresas e transportadores independentes, mas o passo seguinte é se consolidar como um marketplace, realizando também as vendas das passagens e ajudando os embarcadores com a sua logística.

Buscar este tipo de informação é muito necessário em uma região onde o transporte hidroviário é bastante utilizado, no entanto encontrá-las ou fazer uma compra é difícil. Não existe nada disponível com confiança na internet e o viajante precisa ficar pulando de barco em barco, nos portos, para pesquisar. Sendo assim, a startup resolve uma dor que atinge tanto o morador local como o turista. O grande desafio deles é encontrar o product fit. Fazer os embarcadores mostrarem as informações e realizarem a venda, cobrando um fee de serviço (do embarcador ou do viajante).

TIPITI

http://www.clubetipiti.com.br/

A Tipiti é um clube de compras de produtos originalmente do Pará. É a Glambox da Amazônia. Com entregas em todo Brasil, você assina e recebe mensalmente um box com produtos sustentáveis da Amazônia. No momento eles estão com um box inicial que incluí cachaça de Jambú (deliciosa!), artesanatos, farinha de tapioca e outras variedades locais.

O modelo de clube de compras já é utilizado por várias startups. Alguns deram muito certo, como a Wine e outros tiveram suas falhas, como a Shoes4You. De todo modo, a iniciativa explora comercialmente produtos regionais que podem ser direcionados tanto para o mercado local como para os demais brasileiros interessados na cultura e nas delicias paraenses.

COCORICO

https://www.facebook.com/cocoricocaipiraoficial/

Delivery de galinha e ovos caipira. Estes alimentos são muito consumidos pelos paraenses da região. Segundo o Paulo, a preferência é até maior do que peixe. A iniciativa faz a produção das galinhas e realiza as vendas pelos canais do Facebook e Whatsapp. Mas me pareceu ainda muito incipiente, com um longo caminho pra se consolidar.

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