Sobre ser o otimista insuportável — e como isso tem transformado a minha vida
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Não me considero uma pessoa fácil de aturar, juro. Escuto aqui e acolá opiniões bem prazerosas sobre minha companhia, mas sei que é complicado lidar com a rotina bem próximo de mim. Ocorre bastante que alguns amigos se distanciem vez ou outra de mim e eu não tenho problema nenhum com isso. Descobri, nesse instante, quando me analisei, que eu era um otimista daqueles insuportáveis.
Acontece que foi um estilo de vida que me acometeu; não que eu escolhi. Sendo muito breve a respeito, te digo que atravessei duas fases depressivas e inúmeras tensões em várias camadas da minha configuração — família, amores, amigos e afins. Logo, o tópico tristeza tá foda, tá okay, tá bom já. Só que priorizar esse item é um pecado dos grandes. Quando você para pra pensar que em algum lugar do planeta alguém tá fazendo algo pela primeira vez, assim como em outro lugar do planeta tem alguém fazendo algo pela última vez…
Você começa a refletir.
Esse incessante decorrer do tempo te coloca pra pensar que os instantes são muito valiosos. É aquilo: você reclama tanto do seu tempo no seu local de trabalho ou da sua preguiça de sair da cama, mas imagina a vontade de viver de um indivíduo doente em estado terminal. Ou de um refugiado de uma guerra. Ou de quem precisa ralar o dia inteiro para dar sustento à família. Pode soar extremismo demais, claro, mas é preciso empurrar os limites do pensamento para encontrar, nas entrelinhas, um equilíbrio para esse conhecimento. Essa hipervalorização do tempo que há por aí, de ser afoito e ansioso a todo momento, também não é o caminho. A resposta está ali no meio.
É preciso contrabalancear os sabores e dissabores dessa jornada — seja ela uma manhã, um dia, uma semana, um mês ou, talvez, um ano ruim só porque você não conseguiu atingir os objetivos que tinha traçado no ano anterior. Eu parei pra contrabalancear e… Fui lá e agi.
Descobri, em 2014, que eu precisava abandonar a configuração da minha antiga carreira. Senti que seria mais feliz traçando um novo caminho. Deixei meu currículo para trás, assim como o trabalho como jornalista e o modelo de bate-cartão. Na minha particular busca por autoconhecimento, me idealizava mais feliz atuando com espontaneidade, trabalhando diretamente com felicidade e, ao meu grau, transmitindo a melhor das energias para quem quisesse receber e manter a roda do bem girando. Deixei de ser um estrangeiro para mim mesmo; me redescobri.
Quem avalia rapidamente meu perfil de Facebook consegue dizer: “Ih, esse cara tem uns posts otimistas”. E não é só nos meios virtuais. Eu sou o que sou no mundo físico também. Por fofoca alheia, descobri um dia que isso incomodava demais algumas pessoas. Melhor: deixava muita gente puta e enjoada de mim. A opção de me importar nunca existiu, mas é válido avaliar porque nego não se permite um pouco de carinho.
Reclamam do chefe que é um escroto; do coleguinha que é ranzinza; do político maléfico; da situação financeira que tem; da instabilidade amorosa; do lugar que vive; e por aí vai. Mas sequer fazem um pingo de bondade pelo outro, o próximo ou o anônimo. Aí é fácil, né, miguinho? Fazer o bem pra si é tranquilo, suave. Um Netflix e alguns comes e bebes resolvem. Agora, promover o bem (sem ver a quem) e extrair o melhor e mais romântico dos eventos diários é que é puxado. Não que eu o faça TODOS OS DIAS, até porque tenho muitos momentos introspectivos e de mau humor. Afinal, vivemos num mundo que pode ser duro e gélido. Mas tentar transformá-lo de dentro pra fora é um exercício brabo que dá certo. Te traz coisas mais puras, mais simbólicas e mais essenciais para viver a jornada. Se você se sente bem, ótimo. Agora faça outro sentir o mesmo. Depois, outros. É como uma frase que li uma vez: “Somos como peças de dominós. Qual reação em cadeia você vai desencadear HOJE?”
O que eu quero dizer é: você faz o seu entorno.
Esse lance de ser otimista é insuportável pra alguns. Para mim, foi transformador. Primeiro, porque eu pude abaixar o volume das minhas amarguras e, segundo, porque eu elevei o volume da minha personalidade. Comecei, por fim, a valorizar minha solidão, meu silêncio, minha calmaria, tal qual minha euforia, minha alegria, minhas companhias.
Pressionei os limites da minha experiência. As oito horas ou mais de escritório não foram mais vistas da mesma maneira, assim como a tempestade que cai quando estou sem guarda-chuva, ou quando o celular quebra, ou quando pego um elevador com estranhos numa terça-feira aleatória e cinzenta. Nada mais foi o mesmo porque eu atribuí um status de preciosidade aos instantes que encontro, entende?
Estamos de passagem por aqui. Somos todos transitórios. Você realmente vai gastar os preciosos minutos da sua vida serem gastos com pessimismo, ódio e rancor diante das adversidades — um relacionamento com um amigo, o flerte, um TCC, uma conta pra pagar, um favorzinho pra sua avó? É assim que você conduzir seus dias até o momento do último piscar? A vida não deve ser só isso, amigo. Bondade, carisma, empatia, comunicação, fluidez e serenidade.
Se minha luz se apagasse neste instante, pode ter certeza de que eu iria grato pelo que o otimismo trouxe. Ver beleza no ordinário; transformar o pequeno em extraordinário.
Eu iria feliz.