PALANQUE DO MARVETE: A Aliterada Apoteótica Apresentação!

Da motivação e da proposta de leitura, de estudo e de discussão acerca de tudo o que se refere ao Universo Marvel, a partir de Fantastic Four #1, de 1961

Palanque do Marvete
4 min readMay 15, 2022

Foi em abril de 1983, na edição 46 da revista “Heróis da TV”, da editora Abril, uma das primeiras vezes em que o termo “Marvete” foi usado no Brasil. Naquela época, bem antes das redes sociais, era por meio de muitas cartas enviadas à editora que os leitores tiravam suas dúvidas e discutiam sobre as histórias e os super-heróis que acompanhavam fielmente.

Capa de “Heróis da TV” #46, publicada pela Editora Abril em abril de 1983.

Devido ao engajamento destes leitores, os editores da Abril acharam por bem criar a versão brasileira dos “True Believers” de Stan Lee, criando, assim, uma sensação de pertencimento mais forte. Então, na seção de cartas da revista citada, diversos nomes foram reunidos para um agradecimento coletivo aos “Supermarvetes do mês”. A partir daquele momento, todo aquele que cria de verdade passaria a ser considerado um Marvete.

Os primeiros “supermarvetes do mês” com seus nomes elencados na seção de cartas da revista “Heróis da TV” #46 de abril de 1983.

Muito tempo se passou desde aquela primeira vez. Posteriormente, por conta de uma rixa com os leitores da Distinta Concorrência, a palavra “marvete” passou a ser utilizada em tom pejorativo também. Não é incomum ver por aí, entre a comunidade de leitores de gibis, chamarem alguém de “marvete” com a finalidade de incluir esse alguém numa subclasse de leitores de histórias em quadrinhos. Ultimamente, observa-se o uso do termo para diferenciar alguém que acompanha os gibis daquele que acompanha apenas os filmes da Marvel Studios, os “MCUOnly”. Tudo isso é uma tremenda bobagem. Me atenho à intenção original com a qual a palavra foi cunhada — sensação de pertencimento para os verdadeiros crentes.

Dito isto, me considero um Marvete. Porque acompanho fielmente as histórias destes super-heróis e gosto de desvendá-los e de discuti-los. Penso que seja interessante, para mais da diversão que é folhear as páginas coloridas dos gibis, analisar os detalhes da construção dessas histórias. Perceber os estilos e apontar conceitos e ideias passados pelos autores. Conhecer esses autores por meio de suas obras. Fazer isso sem estar desprendido da realidade, atentando ao contexto sociopolítico e cultural no qual o Universo Marvel foi e é elaborado. Além da leitura apaixonada das aventuras dos heróis fantasiados, uma leitura crítica. E é aqui que dividirei os meus comentários. Este será o meu palanque.

Por que um palanque?! Bom, em junho de 1967, na página chamada “Marvel Bullpen Bulletins”, presente nos diversos gibis americanos da Marvel para expor as correspondências e o checklist mensal, Stan Lee deu início ao “Stan’s Soapbox!”. Esta era uma coluna na qual Lee tratava com os leitores alguns tópicos que julgava relevantes, sendo a “Filosofia Marvel” o primeiro deles.

“O que vocês estão tentando fazer realmente em suas revistas? Qual mensagem vocês estão passando? Todas as séries da Marvel são apenas encenação ou vocês estão tentando nos dizer algo? Vocês realmente estão falando sério sobre seus personagens — vocês realmente acreditam neles? Etc.” — Stan Lee

A página do “Marvel Bullpen Bulletins”, na qual a coluna de Stan Lee, a “Stan’s Soapbox!”, teve sua estreia, em junho de 1967.

Em cima de sua caixa de sabão imaginária em forma de coluna impressa numa página amarela, sobre o seu palanque, Stan Lee definiu a “Filosofia Marvel” não apenas como entretenimento (do cujo a melhor fórmula foi encontrada pelos roteiristas, desenhistas, arte-finalistas, letristas e pelos demais loucos da Casa das Ideias), mas também como uma forma de promover a causa do intelectualismo, do humanitarismo e da compreensão mútua. Nos “Palanques do Stan” seguintes, o roteirista e editor não se furtou de debater e de exprimir opiniões, tratando de assuntos pertinentes à sociedade naquelas conjunturas, os quais ultrapassavam o mero entretenimento. Em um aceno a tudo isso, assumo o meu próprio palanque.

Compartilharei aqui a minha leitura em ordem cronológica do Universo Marvel (com base na Complete Marvel Reading Order Complete Marvel Reading Order de Travis Starnes), focando no essencial do core, a partir de “Fantastic Four” #1, de 1961, até… A definir. Cobrir esses estágios iniciais, os títulos basilares que estabeleceram a coesão desse universo dos quadrinhos já é um desafio por si só. Os anos 60, com Lee, Jack Kirby, Steve Ditko, Don Heck e tantos outros artistas, foram tempos explosivos de ideias. Há muito a ser visto, analisado e discutido acerca da Era de Prata da Marvel Comics, de estrutura, caracterização e representação.

É tudo culturalmente relevante demais para não receber atenção atualmente. Com o sucesso no cinema e na televisão (o qual também devo abordar por vezes, afinal, meu dedo coça pra escrever sobre tudo o que é lançado), a cativante e envolvente construção inicial desses super-heróis, de seus super-coadjuvantes e de seus super-vilões deve ser redescoberta.

Convido você a me acompanhar nessa desafiadora missão, a qual vou cumprir de maneira confortável, em um ritmo nada alucinante, passando por cada edição, cada página e cada painel, para não perder absolutamente nada! Abrace a sensação de pertencimento! Bem-vindo ao Palanque do Marvete!

Excelsior!

Ícaro Rodrigues

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Palanque do Marvete

Página dedicada ao estudo e à discussão acerca de tudo o que se refere ao Universo Marvel, a partir de “Fantastic Four” #1, de 1961. Por Ícaro Rodrigues.