Reign of the Seven Spellblades, vol.1

Patotilhas do Vini
7 min readMar 29, 2023

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(Yen Press, volume 1 de 11 [em andamento], publicado em 2018, traduzido em 2020 por Alex Keller-Nelson)

Pelo amor de deus esse livro tem de tudo.

“Seven Spellblades” era uma novel que estava no meu radar tem bastante tempo, pois, desde que saiu, vi muitos e muitos comentários positivos sobre ela. Vou falar mais a fundo deles ao descorrer do textão, mas era algo que me chamava atenção por parecer bem próximo da minha praia: É um harém escolar mágico genérico, tem boa arte, e agora que o anime foi anunciado, eu precisava começar a ler antes dele começar.

Pois bem.

Estou quase em prantos com o quão bem-feito esse livro é. Um exemplo quase perfeito de harém escolar mágico genérico. Ele tem tudo que o gênero precisa e que me faz gostar dele, e faz isso tudo com excelência: O protagonista que parece medíocre mas é OP; os aspectos harém; a ambientação escolar genérica; a magia; a comédia com bom timing; a quantidade absurdamente alta de nomes aleatórios para magias que não são explicadas em momento algum; a história do culto malvado secreto; o chuuni e o massavéio…

Um dos comentários mais comuns que eu li era o quão “parecido com Harry Potter” a série era. Olhando para a sinopse e os uniformes deles, eu até imaginava que seria o caso… Mas que o pessoal estava exagerando um pouco, tanto para causar efeito na fala, quanto por estar tentando “tapar o buraco emocional” deixado por HP, agora que muitos estão tentando se distanciar da fraquia por conta da autora e suas visões políticas horríveis.

Mas nossa, não. Realmente. O bagulho é MUITO parecido com Harry Potter mesmo. Dá pra perceber claramente as fortes inspirações, especialmente quando se tratando da Academia Kimberly, que é basicamente uma versão weeb de Hogwarts. A estruturação escolar, as coisas “mágicas” da academia, a geografia e arquitetura, até o corpo docente.

A melhor parte, porém, é que mesmo com tanta inspiração em Hogwarts e Harry Potter, o autor (Bokuto Uno, que também escreveu “Alderamin on the Sky”) não fica apenas nisso. Ele expande o mundo dele além de uma cópia de HP, acrescenta novos elementos que tornam o ambiente mais interessante e mostram que embora ele tenha a intenção de fazer algo parecido, ele pensou o suficiente em como torná-lo diferente o bastante.

Por exemplo, toda a questão dos magos desse mundo usarem espadas é algo relativamente simples, mas que é apresentado e explicado de forma muito eficiente e que gera uma narrativa muito legal de se ler. A ideia da “Zona de um passo, um feitiço” é a melhor adição que as espadas trouxeram para um mundo “de Harry Potter” onde tudo acontece com fagulhas voadoras. Apenas para dar um exemplo de “expansão”.

Eu gostei bastante do elenco de personagens. Temos seis “protagonistas”, mas nesse primeiro volume, já estabelecemos relativamente bem os graus de importância deles. Vou simplesmente dizer o que eu achei deles:

A Nanao é a minha personagem favorita de longe. Não tem nem comparação. Ela é divertidíssima, e eu, que adoro personagens burros que fazem coisas bestas por falta de noção, não poderia deixar de amá-la. Mesmo ela sendo a “Samurai esteriótipo”, ela é um raiozinho de sol perfeito e que nunca fez nada de errado e que merece o mundo.

Daí eu botaria o Oliver e a Chela como segundo lugar. Eles são os dois que “entendem” o que está acontecendo, e isso faz com que boa parte do livro acabe focando neles dois, para explicar as situações. Mas acho que toda a questão da “comédia mágica” que os dois referenciam com frequência é a parte mais divertida deles.

A Katie me deixou puto por 90% da história. Ela é aquela personagem INSUPORTÁVEL que não só foi feita para ser apenas um plot device, como também acumulou todos os esteriótipos que eu detesto. O livro inteiro aconteceu só por causa da Katie sendo mala. Mas o final do volume me fez mudar de opinião, e acredito que ela ser mala é proposital: Ela é mala, mas ela é mala por uma boa causa. E isso é especialmente importante nesse mundo onde tudo é distorcido e intrinsecamente maligno. Ela seria “mala” para os nossos padrões, mas para os padrões do mundo onde ela vive, ela é apenas alguém que luta por algo melhor. É um pouco de ar fresco no cenário de LNs, onde temos tantos “isekais onde eu tenho uma moral e ética superior mas sucumbo aos óbvios problemas do mundo novo e compro uma escrava”.

O Guy é muito legal mas claramente o “amigo alívio cômico”, e eu quase esqueci que o Pete existe.

Já que comecei a falar disso com a Katie, uma coisa: Puta merda. Esse mundo de “Seven Spellblades” é um mundo BÁRBARO. Completamente insano e cruel. Só coisas e pessoas ruins. Fica EXTREMAMENTE CLARO a intenção do autor de fazer um mundo “sombrio”, em que pessoas “genuinamente gentis” como a Katie são não só uma raridade, como uma anomalia.

Mas o que me deixa mais surpreso com isso é que a apresentação da crueldade do mundo foi feita de uma forma que não pareceu “Edgy”. Ou, ao menos, não muito. É fácil acabar caindo em território edgylord quando se tenta fazer coisas sombrias, e em alguns momentos isso acontece aqui também, não nego, mas… Por ser algo que foi espalhado ao longo de todo o volume (e acredito que será ao longo de toda a série), e foi intercalado com momentos e personagens mais “humanos” (como a própria Katie), não soou TÃO Edgy.

Mas, acima de tudo, essa construção de mundo fez com que o final desse volume ficasse AINDA MELHOR. Totalmente não vou falar absolutamente nada para evitar spoilers mas PUTA MERDA. Incrível ferramenta narrativa e de construção de personagens.

Isso me liga a um outro comentário que vi ser feito sobre a novel: Que ela não “parecia” ser uma Light Novel. No sentido de que a sua escrita era algo que parecia ter sido feita com “a história inteira” em mente, e que a divisão em volumes veio depois, enquanto a maioria das LNs tem histórias bem mais “em blocos”, justamente por conta dos volumes. E bem… eu concordo em parte. Realmente, esse primeiro volume me fez sentir muito mais engajado e com vontade de ler mais do que o volume médio de LN, justamente por ter essa pegada de continuidade. O volume 1 acabou mas não tivemos um “encerramento”, um “fim de volume”. Pareceu mais o fim de um capítulo. Porém, não concordo completamente com a ideia de que não há “divisão de volumes”, pois claramente existe. Mas que é algo bem mais sutil que em outros títulos, isso é.

O livro é muito bem escrito, e a tradução ficou ótima. Leitura super fluida e as personagens tiveram bastante personalidade. Nesse quesito, não tenho reclamações.

Eu tenho apenas duas reclamações sobre o volume como um todo:
O primeiro é que os capítulos são absurdamente gigantes, puta merda. Quando vi que o livro era grande (quase 300 páginas) e que tinha SÓ quatro capítulos, já me assustei. Mas putz. O capítulo 2 tem CENTO E VINTE PÁGINAS. Ele é enorme de um jeito que me faz perder totalmente a noção do tempo. É foda quando o capítulo chama “Sword Arts”, e ele cobre não apenas a aula de Sword Arts, como também OUTROS 8 ASSUNTOS. Dava facilmente pra dividir esse livro em uns 10 capítulos, o que deixaria cada divisão e cada evento um pouco mais “especiais”. Aconteceram tantas coisas no cap.2 que eu precisaria voltar pra conferir tudo.

A segunda reclamação é que eu achei a revelação do “vilão do volume” um pouco fraca. Certamente não posso dizer que foi “inconsistente”, pois todas as pistas que foram fornecidas fazem sentido e se conectam à revelação, mas… De novo, aconteceram tantas coisas nesse volume e muitas delas estavam totalmente não-relacionadas com o “vilão do volume”, que quando chegamos na revelação, ela pareceu um pouco rasa. Gostaria de um pouco mais de desenvolvimento e de “pistas” para o vilão do volume daqui pra frente.

Mas, de certo modo, isso acaba sendo algo que talvez seja programado, pela mesma lógica de falarmos que o livro não é muito “light novel” por ser menos “volumístico”. Mas sei lá.

Por fim: Puta merda como esse livro é chuuni. Ele é extremamente “over-the-top” de um jeito que ultrapassa qualquer barreira de “cringe” e se torna apenas… massavéio. Você tem que gostar de coisas exageradas e espalhafatosas para curtir, pois “Seven Spellblades” pega PESADÍSSIMO no chuuni. Eu amei, e fiquei gritando “SIIIIIIIIIM VAMOOOOOOOOOOOOOO HAHAHAHAHA” por boa parte da leitura.

Então é. Eu amei o primeiro volume, e vou com certeza ir atrás de ler os outros. Que leitura divertida. É um pouco pesada, com vocabulário complicado, um universo cruel e personagens arrombadas fazendo coisas arrombadas, então sei que não é pra todo mundo. Mas… Pra quem gosta, é um dos melhores haréns escolares mágicos genéricos que eu já consumi.

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Patotilhas do Vini

Blogueirinho de buteco. Escrevo seriamente pra Torre de Vigilância, sobre animês e cultura japonesa no geral. Aqui, são as coisas que o RH não liberou pra lá.